Diário dos Açores

Para um amigo que atingiu as 8 décadas

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Por entre os calcanhares

os dias passam
ai   como passam os dias
e neles o desespero de os ver passar
e não os poder agarrar entre os dedos
e deixá-los a descansar sobre uma folha
a amarelecer ao sol da tarde

e não tentar saber por onde o tempo pára
e ficar sem o rosto da idade
sem ser o amadurecido pero
a brilhar no galho de uma árvore

que fundou as suas raízes num areal
onde jogam à bola rapazes de pés descalços

têm eles a memória do instante
e o riso do futuro nos dentes

nas suas mãos não há espaço
para reter ou pensar
que o tempo lhes foge por entre os calcanhares

- e não imaginam porquê
porque o instante desse tempo  
já é o momento de uma vivida saudade
que o tempo  não devolverá jamais

Victor de Lima Meireles *

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