“Tenho passado os últimos 14 meses a viajar e a viver em diferentes países.”
Diário dos Açores

“Tenho passado os últimos 14 meses a viajar e a viver em diferentes países.”

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Almejar novas conquistas foi o ponto de partida para Brian Matos que viu na sua paixão de viajar uma nova oportunidade de concretização profissional

Brian Matos, foi um dos muitos jovens que optou por emigrar à procura de novos desafios e conquistar novos sonhos.
Ao finalizar os seus estudos acabou por ingressar na área da aviação e segurança portuário, uma das suas maiores paixões. Porém, é graças a um amigo e a uma proposta de trabalho em outro país que Brian vê uma nova forma de relizar novos “voos”.
Actualmente, detém um perfil direccionado para as suas viagens, umas das suas maiores paixões, onde retrata e dá a conhecer um pouco dos locais por onde passa, que já ultrapassa mais de 40 países.
O Diário dos Açores, esteve à conversa com o Brian de modo a perceber que desafios e perspectivas o mesmo tem para um futuro próximo.

Fale-nos um pouco de si. Como começou o seu percurso?
Chamo-me Brian Matos e nesse momento tenho 34 anos, nasci na Bermuda e acabei por mudar-me para os Açores com 4 anos de idade. Cresci e vivi em São Miguel até sensivelmente 2017.
Após finalizar os meus estudos ingressei na vida aeroportuária porque sempre tive um grande fascínio por aviação e segurança aeroportuária.
Embora tenham surgido algumas oportunidades para trabalhar a bordo, os mesmos eram contratos sem estabilidade e acabei por ficar na segurança aeroportuária. Esse sector quando comecei, era completamente diferente do que é na actualidade, pois havia muito rigor e exigência. Recordo-me que não obstante, que quando trabalharmos em Portugal, toda a formação, recertificações e as auditorias eram feitas igualmente em inglês.
Infelizmente, como actualmente é tudo uma questão de custo, começou-se a descurar um pouco o rigor, a oferecer-se condições piores, e a pensar unicamente em margens de lucro abrindo concursos para qualquer empresa de segurança privada.
Pouco tempo depois consegui ficar nos quadros da empresa e fui convidado para ser supervisor, exercendo essa função durante alguns anos até ter decidido mudar de vida.

Sempre desejou emigrar?
Como disse anteriormente a falta de rigor e ou desorganização aliada ao meu espírito aventureiro e viajante fez-me decidir mudar de rumo.
Um antigo gestor e grande amigo de longa data, diria até uma das pessoas com mais “bagagem” que há no âmbito da aviação, pois até então havia exercido funções de gestão aeroportuária em Portugal, Reino Unido, Países Baixos, África e Tailândia, falou-me de uma possível oferta de emprego no Médio Oriente como contractor. Ele fora contratado inicialmente como auditor, para prestar serviços para a Nato em bases aéreas no Médio Oriente e havia uma procura de operadores de raio x, segurança, consultores e supervisores.
Embora o processo de selecção resulta-se moroso, pois havia muita burocracia e muita exigência, como o da obtenção de uma Nato security clearance, que por vezes poderia demorar até 6 meses para obter, concorri, pois não tinha nada a perder e tratei de tudo conforme foi-me sendo solicitado.
Porém, independentemente de ser aceite ou não, tinha tomado a decisão de não permanecer a trabalhar mais em São Miguel. A minha outra opção seria regressar ao meu país de origem, e trabalhar por lá.
Em que contexto surgiu a oportunidade de ir viver no Afeganistão?
Após 3 ou 4 meses, recebi o meu  contrato, e a primeira oferta seria para Kandahar, a cidade berço dos Taliban, no Afeganistão.
Era um contrato muito satisfatório, com uma remuneração 6 vezes superior, com 3 meses de férias anuais, tax free (livre de impostos), e despesas de alojamento e alimentação inclusas. Nem pensei duas vezes, e aceitei.
 Fui contratado como Airport security advisor, basicamente processávamos voos civis e voos militares. Nos voos civis havia uma empresa designada para tratar de todo o processo de check in e segurança e eu prestava auxílio e supervisionava toda a operação de forma a garantir que todos os procedimentos eram feitos de acordo com a legislação local e internacional.
Para cada voo, havia procedimentos específicos, mesmo com os voos militares, mediante o tipo de operação, ou destino, teriam que comprar com uma legislação específica.
Fiquei em Kandahar cerca de 3 anos, e despedi-me aquando do surgimento do Covid, porque precisava de uma pausa e de tempo para mim.
Após 6 meses, recebi uma nova proposta, neste caso  para Kabul, a capital do Afeganistão para ajudar a encerrar o capítulo dos EUA nesse país. Não gostei muito dessa experiência, uma vez que ainda se sentia influência da pandemia, com muita limitação de welfare e sem mencionar que seria um trabalho com muitos mais riscos, porque estávamos na linha da frente com as forças da NATO a rastrear a entrada diária de centenas de afegãs e de veículos, onde todos os dias havia eminência de explosões.
Fiquei por 6 ou 7 meses e demiti-me antevendo a situação que todos nós vimos, que foi a saída à pressa dos americanos após uma invasão completa dos talibãs.

