Diário dos Açores

Livro “Viagens no Tempo” promove os Açores

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Muito obrigado! Eu nunca tinha iniciado um artigo ou uma crónica com essa expressão de agradecimento. Mas é o que faço agora, um “muito obrigado!”, muito sentido e muito convicto, dirigido ao competente jornalista e distinto intelectual Luís Pinheiro de Almeida, a quem Portugal muito deve. Natural de Coimbra e licenciado em Direito pela Universidade (Clássica) de Lisboa, com 75 anos de idade, possui uma notável carreira jornalística, feita nas diversas agências noticiosas portuguesas que se foram sucedendo e também em outros órgãos de comunicação social.
Luís Pinheiro de Almeida publicou agora um maravilhoso livro com o sugestivo título “Viagens no Tempo”, em que relata muita da sua experiência e da sua vivência profissionais, em excelentes textos, muito bem escritos, como é sua característica, plenos de elementos históricos, culturais, políticos, geográficos e outros. Há no livro um rico manancial de referências, descrições, detalhes, pormenores, emoções, datas e nomes, tudo muito bem exposto, articulado e apresentado. E não faltam fotografias muito interessantes e valorizadoras do livro.Todos os que gostam de ler devem adquirir “Viagens no Tempo”, porque é uma obra que enriquece sobremaneira quem a lê. Ficará como uma referência do melhor que se tem editado no nosso país.
Além do mais, mas não de menores relevo e importância, Luís Pinheiro de Almeida - com quem trabalhei na Lusa em Lisboa, ele como director-adjunto de Informação e eu como um dos muitos redactores da Agência - é, seguramente, quem em Portugal mais conhece da famosa e histórica banda britânica Beatles e das respectivas obras musicais. É, em boa verdade, um apaixonado pelo quarteto de Liverpool e pelo seu trabalho artístico, que marcou muito uma viragem no mundo nos anos 60 do século passado quanto a gostos, valores e costumes.
“Viagens no Tempo” relata, precisamente, muitas viagens que o autor fez durante muitos anos: viagens profissionais, para assistir a actuações musicais em várias partes do mundo e em lazer. Em alguns casos, foram mesmo aventuras ou “viagens loucas”, como ele diz. Conheceu e entrevistou muitas personalidades, de vários sectores, quadrantes e nacionalidades, da política à música, com destaque neste último caso para os Beatles, sua grande paixão desde muito novo. Está tudo muito bem documentado e melhor escrito, repito, porque Luís Pinheiro de Almeida, se é um competente jornalista, é também um escritor cheio de talento ou de talentos, de resto já publicou outros livros, quase todos sobre temática musical, em que é um reputado e apreciado especialista.
Eu também fiz viagens de trabalho ao serviço da Agência Lusa, nomeadamente para a Guiné-Bissau, Turquia, Alemanha, Brasil, Marrocos, Irlanda e Espanha, muito menos do que ele, obviamente. Fiz, igualmente, várias deslocações profissionais dentro do território nacional, incluindo Continente, Açores e Madeira. Jamais conseguiria descrever essas viagens com a vivacidade e a intensidade com que ele faz. Invejo-lhe a capacidade e a inteligência.
Luís Pinheiro de Almeida revela na obra agora publicada uma grande admiração pelos Açores e pelas respectivas belezas naturais. Dedica um capítulo do livro ao arquipélago, que conhece muito razoavelmente, através de deslocações em serviço jornalístico e em lazer. Classifica os Açores como “tesouro bem nosso e que, estupidamente, teimamos em desleixar”. Diz, também, que os Açores são um “belo pedaço de Portugal tão perto e tão esquecido”. Aconselha todos, pois, a visitarem estas ilhas: “Os Açores merecem ser vistos em tempo de férias”. À semelhança do notável escritor Raul Brandão em “As Ilhas Desconhecidas”, Luís Pinheiro de Almeida também faz descrições muito interessantes e curiosas das ilhas açorianas que visitou. O que ele diz de e sobre Santa Maria, por exemplo, comprova isso mesmo. “Santa Maria é uma agradabilíssima surpresa!”, realça nomeadamente, para acrescentar: “Santa Maria é uma das mais belas ilhas dos Açores, com uma calma, uma tranquilidade, um bem-estar, uma amabilidade e afabilidade que não é frequente conhecer”. Só lhe falta visitar a ilha de São Jorge, “a do famoso queijo”.
É óbvio que a obra “Viagens no Tempo” vai chegar a muitas mãos e vai ser lida por muitas pessoas. Além do mais, que boa promoção turística dos Açores! Enquanto no arquipélago se discute quem manda na promoção turística, quem manda mais ou manda menos, quem faz melhor e quem faz pior - organizem-se, por favor! -, temos no Continente um destacado jornalista e escritor, do melhor que Portugal tem, a promover os Açores através do seu fantástico livro “Viagens no Tempo”, de forma tão genuína quanto generosa. É com gente desta qualidade e com este prestígio que nos devemos entender, porque a mediocridade - interna e externa - não nos conduz a bom caminho.
