Diário dos Açores

O caqui colonial do bastonário

Previous Article Previous Article Câmara Municipal de Ponta Delgada dá as boas-vindas a estudantes do programa Erasmus+
Next Article BE chama Administração da EDA ao Parlamento BE chama Administração da EDA ao Parlamento

O ainda bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que termina nos próximos meses o seu mandato, chega ao hoje aos Açores para realizar mais uma visita proconsular ao território açoriano.
Os mandatos de Miguel Guimarães à frente da Ordem dos Médicos constituíram uma autêntica catástrofe. O bastonário transformou a Ordem numa espécie de sindicato caótico de reclamações e de ingerências sectárias. Naquilo que lhe competia fazer – no que era necessário fazer – Miguel Guimarães revelou-se uma autêntica nulidade.
Protegeu as condições de trabalho dos médicos? É claro que não! Fez alguma coisa de jeito na área da formação e da qualificação médica, que é estratégica para a revalorização da profissão? O seu desempenho nesta área foi, como se sabe, uma desgraça. Destacou-se pela qualidade das suas intervenções em defesa de um Serviço Nacional de Saúde público e universal? O que se conhece, neste âmbito, é uma anárquica coleçãode intervenções irrelevantes, pouco pensadas, que em nada o distinguiram do elemento mais exaltado da turba. Em conclusão, um desastre sem paliativos.
Sem ideias, sem causas claras e sem projeto, Miguel Guimarães começou a ser visto, pelos diversos poderes públicos, como uma espécie de franco-atirador anárquico, perdido na selva da irrelevância e da confusão cognitiva. Atirou-se a tudo e atodos, envolvendo-se e envolvendo a Ordem em questiúnculas partidárias lamentáveis. Perdeu e fez perder à Ordem o prestígio adquirido ao longo de muitas décadas.
Nunca a independência, o prestígio e a preparação da Ordem dos Médicos foi tão necessária como nesta época de rutura das urgências, do colapso do SNS e da enorme desvalorização salarial dos médicos, em especial dos mais jovens. Onde esteve Miguel Guimarães nestas horas difíceis? Esteve entretido em participações televisivas esporádicas, nas quais revelou sempre um enorme vazio de ideias e de projeto.
A sua última “lembrança” foi o apoio que decidiu dar ao novo Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, com estas sábias apreciações: “Manuel Pizarro é médico e é político, o que é importante. Tem peso específico para poder, no Conselho de Ministros, dizer aquilo que quer, que é uma coisa importante. Um ministro da Saúde tem que defender a Saúde. Isso faz parte das regras dentro do próprio Conselho de Ministros”. E assim se compromete e se diminuiu a tradicional independência e isenção da Ordem dos Médicos, tudo porque o Pizarro é “um gajo porreiro e vai mandar umas bocas no Conselho de Ministros”.Trata-se, como é óbvio, de uma apreciação e reflexãonão muito diferente do conjunto dos argumentos normalmente apresentados nas concorridas tertúlias das melhores tabernas regionais.
Talvez devido à irrelevância a que é votado por todos no território continental, Miguel Guimarãesassume, nos Açores, a majestática figura de procônsul colonial. Chega-nos sempre de caqui colonial, conduzido e arrebanhado, para quezílias inconsequentes e miseráveis, por esse símbolo e referência de produtividade infatigável que é a Presidente da Ordem dos Médicos nos Açores.
Envolvido na púrpura do poder imperial, Miguel Guimarães intromete-se, nos Açores, em questões para os quais não tem competência e em que, como se viu ao longo destes seis anos, nada tem a dizer ou a acrescentarcom um mínimo de racionalidade e de qualidade.
Considero que os poderes públicos nos Açores não devem tolerar tiques colonialistas de ninguém nos Açores. Devem, pelo contrário, exigir uma conduta que respeite as competências próprias dos órgãos de governo próprio dos Açores e da autonomia de todas as instituições açorianas. A saúde não é exceção e Miguel Guimarães, que é useiro e vezeiro no desrespeito à Autonomia Açoriana, tem de interiorizar que esse género de comportamento não será tolerado.

Paulo Estêvão *

Share

Print

Theme picker