Diário dos Açores

O poder infinito das histórias

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“Num certo inverno, o Sol deixou de se levantar e o mundo cobriu-se de escuro e frio. Sem poder caçar, sem poder plantar, a família acreditou ter chegado o fim do mundo. Kianda pensou. «É preciso contar histórias às nossas crianças.»

As histórias sempre me salvaram de momentos de solidão, de tristeza, de amargura. Não leio apenas quando estou triste, muito pelo contrário, mas são uma companhia imprescindível nestes momentos.
Por estes dias, ler ou inventar histórias resolve-me muitas birras da minha filha para comer ou para tomar banho. E tão bem que sabe! É tão bom perceber que este poder de invenção é infinito.
Por isso, e não só, o nome Rio infinito, do novo livro infantil de Mia Couto, chamou-me a atenção verdadeiramente.
Esta é a história de um grupo de pessoas que tem luz enquanto tem histórias e as partilha com todos, crianças e mais velhos.
Certo dia, as histórias acabam, o que para nós é, atualmente, impensável e há uma mãe que percebe o impacto que isso terá naquelas vidas, naquela humilde terriola.
A verdade é que hoje em dia nem pensamos na regalia que é ter sempre livros disponíveis, para requisitar ou comprar, tendo uma companhia constante ao nosso lado. Antigamente não era assim e nós somos, sem dúvida alguma, verdadeiros privilegiados!
Com a sua escrita profunda e enraizada, Mia Couto leva-nos, página a página, a entender o poder de passar a palavra, de contar o que sabemos, de mostrar o que vivemos. E esta população passa pela escuridão da palavra não dita, pela tristeza da não vivência de experiências, enquanto aquela mãe resolver sair mundo fora à procura de mais palavras, de mais histórias. Só assim os seus filhos, e os de todos os cidadãos daquela terra, sobreviverão. Vagueando por mar, terra e ar, vamos acompanhando a felicidade de quem colhe letras e palavras para semear histórias no seu regresso!
Depois, com as palavras, com o regresso das histórias, e com um objeto mágico, mas verdadeiramente simples, vem a luz, o sol que a todos ilumina; quase como se fosse uma religião, uma presença de Deus feito Palavra. Tal e qual! E o que são as palavras e as histórias senão a presença de um Deus que nos acolhe, que nos ajuda a enfrentar a vida e a ver como a empatia é, afinal, tão fácil de praticar?
Haverá uma religião dos livros e da leitura? Parece-me bem que sim. Este livro, com ilustrações brilhantes de Danuta Wojciechowska, só me fez acreditar, mais ainda, que sem a leitura não sou nada!


Boas leituras!

Patrícia Carreiro*
*Diretora da Livraria Letras Lavadas

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