Adolfo Mendonça Atelier
Diário dos Açores

Adolfo Mendonça Atelier

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O mar dos Açores, desde cedo serviu de inspiração para poetas e sonhadores, hoje o mesmo inspira e reflecte-se nas peças contemporâneas de Adolfo Mendonça que encantam pela sua singularidade

A paixão pelas artes prevaleceu desde tenra idade em Adolfo Mendonça. Natural da ilha Terceira, é actualmente detentor de um atelier onde a cerâmica é a principal estrela do seu trabalho.
É em 2017, aquando do seu retorna à sua terra natal, após finalização da licenciatura em Design de Equipamentos na Faculdade de Belas-Artes em Lisboa, que nasce o espaço Adolfo Mendonça Atelier. A garagem da sua casa é convertia e adaptada no seu novo espaço de trabalho, local este onde a inspiração desenrola-se e adquire um novo conceito nas mãos deste artesão, que para além de peças contemporâneas e sustentáveis inspiradas na riqueza do mar dos Açores, apresenta uma colecção natalícia que encanta e preenche muitos lares açorianos.
O Diário dos Açores esteve à conversa com o jovem artesão para perceber um pouco sobre o seu trabalho e o que mesmo representa para si.

Fale-nos um pouco sobre si.
O meu nome é Adolfo, tenho 29 anos, nasci e cresci na ilha Terceira. Desde novo tenho uma forte ligação pelas artes através do meu avô que era fotógrafo amador e a da minha mãe que sempre gostou de trabalhos manuais. Sempre gostei de desenhar e ao longo da minha infância e adolescência fui explorando outras áreas como a pintura a acrílico, a óleo e de seguida a fotografia.
O meu interesse pelo design de interiores e a arquitectura foi crescendo durante o meu secundário e ao pesquisar por cursos superiores, sugeriram-me o Design de Equipamento e conclui que seria a escolha que mais se adequava ao que queria fazer.

Como surgiu a paixão pela cerâmica?
A cerâmica surgiu durante a minha licenciatura em Belas Artes. Tive imensas bases teóricas de design e de desenvolvimento de um produto, mas o meu fascínio por criar com as minhas próprias mãos fez com que me inscrevesse em diversas cadeiras optativas mais práticas como por exemplo o mosaico, tapeçaria, produção gráfica e por fim a cerâmica.
Com a cerâmica apercebi-me que tinha a oportunidade de unir os dois mundos, a Cerâmica e o Design. As primeiras aulas fascinaram-me e motivaram a explorar e aprofundar os meus conhecimentos nesse âmbito.

 Que tipos de material utiliza nos seus trabalhos? Em que consiste a linha técnica utilizada nos mesmos?
 Neste momento, para o desenvolvimento e elaboração do meu trabalho utilizo faiança portuguesa, é um material mais plástico e adequado para criar os elementos minuciosos como os pequenos ecossistemas marinhos que representam a minha colecção.
Procuro explorar diversas técnicas artesanais para a elaboração das peças como por exemplo a técnica das lastras para e criação das bases como pratos, jarras e taças onde são aplicados corais e cracas, modelados um a um para então compor os pequenos recifes. Utilizo também o molde de gesso para recriar de forma bastante real elementos marinhos como conchas, lapas e ouriços-do-mar.
 
O que o inspira para a criação dos seus trabalhos?
O mar é o elemento mais presente no meu trabalho, quem vive numa ilha sente constantemente a presença do mar que para mim é a minha fonte de tranquilidade e principalmente de inspiração.
Desde novo que tenho um fascínio pela vida marinha, sempre gostei de mergulhar e experienciar a vida de baixo de água como se fosse meu habitar natural. Colecciono objectos naturais que apanho no fundo do mar, claro sem nunca danificar a vida marinha, e com a cerâmica encontrei uma forma de representar as texturas, as cores e as sensações que o mar pode trazer.

