Diário dos Açores

Os 2%

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O deputado independente Carlos Furtado levantou esta semana uma questão pertinente: que sustentabilidade pode ter uma governação dependente de dois partidos que não chegam a 2%?
O parlamentar considera que é “inviável” governar nestas condições, “refém de minorias” e de “dois deputados”.
De facto, o que assistimos nos últimos dias por parte do Chega e do IL, exigindo do governo a aprovação de propostas bastante polémicas em troca do voto dos dois deputados em sede de Orçamento Regional, é um exagero político com consequências negativas para todos os partidos da coligação, incluindo os dois mais pequenos.
A proposta dos 1.500 euros para gastar nas farmácias é mesmo tonta e uma autêntica cedência ao Chega.
Este extremismo, tolerado pacientemente por Bolieiro, vai aumentar de tom à medida que nos aproximamos das eleições, numa estratégia desesperada para os mais pequenos segurarem os seus eleitorados.
Se o Chega e o IL estivessem “colados” incondicionalmente à coligação, seriam “engolidos” no próximo acto eleitoral, na medida em que os seus eleitores certamente iriam preferir votar na coligação, “porque estão todos em sintonia”.
Ora, a única alternativa dos dois partidos afirmarem a sua autonomia junto do seu eleitorado é criar a sensação de que têm um caminho próprio, que não estão sempre de acordo com a coligação e que conseguem visibilidade política com as propostas que o deputado independente classifica de “chantagistas”.
No fundo, a estratégia de ambos é afirmarem-se como a “voz crítica” da coligação, criando o seu próprio espaço e tentando segurar os seus eleitores.
Se estivessem todos de acordo, como reagiria um eleitor dos dois partidos? “Bom, se são todos iguais então é mais seguro votar na coligação, que tem mais hipóteses de ganhar”.
É uma estratégia arriscada, porque ao extremar posições poderão obter uma resposta diferente dos eleitores, sobretudo se as propostas “chantagistas” não forem consistentes e o eleitorado as considerar “uma idiotice”, como disse o deputado independente.
Presumo que na discussão deste Orçamento para 2023 vamos continuar a assistir a este endurecer de posições, mas nenhum deles terá a ousadia de reprovar o documento e provocar eleições antecipadas.
No próximo ano sim, quando faltar apenas um orçamento e alguns meses para novo acto eleitoral, então serão os próprios três maiores partidos da coligação que poderão jogar uma cartada, provavelmente também arriscada, mas decisiva para captar mais eleitorado, rompendo com os dois pequenos e ficando a aguardar que um deles, ou os dois, tomem a iniciativa de provocar eleições antecipadas.
Até lá, vamos continuar a assistir a este jogo desgastante, mas também de muita paciência.

O papel da oposição

Enquanto a coligação anda nestes “jogos florais”, a desgastar-se a si própria, o PS anda a desbaratar o seu capital enquanto oposição.
Desde que Vasco Cordeiro assumiu o cargo de Presidente do Comité das Regiões, ocupando-se dos temas europeus em Bruxelas, o PS ficou entregue a rapazes, com posições públicas fora da realidade, sem propostas, rostos cansados e sem credibilidade, fazendo o mesmo papel, errado, que o PSD fazia quando estava na oposição.
O prestígio que Vasco Cordeiro tenta ganhar lá fora corre o risco de ser desbaratado cá dentro se não tiver mão no partido e melhorar a qualidade das intervenções de alguns dos seus dirigentes.
Agora percebem, apesar de tudo, a falta que faz Francisco César?

Osvaldo Cabral
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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