Como foi a sua adaptação a um novo país?
A adaptação ao país, foi fácil, uma vez que a equipa para a qual foi trabalhar era composta por 9 pessoas, nomeadamente ingleses, americanos, uma chinesa, e macedónios. O Dubai era o nosso HUB (plataforma giratória de voos), daí eu passar tanto tempo por lá, que era quase como a minha segunda casa.
A cada 3 meses tínhamos férias, ou seja, por cada 3 meses de trabalho, tínhamos um mês de férias e eu raramente usava as férias para ir a Portugal, então aproveitei o mais que pude para conhecer muitos países, e passar mais tempo no sudoeste asiático.
Contudo, também existiram aspectos menos bons, como a limitação por vezes, de alguns bens específicos que só poderia obter por encomenda ou quando fosse de férias.
Outro ponto negativo assentava, nas ocasiões em que surgiam ataques dos talibãs quer fosse por aproximação à base ou pelo lançamento constante de Rockets.

Quais as principais diferenças culturais aquando da sua mudança?
Em termos culturais, não notei grande diferença porque a nossa vida era basicamente dentro de uma base.
Em Kandahar, chegou a estar 40 mil pessoas a viver, enquanto que na minha chegada éramos cerca de 10 mil. Basicamente eram quase todos expats (expatriados), o contacto com os locais era mínimo e pela constante exposição deles, quase que nem se notava diferenças.
A população na base era constituída por expats especializados americanos e membros da Nato. Serviços secundários como limpeza, cozinheiros, construtores, eram realizados por países como Índia, Uganda e Quénia pelo custo da mão-de-obra.
Só para terem uma ideia, a minha base de 10 mil pessoas tinha um custo diário de manutenção de 1,5 milhões dólares.

Tem tido a oportunidade de conhecer vários países e neste momento detém um perfil vocacionado para as viagens. Como tem sido o feedback?
Desde que terminei esse capítulo, recebi outras ofertas, nomeadamente Iraque e Somália, mas nada que me convencesse aceitar. Tenho passado os últimos 14 meses a viajar e a viver em diferentes países. Investi um pouco nas redes sociais, e tenho usado essa via para promover o meu estilo de vida e experiências, de forma a motivar ou até ajudar outras pessoas com dicas ou conselhos.
Tenho feito algum trabalho de marketing digital e recebido algumas ofertas de forma a promover alguns espaços como hotéis, restaurantes ou marcas. Esse ano passei 3 meses no Brasil e actualmente estou a viver na Tailândia.
Agora que as restrições são quase nulas, pretendo passar menos tempo nos países, e conhecer mais alguns.
De momento já conheci mais de 40 países, e gostaria de viver em Singapura, se houvesse alguma oportunidade de emprego nesse sentido.

Tenciona regressar aos Açores de forma permanente?
Gosto muito dos Açores, mas não consigo imaginar-me a viver por lá.
Acho que os Açores estão a perder um pouco a sua identidade com a massificação do turismo. As condições climáticas são também algo que me deixa um pouco frustrado, e de momento só tenho lá o meu pai e alguns amigos.
Para já, os Açores só de visita.

Por Ana Catarina Rosa *
*jornal@diariodosacores.pt

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