Por entre os calcanhares
os dias passam
ai como passam os dias
e neles o desespero de os ver passar
e não os poder agarrar entre os dedos
e deixá-los a descansar sobre uma folha
a amarelecer ao sol da tarde
e não tentar saber por onde o tempo pára
e ficar sem o rosto da idade
sem ser o amadurecido pero
a brilhar no galho de uma árvore
que fundou as suas raízes num areal
onde jogam à bola rapazes de pés descalços
têm eles a memória do instante
e o riso do futuro nos dentes
nas suas mãos não há espaço
para reter ou pensar
que o tempo lhes foge por entre os calcanhares
- e não imaginam porquê
porque o instante desse tempo
já é o momento de uma vivida saudade
que o tempo não devolverá jamais
Victor de Lima Meireles *