Diário dos Açores

O que é a Lusofonia - Parte 9 (I) 20 anos de colóquios de 2002 - 2022

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Maia, 19º Colóquio da Lusofonia, crónica 124 – 26 Mar 2013
Rudyard Kipling está celebrizado pelo «If», o oposto do que rege os Colóquios «Não prometemos, fazemos». Desta vez, saboreamos o significado da insularidade, o acre travo de provações climatéricas quase comprometendo de forma terminal o Colóquio. Uma depressão cavada e estacionária por cima do arquipélago trouxe chuvas torrenciais, ventos ciclónicos, desabamentos de terras, naufrágios, seis mortes nas ilhas, e impediu a aterragem de aviões a partir do dia 12. Oradores e presenciais viram voos adiados, cancelados. 1120 pessoas à espera nos aeroportos de Lisboa e Porto. Todos os planos foram literalmente por água abaixo. Recorreu-se ao plano «B», mas adiamentos. De volta ao computador com planos alternativos e os telemóveis com mensagens, telefonemas e adiamentos. Decidimos anular os dois primeiros dias. No jantar de boas vindas, em vez de 25 pessoas éramos seis.
No primeiro dia, na EBI Maia, havia a apresentação da Antologia de Autores Açorianos Contemporâneos (2 vols). O lançamento anunciado em todas as escolas, não podia ser alterado, mas o resto foi. Cancelaram-se recitais, atuações de grupos musicais e passeio.  Pelas 11.30 de dia 15 chegaram três aviões de Lisboa. Remarcou-se o almoço na Maia, com 20 pessoas. Reunimos ao jantar sob intensa chuva que iria persistir com intensos e cerrados nevoeiros. O Colóquio durou só dois dias, com personalidades ilustres pela primeira vez presentes [Camões (Instituto da Cooperação e Língua) e Diretor Executivo do IILP (Instituto Internacional da Língua Portuguesa) / CPLP]. Tudo correu no apertado horário com a precisão de um relógio suíço. Depois das boas vindas do Presidente da Junta, Jaime Rita, a Mostra de Artesanato e fotografias da Maia, a mostra de livros da Calendário de Letras, vídeos da Maia e da AICL.
Do discurso de abertura extraio:
“A freguesia ocupa a fajã vulcânica geologicamente jovem, dez mil anos. A Maia foi fundada no séc. XV, por Inês da Maia, do Lidador. Diz Vamberto Freitas (abril 9, 2011) “Do Bar Jade ao Grupo Balada”: “O movimento e o debate de ideias levaram ao primeiro encontro da Maia organizado por Daniel de Sá, Afonso Quental, Carlos Cordeiro, Urbano Bettencourt, e outros, que dinamizariam no Solar de Lalém essa convivência de escritores e estudiosos residentes no arquipélago, no Continente e na Diáspora, inclusive Brasil. A açorianidade era vivida e escrita nas mais longínquas geografias. A escrita açoriana numa fase de universalidade que naturalmente se revia nas mais variadas formas, nos mais originais e por vezes inesperados temas., para além do isolamento e subdesenvolvimento, emigração e guerra colonial».
A situação geográfica da Maia e descontinuidade da sede do concelho, fizeram dela uma alternativa para as populações na busca de bens e serviços acessíveis nas sedes de concelho, daqui derivando as legítimas aspirações de 500 anos para ser vila. Cremos que será uma questão temporal. A zona costeira dispõe de excelentes condições para natação e mergulho.
Nos últimos dois anos uma rica panóplia de eventos celebrou os 5 séculos da Maia, e Jaime Rita teve a visão de ser a primeira freguesia a receber um Colóquio, o que servirá de exemplo nestes dias em que por mor da crise, a cultura é das primeiras penalizadas nos cortes. Ao apostar nos Colóquios, quando municípios o declinaram, a Freguesia deu um exemplo de que os cidadãos não precisam só de betão, solidariedade social, nem de hortas comunitárias e festivais pagãos e religiosos, Assim recebem tão nobre audiência, de vários países e regiões. A cultura e a educação são a maior riqueza dum povo que não se contabiliza na fria natureza dos números da economia. Um povo culto está ao lado dos governantes na busca de soluções para as crises, sem se silenciar para pagar as dívidas da banca mundial. É esse povo que visamos conquistar. Advogamos que quem lê não se deixa esmagar pela fria ditadura dos impostos, na globalização neoliberal desenfreada, do lucro a todo o custo. Sustentamos a igualdade, a justiça e o mérito irmanados pelo poderoso elo comum: a língua em que comunicamos, trabalhamos e vivemos.
Em linha os Cadernos de Estudos Açorianos, dezena e meia, com um dedicado a Victor Rui Dores e outro ao dramaturgo Norberto Ávila que se junta a nós pela primeira vez. Neste biénio 2013-14, homenageamos Álamo Oliveira. Um trio de professores da EBI Maia musicou dele “O rimance de Dona Baleia.” Em primeira mão apresentamos traduzidos em várias línguas, ao vivo ou em gravação, dois poemas de Álamo «ganga azul» e «eu fui ao Pico e piquei-me». “
A Junta ofereceu um almoço de Sopas do Divino, na Gorreana (aqui produz-se o famoso chá) preparado por alunos da escola profissional das Capelas. Na RTP-Açores, o “Atlântida” especial foi dedicado ao Colóquio com Álamo Oliveira, Norberto Ávila, Helena Chrystello, Ana Isabel Soares (do Camões) e Laura Areias.
Apressadamente, fomos para a Livraria Solmar (Ponta Delgada) para apresentações literárias. Falei de Timor e do fardo de 24 anos em que fui das poucas vozes no jornalismo mundial sobre o problema, prelúdio para a apresentação da “Trilogia da História de Timor” em CD [1 Timor-Leste o dossiê secreto (1973-75), 2 Historiografia de um repórter (1982-93) e 3 Guerras tribais, a história repete-se (1984-2006)]. Concha Rousia apresentou o livro de 40 anos de vida literária de Chrys “Crónica do Quotidiano Inútil, Obras Completas” incluindo a reimpressão do primeiro volume publicado em 1972, vol. 2 (1967-75), vols 3 e 4 (1970-82) e o vol. 5 (após um hiato de 20 anos) que reúne poesia escrita entre 2010 e 2012. Helena Chrystello falou da “Antologia de Autores Açorianos Contemporâneos” (17 autores 2 vols.) que sucede à “Antologia bilingue” de 15 autores já no Plano Regional de Leitura. Por último, Concha Rousia apresentou “Nântia e a cabrita d’oiro,” infantojuvenil efabulada na história da Galiza. Seguimos para o jantar oferecido pela Associação Agrícola de S. Miguel, onde se degustou o bife com produtos açorianos, do pão ao queijo, vinho, ananás. Houve o privilégio de ouvir, o tocador de Viola da Terra, Rafael Carvalho (esteve na Lagoa em 2008) momentos expressivos que antecederam o jantar e, apesar de compromissos, Rafael não quis deixar de estar presente.
Houve recital de Ana Paula Andrade, Henrique Constância ao violoncelo e a estreia da soprano Helena Ferreira, com inéditos do Pe. Áureo da Costa Nunes de Castro (Pico, radicado em Macau), Cancioneiro açoriano e duas estreias musicadas por Ana Paula do poema «A Religiosa» de Álamo Oliveira e «Maria Nobody» de Chrys em trabalhos de qualidade excecional.

