Diário dos Açores

Pobreza política

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Há temas em debate que só têm ou só geram perdedores. Da discussão gerada não resulta qualquer ganho para a resolução do problema. Independentemente da validade dos argumentos de um lado ou de outro. Esse é o caso da mais recente troca de galhardetes entre o PS e os partidos da coligação que sustentam o XIII Governo Regional. O assunto “pobreza” devia ser motivo de um pacto de regime. Com metas consensualizas. Com um rumo delineado após a junção de diferentes visões e caminhos. Ao invés, e como sempre, a opção é pela guerrilha partidária.
O PS, que até governou a Região durante 24 dos últimos 26 anos, veio, à boleia de mais um relatório do INE, acusar a coligação de ter, em dois anos, tornado os Açores (ainda) mais pobres. A coligação, através de uma pobre e atabalhoada conferência de imprensa, veio apresentar leitura diferente dos mais recentes dados vindos a público. Confesso que não consigo perceber nem um lado, nem o outro. E a razão para esta minha generalizada incompreensão é fácil de explicar. Em primeiro lugar, convém ter presente que o tema é demasiado sério, e grave, para arma de arremesso político. Em segundo lugar, acredito sempre que os responsáveis políticos tudo fizeram ou fazem para melhorar a vida dos seus concidadãos. Em terceiro lugar, defendo que não há um lado dos bons e um outro lado dos maus. Partindo destas premissas, custa-me ver ou ler aquilo que passou no espaço público nos últimos dias. E custa-me, ainda mais, ter a certeza que a coisa não irá ficar por aqui.
A erradicação da pobreza devia ser um desígnio de todos. De todos os partidos. De todos os governantes. Dos de hoje e dos de ontem. Este tema é uma das causas que devia mobilizar toda a sociedade. É inequívoco que muito, muito, foi feito pelos governos anteriores. É inequívoco que muito está a ser feito pelo governo atual. Mas é ainda mais inequívoco que tudo o que se fez até aos dias de hoje não tem sido suficiente. A Região, no início do percurso autonómico, tinha uma enorme montanha para escalar. A verdade é que o ritmo da escalada não tem acompanhado as necessidades de quem continua a precisar de respostas. Daí que entenda, desde sempre, que urge materializar um mega pacto de regime. Pobreza, desertificação, educação e saúde nunca terão os resultados desejados, e muito menos na velocidade exigida pelas circunstâncias e contexto estrutural, sem que o PS e o PSD (pelo menos) percebam que está mais do que na hora de parar para pensar conjuntamente. Não querer ver isto, e continuar de dedo apontado ao outro a discutir percentagens e gráficos, é um dos maiores fatores para a nossa pobreza... e um contributo para quem defende que a maior pobreza é a do espírito!

Hernani Bettencourt*
*Jurista

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