Diário dos Açores

Estupefação e Indignação

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Foi com enorme estupefação que na passada semana, no mesmo dia em que se tornou público que está em risco o funcionamento do Laboratório da Unidade de Genética e Patologia Molecular do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, ficou-se a saber que não está previsto qualquer investimento na modernização e renovação dos equipamentos deste Laboratório, porque tal não faz parte das prioridades do Governo Regional. Não está também previsto a atribuição de verbas do PRR para esse efeito.
Recorde-se que a maioria dos equipamentos está em fim de vida e descontinuados. Os poucos equipamentos recentes foram oferecidos ao abrigo da Lei do Mecenato durante a pandemia.
A  Secretaria da Saúde justifica a não inclusão do Laboratório no seu plano de investimentos pela falta de sinalização, por parte da Administração do Hospital de Ponta Delgada, de qualquer situação que coloque em causa o funcionamento daquele  Laboratório.
 Bastante sinalizado pela opinião pública está a ser o projeto de substituição do sistema de cabos submarinos que liga o Continente aos Açores e à Madeira (CAM), alterando significativamente o circuito do anel CAM.  Levanta naturais receios na população da ilha de São Miguel, o facto de ao fim de 130 anos de ligações diretas ao Continente por cabo ser  despojada desta ligação a favor da ilha Terceira. Receios de que, na era das comunicações, São Miguel volte para trás no tempo, o que seria trágico para a sua economia e para a qualidade de vida das populações.
Até agora são escassas e pouco esclarecedoras as informações oficiais sobre o assunto. Continuam por esclarecer as reservas levantadas publicamente por reputados técnicos com experiência na área, que criticaram a mudança do trajeto dos novos cabos, prevendo graves consequências para a ilha de São Miguel.
É neste contexto que um dos 20 deputados por esta ilha apresentou um requerimento pedindo esclarecimentos ao Governo Regional.  Nada mais normal na atividade parlamentar. O único facto extraordinário neste procedimento, bastante corriqueiro na atividade parlamentar, é que pela primeira vez um deputado por São Miguel intervém levantando questões que refletem as preocupações da população que o elegeu,  razão pela qual é comum dizer-se em São Miguel que é a única ilha sem deputados.
Mas para espanto de todos, um simples pedido de informação ao Governo originou uma violenta reação da Câmara de Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo, maltratando e enxovalhando o deputado através de um comunicado que tornou público. Desde quando é que é “bairrismo” um deputado pedir informações sobre um assunto que diz respeito ao seu círculo eleitoral?  Principalmente num parlamento onde, com exceção dos deputados por São Miguel, predomina a “política de campanário”.
O comunicado e outras atitudes como esta é que revelam um bairrismo raivoso e doentio, para além de constituírem uma tentativa de intimidação à liberdade política de um deputado. Atitudes desta natureza são uma forma repugnante de coartar a liberdade e o direito das pessoas exercerem a sua cidadania, pois não estão dispostas a serem sujeitas ao enxovalho público por parte de gente com poucos escrúpulos.  

Teresa Nóbrega *

*Jornalista

A autora escreve de acordo com a anterior ortografia

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