Seia - 20º Colóquio da Lusofonia 2014 Out.
Chegou o 20º Colóquio da Lusofonia, em Seia onde fomos recebidos pela Escola Superior de Turismo e Hotelaria do Politécnico da Guarda. Dos pontos altos a visita a Melo, a pequena e acolhedora aldeia de Vergílio Ferreira (onde foi guia, Catarina dos Santos, da Biblioteca de Gouveia com a sua amabilidade, cortesia e simpatia transbordante de amor pelo autor), Melo é uma aldeia nas faldas da Serra da Estrela, perto de Gouveia. A maioria das casas (muitas desertas) em bom estado de conservação e recuperadas (nem sempre com gosto, abundam as caixilharias de alumínio). Na praça a homenagem a Vergílio Ferreira, no chão, onde se assinalam as datas marcantes da sua carreira, nomes e datas dos livros. Ao fundo a casa Josephine, em honra da mãe (quando se naturalizou norte-americana). Uma antiga taberna serve de Museu improvisado. Muitas casas estão descritas na sua obra como se lia num panfleto. Tivemos tempo de depor uma coroa de flores no túmulo do autor.
Foi um roteiro cultural destes que propusemos em 2003. Ficamos na Quinta de Crestelo (curiosa semelhança do nome) e o dono era nem mais menos do que o ex-Alferes Alberto Trindade Martinho (professor universitário na UBI e Católica, Viseu) a quem passei a pasta de Editor-Chefe do jornal A Voz de Timor, há 39 anos. Jamais nos víramos neste hiato de décadas.
De serviço personalizado aprimorado, a Quinta tem valências desde os desportos radicais, às piscinas, observação de aves e espécies botânicas. Uma estadia que ninguém esquecerá. Resta-me congratular, o dono da Quinta, a Sandra Nunes, o António e demais pessoal pelo afeto, cordialidade, gentileza, disponibilidade, deferência, eficiência, zelo, atendimento personalizado, que fizeram desta uma estada que jamais olvidaremos. Bem hajam, voltaremos, pois este local personifica o que entendemos por turismo de habitação em ambiente rural com todas as valências (que não exploramos, à exceção do João Chrystello e do Henrique Constância).

Chrys Chrystello*

*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

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