Diário dos Açores

Carlos Alves: Companheiro inseparável nas actividades Académicas e Desportivas

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Desportistas do meu tempo

O Carlos Alves, mais conhecido no Liceu de Angra e nos meios desportivos terceirenses por “Carlos Pilheca” foi um inseparável companheiro ao longo da nossa infância e adolescência na ilha Terceira. Nascido em Lisboa (freguesia de S.Sebastião da Pedreira) embarcou para S. Miguel com 3 anos de idade e, um ano depois, mudou-se para a Terceira por força da profissão (militar) do pai. Ainda morou seis meses em Angra do Heroísmo (rua Visconde de Bruges) mas logo que a família teve alojamento disponível fixou residência na Base das Lajes.
Entrámos juntos para o ensino primário e a partir daí fomos companheiros inseparáveis nas actividades escolares (Escola primária e Liceu) e desportivas na nossa adolescência. Na Escola Primária da Base, frequentada pelos filhos dos militares e dos civis que ali trabalhavam, era raro o dia em que não fazíamos uma futebolada no terreno baldio anexo à escola. Entretanto, com a vinda do  Padre Lino (nascido na freguesia das Lajes) para capelão da Base e, a consequente, criação do Agrupamento de Escuteiros, chefiado pelo Senhor Amorim (decano gestor do Campo de Golfe) e, posteriormente, pelo Vitor Fragueiro e Manuel Figueiredo, foi implementado um processo de convivência social ao nível juvenil que, de forma exemplar, muito contribuíu para a educação e valorização da rapaziada que residia na  Base  e de muitos outros jovens que moravam nos bairros improvisados das redondezas.
Concluído o ensino primário, iniciámos um novo percurso estudantil que começava por levantar muito cedo da cama para apanhar o autocarro dos estudantes (Blue Bus) adquirido aos americanos, que nos transportava para Angra do Heroísmo para frequentarmos as aulas no Liceu ou na Escola Comercial, conforme as opções individuais e familiares. A rapaziada da nossa geração (Álvaro Viana, Fernando Feijão, Luís Carneiro, Luís Filipe Morgado, Chico Zé Marques, Guilherme Henrique, José Luciano, Benfica Diniz, Luís Maciel, João Viana, os irmãos Freitas, Godinho, Claudemiro, Pedro Dias, Rui Alves e muitos outros) fomos sempre um grupo unido e solidário. Para além disso, fomos bem apoiados pelos colegas mais velhos, tais como, o Fernando Morgado, o Luís Alexandrino e o  Francisco José. Contudo, não eram só rapazes quem estudava em Angra pois, também, havia um grupo de meninas que se preocupavam com a sua valorização académica e não se deixavam ficarpara atrás.
 Entretanto, o número de estudantes cresceu tornando-se necessário a aquisição de um novo autocarro (50 lugares) para dar resposta aos alunos matriculados no ensino secundário. Passávamos a maior parte do dia em Angra e quando não havia aulas os tempos  livres eram ocupados, quase sempre, com actividades desportivas. O simples facto de termos aulas regulares de educação física e um professor chamado Monteiro Paes que, para além de fazer o ensino desportivo duma forma motivadora e pedagógicamente correcta, nos tinha aberto a porta para uma actividade atraente, a do desporto. No local onde residíamos (Base das Lajes) a influência da cultura desportiva anglo-saxónica, bem interpretada pelos norte americanos, era um enorme aliciante para a prática desportiva. A utilização das suas instalações desportivas funcionavam, de igual modo, como factor motivador para os jovens da nossa idade.
No percurso liceal, para além do cumprimento dos deveres escolares, alinhávamos em todas as actividades que tivessem a ver com desporto (torneios internos, campeonatos escolares, festivais desportivos no Lawn Ténis Club, jogos de carácter associativo no ringue de patinagem e no campo de futebol municipal) e, de vez em quando, intercâmbio com o High School no ginásio da Escola Comercial. Se a tudo isso, ainda acrescentarmos os improvisados jogos de futebol no estádio da pedra, no relvão, no Seminário e no campo pelado da Escola Comercial, fica por esclarecer onde é que íamos buscar tanta energia.
Finalizado o curso liceal cada um seguiu o seu percurso de vida. Eu fui estudar para o Instituto Nacional de Educação Física(INEF), em Lisboa, e o Carlos Alves (Maio/1965) foi para Mafra (curso de oficial miliciano) com muita malta da Terceira: Adelino Paím, José Mendonça, António Simões, Domingos Ávila, Henrique Parreira, José António Neves, João Manuel Barcelos, Gil e muitos outros. Terminado o curso e após uma curta passagem pelo B.I.17 e Tomar, o Carlos foi mobilizado para Angola (Nov/66), onde permaneceu até Novembro de 1968. Em terras angolanas prestou serviço na fronteira com o Congo (MPozo), Luanda e no Planalto do Bié (Calucinga-Andulo), zona territorial do Savimbi.
Cumprido o serviço militar o Carlos Alves fixou residência em Lisboa e exerceu funções profissionais na área do catering no aeroporto de Lisboa, na companhia aérea “South African Airways”, o que implicava diversas deslocações às cidades de Roma, Viena, Paris, Zurique e Joanesburgo. Actualmente na situação de aposentado, continua a ser um grande entusiasta do basquetebol e da pesca desportiva, pelo que as férias nos Açores são uma constante, para rever antigos companheiros e se deliciar com umas pescarias na companhia dos seus amigos Ilídio Gomes e Diocleciano Silva.
O Carlos “Pilheca” foi sempre um grande companheiro e amigo de todos aqueles que com ele conviveram, quer fosse no Liceu, nos escuteiros ou no  desporto. Embora não fosse um atleta de elevada estatura foi, no entanto, um bom praticante de basquetebol devido ao seu enorme entusiasmo e dedicação nos treinos e jogos. Dotado de uma imensa auto motivação na procura de uma constante melhoria das suas capacidades atléticas e técnico-desportivas foi, por essa razão,  um bom exemplo para todos os seus companheiros de equipa. Na formação dos Escuteiros da Base era um jogador chave que, também deliciava os espectadores com as suas simulações e fintas primorosas. Naquele tempo, a equipa dos Escuteiros da Base, constituída por rapaziada muito jovem, era a equipa que melhor basquetebol praticava a nível regional.
Bons velhos tempos.

Eduardo Monteiro *

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