Diário dos Açores

“WORK IN PROGRESS”

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Estreia 6ª feira o fruto de uma semente plantada há 20 anos

E se a televisão se revoltasse contra si própria? Ou, pelo menos, contra a ideia que fazem dela (e justamente) – a de que é um meio de consumo rápido, veloz, onde tudo passa e tudo se esquece? 
E se ela se colocasse ao serviço da arte? E se a caixinha mágica, epítome do efémero, produzisse uma obra inédita a cada episódio? E se essas obras fossem da autoria de artistas açorianos das mais diversas áreas?
Este é um conceito original onde um artista convidado aceita o desafio de produzir uma obra de arte: a TV dá-lhe meia hora para conceber (um quadro, uma peça de cerâmica, um conto, uma escultura, instalação, um poema, uma performance, etc).
9 episódios, 9 artistas, 9 áreas culturais diversas, 9 açorianos, 25 minutos de duração cada capítulo. 
Este conceito esteve 20 anos em maturação. Desenvolvi-o enquanto director-criativo da Mínima Ideia, uma pequena produtora de televisão (e local onde, durante cerca de 3 anos, dei os meus primeiros passos na área). O primeiro sítio onde aprendi, à conta da experiência adquirida, que a ratio de sucesso será sempre qualquer coisa na ordem de 1 para 20. Por cada 20 projectos apresentados, somos capazes de ter a sorte de avançar com um. No caso concreto, esta ideia esperou duas décadas até encontrar a sua oportunidade.
Portugal é um país avesso ao original. Ou o produto vem testado em 30 países e tem um caderno de encargos rigoroso que é só seguir à letra… ou então nada feito. Tirando raríssimas excepções, quem decide pura e simplesmente não arrisca.
Ora um dos lados positivos de ultrapassar a barreira dos 40 é perceber a importância do inadiável. Desde “Mal-Amanhados – Os Novos Corsários das Ilhas” que me tornei produtor, e concentrado sobretudo em trabalhos sobre a terra natal, sua identidade e gentes. O lado negativo são os meios residuais que existem na Região, postulando o imperativo categórico de fazer omoletes sem ovos. Todavia há uma RTP-Açores sem medo de arriscar e com um trabalho notável - e nem sempre reconhecido – na coesão deste arquipélago e na sua ligação à Diáspora. Um canal que dá lições de como agir nas plataformas online, até mesmo à sua distante progenitora lisboeta.
Assim, e com o orgulho renovado, estreamos 6ª feira uma ideia 100% original e 100% dedicada à cultura e aos artistas açorianos. Gostava de ter ido a todas as ilhas, de ter protagonistas de cada território, mas faz-se o que se pode com aquilo que se tem. E temos muito, como é possível constatar nas sinopses de cada episódio. 
Juntem-se a nós e à viagem intimista ao laboratório pessoal de cada artista diverso, até à cena final de cada capítulo: em que vemos nascer uma peça completamente nova. Uma canção, um poema, um conto, uma encenação, um monólogo, uma curta, uma coreografia, etc.

1. Cristóvam
Na ilha Terceira há um jovem, ex-guia turístico, cuja música deu a volta ao mundo em plena pandemia. Prestes a lançar novo álbum, Cristóvam dá-nos acesso ao seu estúdio, à sua casa, e sobretudo à sua forma de pensar, escrever e compor.
2. Maria João Gouveia
Destemida, bela e activista, Maria João Gouveia é uma força da natureza com raízes no Estúdio 13, em Ponta Delgada. Bailarina, coreógrafa, professora, embaixadora da Azores 27, Maria João termina o episódio nas Furnas, a encantar-nos ao som de A Garota Não.
3. Ana Lopes
Licenciada em Direito, radicada em Los Angeles há mais de 15 anos, a micaelense Ana Lopes voltou a casa com o Covid. Do teatro ao cinema, da televisão à internet, solidifica o seu caminho nas duas margens do Rio Atlântico, e comove-nos com um inédito monólogo final.
4. Luís Godinho
Senegal, Índia, Moçambique, apenas alguns dos destinos deste terceirense habituado a prémios e que, hoje, troca de lugar na sua posição relativa à lente. Apresentando fotos inéditos do projecto “Caixa Negra – Arca da Memória Açoriana”, vamos conhecer melhor Luís Godinho, o antigo engenheiro do Ambiente que descobre o mundo para voltar à ilha.
5. Pedro Almeida Maia
Antigo músico, actual consultor, Pedro é talvez o mais forte nome da literatura açoriana contemporânea. Amante da pesquisa e autor de um estilo que positivamente agarra o leitor, leva-nos dos seus lugares às suas páginas, com um conto inédito na voz daactriz Mónica Cabral.
6. Catarina Valadão
Poetisa, arquitecta, fotógrafa. Catarina Valadão é aquilo que os anglo-saxónicos chamam de “tripla ameaça”. Do jardim ao castelo, da geometria aos versos, do Pico Celeiro às ruelas centenárias do Património Mundial, viajamos com ela de obra em obra – arquitectónica e literária - até chegar à poesia.
7. Terry Portugal Costa
A Ilha Maior tem na verdade duas montanhas. A mais alta de Portugal e a energia épica do Terry que se faz gigante: agente cultural, encenador, performer, programador, o homem da MiratecArts leva-nos aos seus recantos de criação no centro do Triângulo onde, em cada um deles, lidera almas generosas num caminho conjunto que conduz à arte.
8. Susana Aleixo Lopes
Um artista plástica em pleno Atlântico, a braços com o deadline duma encomenda, os seus objectos de estimação, o crime que cometeria se não houvesse castigo, a paz que encontra nas gloriosas 7 Cidades, a combinação dos elementos da vida e a angústia que apazigua… a cantar.
9. Diogo Rola
E, de repente, numa conspiração cuidadosa entre os membros da equipa, o próprio realizador do programa é surpreendido… e descobre que é ele o protagonista do episódio final! Filmado às escondidas até aqui, Diogo Matos Rola – o homem atrás das câmaras no êxito “Mal-Amanhados” - terá a sua primeira curta-metragem para apresentar como obra inédita final do “Work in Progress”.
Luís Filipe Borges 

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