Requalificações urbanas  em Ponta Delgada
Diário dos Açores

Requalificações urbanas em Ponta Delgada

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Já está em curso mais uma etapa da condenação (apelidada de requalificação) da antiga, pitoresca, histórica e valiosa paisagem urbana da Calheta Pero de Teive em Ponta Delgada. Sobre terrenos que eram públicos, com o aval ou a tolerância do Governo Regional e da Câmara Municipal, tendo o PS e o PSD na frente, atuando entre si de forma cúmplice e satisfazendo prioritária e ilegitimamente determinados interesses económicos antes dos interesses dos cidadãos, esta requalificação tem-se arrastado em sucessivas e dolorosas fases de execução desde 2003, malgrado a forte contestação pública que sempre a acompanhou até hoje.
Mais recentemente, numa inesperada mas pouco consequente atitude positiva, a Câmara Municipal ordenou a demolição parcial das galerias que ali se ergueram em 2008 e que nunca abriram, antes emporcalharam toda a zona.
No entanto, tal demolição não abrangeu, para uso futuro, uma das galerias, bem como o primeiro piso de betão das restantes, visando aproveitá-lo para parque de estacionamento. Em consequência desse facto, tanto para quem já vivia na antiga Calheta como para quem a observa do lado da marina, pouco diminuiu a gravidade do crime paisagístico ali cometido e que teve o seu início com a construção do monolítico hotel Casino, logo ali ao lado.
A prova disso ficou subitamente evidente, ainda que por pouco tempo, para quem passa pela marginal. Uma evidência ironicamente proporcionada pelo próprio carrasco da condenação da Calheta, a Asta Atlântica, que, de acordo com o projeto recentemente aprovado pelo município, ali vai construir, ao lado do Casino, mais um hotel. Isto porque o construtor, para executar as fundações desse hotel teve de demolir uma parte do primeiro piso das destrambelhadas galerias que tinha permanecido intocado por decisão da Câmara Municipal, abrindo involuntariamente, durante alguns dias, antes de a tapar depois definitivamente, uma janela fugaz para quem, não conhecendo ou tendo-a já esquecido, pretenda desfrutar de uma amostra da paisagem da antiga Calheta Pero de Teive, como ela era antes do crime continuado de que tem sido vítima desde há 20 anos a esta parte.
Resta saber qual a configuração definitiva e quando será executada a parte do projeto da Asta, frente ao hotel em construção, reservada para espaço público e de lazer,uma humilhante esmola urbanística com que os poderes públicos da região e do município entenderam brindar aqueles que nunca se calaram perante as trapaças e enganos em que foi envolvida desde o seu início a requalificação dos terrenos da Calheta Pero de Teive.
E de atalhada ocorre-me ainda comentar em dois parágrafos duas outras importantes requalificaçõe sem fase de execução na cidade de Ponta Delgada.
A requalificação do seu Centro Histórico, cujos projetos não passaram disso mesmo (e ainda bem) está já a ser executada, segundo o Presidente da Câmara, através de “uma intervenção suave, que vai respeitar o património e a vivência dos cidadãos”. Intenções que subscrevo. No entanto, não me pareceu nada acertado dar início às obras esta segunda-feira, de acordo com o anunciado pelo município, deixando os ponta-delgadenses sem saber em concreto de que obras efetivamente se tratam…
E o projeto da requalificação da orla marítima de Santa Clara que, de acordo com as garantias da sra. Secretária Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas estaria já concluído?


Mário Abrantes 
 

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