Diário dos Açores

Crise geral?

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Vai pelo Mundo fora um ambiente doentio de crise, que já parece generalizada, quase nenhuns, ou muito poucos, países escapando ao desfiar de más notícias, que circulam com a rapidez do relâmpago.
Julgo que nesta fase é a velha Europa que leva a palma! Digo “velha Europa” por ser usual designá-la por Velho Continente, no sentido de mais antigo e em contraposição ao Novo Mundo, descoberto com surpresa quando das grandes navegações oceânicas dos Povos Ibéricos. Certo é, porém, que ainda mais velhas parecem ser as culturas asiáticas, da Índia, do Japão e da China, evoluindo por si próprias até ao choque com as europeias, na fase de expansão destas e subsequente imperialismo dominador.
Como se não bastasse a guerra  - que há já quase um ano vem devastando a Ucrânia, invadida sem razão pela Rússia, que tem tentado esmagá-la, até agora debalde, graças à grande capacidade de sofrimento e resistência do Povo Ucraniano, liderado pelas suas Autoridades Democráticas, e fortemente apoiado, em ajuda militar e financeira, pelos países membros da NATO - vão-se juntando outros focos de tensão, sinais de mal estar e descontentamento crescentes.
Para onde quer que nos viremos, o que se vê é o povo nas ruas, em grandes manifestações de protesto contra as decisões dos respectivos governos, por sinal legitimados por eleições democráticas mais ou menos recentes. É o caso da França, onde se contesta a proposta governamental de subir, aliás lentamente, a idade da reforma dos trabalhadores de 62 para 64 anos. Em Portugal, já vamos em 66 anos e há outros patamares ainda mais altos...
Um pouco por toda a parte há greves, de médicos, de enfermeiros, de maquinistas dos combóios, de pessoal dos aeroportos e das companhias de aviação, de trabalhadores dos transportes públicos terrestres, de professores, de empregados das escolas e até de polícias e de bombeiros, todos insatisfeitos com os seus salários e outras regalias dos respectivos estatutos , e reclamando aumentos, que os governantes consideram impossíveis de satisfazer no presente estado das finanças públicas, sobrecarregadas com a dívida acumulada e com as consequências da guerra.
A imagem que nos dá o Reino Unido, vulgar e erradamente designado entre nós por Inglaterra, é a de um país sem rumo, cujo Governo não consegue enfrentar todas as insatisfações existentes, enquanto a sociedade se deslaça e ressurgem tensões separatistas por parte da Escócia e até do País de Gales. A morte recente da Rainha Isabel II, assinalando o fim do reinado mais longo da História Britânica, parece ter mesmo marcado o fim de uma era.
Em Espanha quase se pode dizer que o mesmo está acontecendo, sendo certo que o principal partido da Oposição tem em curso experiências de governação regional em coligação com os saudosistas do regime ditatorial, e não está excluído que avance por tal caminho, já a ser testado na Itália, para afastar os socialistas e os seus aliados da extrema-esquerda do Poder, no seguimento de futuras eleições gerais. Os históricos problemas da unidade nacional de Espanha, face às fortes identidades, também consideradas nacionais, pelos na afirmação delas  envolvidos, da Catalunha e do País Basco, pelo menos, são factores de agravamento dos problemas existentes, para os quais a Monarquia, bastante desacreditada pelos erráticos comportamentos do ex-Rei, não tem conseguido apresentar-se como solução.
Entre nós, abundam também, a nível nacional, as irritações e os movimentos de massas, com a novidade de serem estes inorgânicos, declaradamente alheios às antigas forças políticas que lideravam a contestação social, nomeadamente o Partido Comunista. Até os entusiastas dos chamados “direitos dos animais” vêm para a rua, em grande número, cramando contra o Tribunal Constitucional, que não reconhece a garantia máxima na legislação em vigor sobre tal matéria.
 O Governo está cercado pelas greves dos professores e do pessoal da TAP e não apresenta soluções para nenhuma delas. E ainda por cima encontra-se fragilizado pelos sucessivos casos de desautorização dos seus membros e colaboradores próximos, e pelas correspondentes demissões. Um insuportável odor a corrupção, nepotismo e facilitismo espalhou-se no meio político, e a sociedade portuguesa em geral dá sinais de não aceitar a situação existente e de não encontrar alternativas de solução à vista. Estamos portanto em risco de queda numa situação de impasse político, que só torna mais difícil a saída da crise.
Convém muito estar atento ao que se vai passando lá longe das nossas Ilhas, de modo a evitar erros já como tal comprovados e tomar medidas apropriadas em tempo oportuno.

* (Por convicção pessoal, o Autor não respeita o assim chamado Acordo Ortográfico)    

João Bosco Mota Amaral*

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