O preço do cabaz de compras vai aumentar nos Açores já neste mês de Janeiro, uma vez que vários empresários já admitiram que o aumento do preço da electricidade será reflectido nos produtos finais.
É o caso do preço do pão, que poderá subir 1% em toda a Região, o mesmo acontecendo com outros produtos essenciais do sector alimentar, como a carne e ovos.
O aumento do tarifário da energia preocupa os empresários, agravado pelo aumento do salário mínimo, o que vem encarecer os custos de contexto das empresas, pelo que estas subidas deverão reflectir-se no produto final junto do consumidor.
Este assunto deverá ser abordado Sexta-feira na reunião entre o Presidente do Governo dos Açores e os parceiros sociais, no âmbito do CESA.
Cabaz de compras também encarece na Europa
No último ano, o preço de um cabaz de produtos agrícolas pago ao produtor aumentou, em média, 30% na União Europeia (UE), de acordo com os dados agora divulgados pelo Eurostat.
Não obstante há produtos com aumentos ainda mais significativos, como os cereais, ovos ou o leite.
Entre o terceiro trimestre de 2021 e o terceiro trimestre de 2022, o custo de um cabaz de produtos agrícolas pago ao produtor disparou, em média, 30% no conjunto da UE, o que representa uma aceleração face à subida de 25% registada entre o segundo trimestre de 2021 e o segundo trimestre de 2022, nota ainda o gabinete de estatísticas europeu.
A invasão russa à Ucrânia veio acelerar ainda mais a subida de preços da energia e transportes, agravando a escalada de preços das matérias-primas.
Nesse contexto, o Eurostat sublinha que durante o período analisado “observaram-se aumentos de preços particularmente fortes nos cereais (+52%), ovos (+49%) e leite (+42%)“.
Entre os 27 Estados-membros da UE, os maiores aumentos foram registados na Hungria (+61%), na Lituânia (+54%) e na Eslováquia, ao passo que as menores subidas foram registadas no Chipre e Malta (ambos +5%) e na Grécia.
Já no que toca ao preço médio dos bens e serviços actualmente consumidos na agricultura o aumento foi de 35%, entre o terceiro trimestre de 2021 e o terceiro trimestre de 2022, isto é, em linha com o que foi registado entre o segundo trimestre de 2021 e o segundo trimestre de 2022, quando foi de 36%.
Entre os produtos que mais aumentaram de preços neste âmbito estão os fertilizantes e correctivos orgânicos do solo (+101%), a energia e lubrificantes (+60%) e as rações dos animais (+35%).
No conjunto de países que fazem parte da UE, os maiores aumentos no que toca aos bens e serviços actualmente consumidos na agricultura foram observados Lituânia (+73%), Letónia (+68%) e Hungria (+60%), ao passo que os menores aumentos foram em Malta (+13%), Dinamarca (+24%) e Itália (+25%).
Economia abranda
Vários economistas alertam para impacto da inflação neste novo ano, quando o mercado de trabalho vai começar a dar maiores sinais de tensão.
Economistas ouvidos pelo jornal ECO são unânimes em afirmar que o mercado de trabalho vai sofrer algum impacto depois de ter resistido durante 2022, ainda que amortecido pela escassez de mão-de-obra.
Já a inflação deverá manter-se elevada, levando a uma perda de poder de compra, apesar de a sua dimensão depender da evolução de vários fatores, nomeadamente alguns fora do controlo do país, como é o caso da guerra na Ucrânia.
“Vamos ter um abrandamento do crescimento; vamos ter mais problemas no campo do emprego, quer quanto ao volume de emprego quer à no que diz respeito à qualidade desse emprego” assim como “um quadro ainda inflacionário de forma significativa, porque as medidas — que estão a ser tomadas designadamente pelo BCE — podem não ser suficientes”, aponta ao ECO o economista José Reis.
Vânia Patrícia Duarte, analista financeira da Unidade de Estudos Económicos e Financeiros do BPI, também antecipa que “a economia portuguesa desacelere de forma expressiva no próximo ano, considerando os factores de pressão: inflação deverá desacelerar mas continuará em níveis elevados, o que obrigará o BCE a prosseguir com o aperto da política monetária e consequente agravamento das taxas de juro”.
A analista acrescenta ainda, em declarações ao ECO, que “a isto, juntar-se-á a pressão vinda da crise energética, com impacto nas facturas energéticas das famílias e empresas, para além da incerteza em termos geopolíticos”.
O economista João Cerejeira, especialista em questões de trabalho, também já tinha alertado ao ECO para o facto de o indicador do emprego ainda não ter sofrido “todos os efeitos da inflação”.
“A inflação tem um efeito que importa reter: faz diminuir o poder de compra das famílias, o que quer dizer uma quebra real para o próximo ano, e pode ter efeitos no consumo privado e nas empresas viradas para o mercado interno“, realçou. Este cenário “ainda não é actualmente visível”.
Já o Banco de Portugal tem expectativas de que o mercado laboral ainda resista à desaceleração económica no próximo ano, prevendo no mais recente boletim económico que a taxa de desemprego vai continuar estável entre 2023 e 2025.
Bruxelas, por sua vez, estima que a taxa de desemprego em Portugal será de 5,9% tanto em 2022 como em 2023, acima da previsão de 5,6% do Governo português.
Para 2024, a Comissão antecipa uma descida do desemprego para 5,7%.