Luís Pinheiro de Almeida faz referência no livro a dois grandes amigos açorianos: José Maria Lopes de Araújo e Luís Monte, ambos conhecidos e muito competentes profissionais que foram da televisão pública nacional. Privou com eles em trabalho jornalístico e ficaram muito amigos. Luís Pinheiro de Almeida tem também a grande qualidade de que, quando é amigo, é amigo mesmo.
A obra “Viagens no Tempo” - editada pela Documenta e com 327 páginas - já foi lançada publicamente em Viseu e em Lisboa, neste caso na Cinemateca Nacional, sendo apresentada, respectivamente, por Henrique Monteiro e José Manuel Barroso, igualmente brilhantes jornalistas, com muitas e boas provas dadas. Não compareci, como desejava, porque estava muito mau tempo na capital.
Como Luís Pinheiro de Almeida gosta muito dos Açores e como nestas ilhas existem também muitos admiradores dos Beatles, uma banda que é verdadeiramente eterna, sugiro que apresente o livro também no arquipélago, no local que entender e melhor lhe aprouver. Para apresentar a obra só pode ser o seu grande amigo - também meu prezado amigo, de resto meu primo - José Maria Lopes de Araújo, igualmente licenciado em Direito, distinto jornalista e intelectual de muitos e reconhecidos méritos.
Como referi, trabalhei durante muitos anos com Luís Pinheiro de Almeida na Agência Lusa na capital. Sempre muito competente, educado e sereno. Aprendi muito com ele. Ao ler agora, com o maior gosto, “Viagens no Tempo”, além do mais, foi para mim como que uma reciclagem jornalística, pois muitos dos seus excelentes textos apresentam-se num estilo de reportagem, com respeito por todas as regras técnicas e princípios deontológicos, o que vai sendo cada vez mais raro. Mas “Viagens no Tempo” é também literatura, literatura de viagem ou de viagens, para onde aponta, de resto, o título da obra. Sem ser um especialista em géneros de escrita, eu diria que em “Viagens no Tempo” há uma preciosa e bem conseguida aliança entre jornalismo e literatura, juntando rigor e graça nas descrições, exactidão e leveza. É um prazer, de facto, ler esta obra, não tenham dúvidas!
Estamos perante, repito, um jornalista e um escritor. E é difícil distinguir o jornalista do escritor ou vive-versa. As duas facetas estão profundamente irmanadas. É, igualmente, um grande colecionador: possui um espólio muito rico de edições musicais, livros e objectos que foi recolhendo nas suas muitas viagens.
Que fique bem claro: este despretensioso texto não é uma recensão. Essa tarefa ficará para outros mais habilitados do que eu para o efeito. Digo, também, que Luís Pinheiro de Almeida não precisa dos meus elogios para nada, mesmo sendo muito sinceros e convictos. Pretendo, apenas, agradecer-lhe o muito que me ensinou na Agência Lusa e agora pelo seu maravilhoso livro “Viagens no Tempo”, que adorei, de facto. Expresso-lhe a minha admiração e a minha gratidão, que são extensivas ao seu irmão João Pinheiro de Almeida, que também foi director-adjunto de Informação da Lusa e que, do mesmo modo, me transmitiu bons ensinamentos quanto ao jornalismo de agência noticiosa, sensivelmente diferente do que se pratica nos jornais, o meu princípio profissional.
É de admitir que João Pinheiro de Almeida também venha a publicar um livro, pois terá igualmente muitas histórias para contar da sua longa vida de competente jornalista, aliás foi simultaneamente formador de jornalistas na Lusa. Já reformados, estes dois irmãos fazem muita falta à Lusa e à comunicação social de um modo geral, pois a agência é um fornecedor de informação para todos ou quase todos os órgãos do sector. Mais tarde eu viria a ser, durante cerca de seis anos, editor-adjunto da secção “Sociedade” na agência noticiosa portuguesa, abrangendo várias áreas, nomeadamente Saúde, Justiça, Administração Interna, Ambiente e Proteção Civil. Em vários momentos senti a falta de Luís e de João Pinheiro de Almeida, para me tirarem dúvidas e me ajudarem a resolver questões técnicas e operacionais.
Termino, pois, como comecei. Muito obrigado! Muito obrigado mesmo por tudo! E apresento desculpas por alguma coisa que não tenha decorrido bem da minha parte. Com mais tempo vou reler “Viagens no Tempo”, para saborear melhor todo aquele fantástico e vasto conjunto de valiosas memórias. Luís Pinheiro de Almeida diz que o livro é uma oferta a si próprio pelos 75 anos de vida, celebrados em 2022, mas é também uma oferta a todos nós. É uma partilha extraordinária. Um grande abraço é a melhor forma de sintetizar tudo o que aqui fica dito.

Tomás Quental Mota Vieira *

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