Teocracia é um governo de inspiração divina ou conduzido por líderes que se consideram guiados pelo divino. Os membros desses governos são, habitualmente, líderes religiosos e o sistema legal desses estados é baseado na lei religiosa.
São disso, exemplos clássicos, estados islâmicos como o Irão e o Afeganistão e o Vaticano, na religião católica. Teocracias que têm, entre si, grandes diferenças. Sendo estas, abissais, quando falamos do Irão e do Vaticano.
Irão que representa um fanatismo pornográfico e um totalitarismo sem limites que, em nome de “Deus”, assassinou, desde setembro passado, cerca de 500 cidadãos, por delitos de opinião, e prendeu 20 mil com uma lista 109 condenações à morte. Os mesmos “ungidos” mulás que vendem drones à Rússia, para que esta prossiga a invasão a um país soberano.
Estado do Vaticano, por outro lado, que, embora mantendo ainda uma estrutura de poder teocrática, tem vindo a procurar a sua democratização, aproximando-se dos padrões de liberdade e aceitando a separação entre religião e estado, decretada pela maioria dos países europeus. Com um líder que procura a fraternidade e a paz e que veio trazer uma lufada de ar fresco.
A modernização das sociedades ocidentais tem conduzido, e bem, a uma progressiva separação entre religião e estado, instalando democracias laicas, mas permitindo, contudo, partidos de inspiração religiosa. Assim tem sido o caminho da Europa e do nosso próprio país.
Mas, quando seria de esperar o declínio do domínio teocrático, surge, em contra ciclo, Israel. Uma democracia liberal desde a sua fundação e que, agora, parece querer renunciar a esse estatuto e acabar com o Estado de direito que lhe granjeou a posição de única democracia do Médio Oriente.
A recente chegada ao poder, em Israel, dos partidos ultra-ortodoxos e de extrema-direita nacionalista, sob o cobertor do Likud liderado por um corrupto, tornará possível o bloqueio do sistema judicial que não poderá legislar contra iniciativas discriminatórias e antidemocráticas e permitirá a legalização presente e futura dos colonatos em terras palestinianas.
Situação que motivou uma carta de 1197 ex-oficiais superiores da Força Aérea israelita, alertando para a possibilidade de alteração das leis fundamentais que poderão fazer de Israel uma democracia de nome, mas sem essência. Carta dirigida ao Supremo Tribunal e à Procuradora-Geral do país.
Carta secundada por uma manifestação popular de cerca de 10.000 pessoas, em Telavive. Que protestou contra o novo governo e, sobretudo, contra a anunciada reforma do sistema jurídico que visa, essencialmente, retira-lhe autonomia e perseguir fins de limitação dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Não esquecendo que a principal das base de apoio do bolsonarismo, golpista e antidemocrático, foram e são, as igrejas evangélicas. Numa mistura de fanatismo religioso e exaltação dos valores da direita, caceteira e revanchista. Um caldo, explosivo, de intransigência e negação. E não ignorando, também, o apoio radical da Igreja Ortodoxa Russa a Putin.
Salvo honrosas excepções, as teocracias são, ironicamente, o caminho das trevas.
António Simas Santos *