A sustentabilidade é um dos conceitos bem perceptíveis nas suas peças. Porquê?
Para mim a sustentabilidade é um dever cívico, todos nós devemos estar atentos e tentar contribuir com o máximo possível para reduzir a nossa pegada ecológica.
Sempre fui educado e sensibilizado nesse sentido e com o meu atelier não podia ser excepção. Tento ao máximo evitar o plástico, procuro utilizar sacos de papel, reutilizo flocos de enchimento que outros estabelecimentos iriam colocar no lixo como também caixotes para o envio das peças por correio. Também recolho bastantes jornais que ao invés de irem para o lixo dou uma segunda vida, são perfeitos para o acondicionamento das peças pois são óptimos a absorver impacto dentro das caixas de cartão.
Utilizo vidros que apanho na praia para a elaboração de algumas peças como por exemplo os brincos SeaGlass que quando expostos a alta temperatura derretem-se criando um efeito espectacular, quase como pequenos cristais dentro dos brincos. Tento ao máximo que as peças sejam intemporais e que combinem com qualquer estilo decorativo.

Detém, uma colecção de Natal onde é possível constatar uma vertente mais minimalista e contemporânea nas suas peças. Porque decidiu apostar na criação de uma colecção natalícia?
Para mim o natal é uma época que só me trás boas sensações e recordações. Gosto de vivenciar ao máximo estes dias e por isso não podia deixar de transmitir o mesmo numa colecção de Natal.
Tudo começou no primeiro ano que comecei com o Atelier, foi o ano que perdi a minha Avó e a árvore que ela montava, todos os anos, no canto da sua sala de estar, para mim era o símbolo do Natal.
As bolas de vidro antiquíssimas que preenchiam os galhos sempre me fascinaram e então decidi criar uma colecção inspirada nesses objectos, frágeis, delicados e maravilhosos que antigamente se faziam.
Quis trazer um pouco da personalidade que a bola de vidro tinha que eram guardadas todos os anos com muito cuidado e com o intuito de passar de geração em geração.
Com os presépios encontrei o desafio de criar algo super minimalista, com formas simples que nos remetem para imagem tão simbólica da sagrada família. O resultado são peças com uma aparência mais contemporânea e um estilo que foge de toda a colecção Mar.
A colecção de Natal é onde exploro outros conceitos, estilos e ideias.

A procura por parte destas peças nesta altura do ano tem vindo a aumentar?
A procura tem aumentado de ano para ano nesta época natalícia, não só da colecção de natal, mas também da coleção mar.
As pessoas cada vez mais querem oferecer algo único e feito com tempo, fugindo assim do lado industrial, repetitivo e sem alma.
Faz trabalhos somente por encomenda ou já podemos encontra-los à venda em alguma loja?
 Faço maioritariamente vendas online, como não tenho um espaço com as condições necessárias para expor o meu produto faço as vendas através de um website onde as pessoas podem explorar toda a colecção e encontrar todos os detalhes de cada peça.  Para complementar, procuro participar em determinados mercados e feiras a fim de levar a colecção para junto dos meus clientes.
Em São Miguel tenho uma loja que desde o início procurou ter uma representação da minha colecção, a loja chama-se Casa e Objectos e fica na Ribeira Grande.

O que representa para si o Adolfo Mendonça Atelier?
O atelier para mim é onde posso me fechar da realidade cá fora e ter a liberdade que preciso para criar.
Para além de ser o meu sustento, é onde posso expressar, transmitir as minhas ideias e explorar um mundo de opções que a cerâmica pode proporcionar. É a oportunidade de fazer aquilo que sempre gostei de fazer desde novo, explorar as artes o design e a fotografia.

Quais são as suas expectativas para o futuro?
Ao longo deste percurso o meu principal objectivo é que o atelier seja uma marca sólida, onde o meu nome representa um estilo próprio e as peças sejam facilmente identificáveis.  Tenho muitas ideias e projectos em mente, só me falta a disponibilidade para conseguir desenvolver e introduzir novas peças na colecção.
No próximo ano irei apresentar uma exposição de cerâmica onde irei explorar alguns conceitos, materializados em esculturas artísticas.
Neste momento estou a trabalhar com o principal objectivo de no futuro o atelier poder crescer enquanto espaço físico, trabalho numa garagem que está a ficar cada vez mais pequena, então espero um dia ter um atelier com loja e espaço de workshops que me permita expor as minhas peças da forma que merecem, num ambiente personalizado para as pessoas apreciarem ou adquirirem as peças. Espero continuar a ter o apoio e a recepção tão caloroso por parte das pessoas que seguem o meu trabalho, para assim continuar com este desafio e levar o meu atelier a bom porto.

por Ana Catarina Rosa *

*jornal@diariodosacores.pt

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