Diário dos Açores

Estupidifica-se esta passagem incomensuravelmente preciosa que é a vida

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Estou a acabar de almoçar sozinho num restaurante de Samora Correia e, porque estou só, facilmente reparo nos outros. Uma senhora loura, cheia de cremes, de baton e de casaco de pele, mulher para aí para os seus cinquenta e poucos anos, vem a correr, num espaço tão exíguo - meu Deus! - para pagar, como se estivesse a ser perseguida. As pessoas não param. Rodopiam. Correm. Extasiam. Querem chegar sempre primeiro. Odeiam ultrapassagens. Abominam tudo o que seja chegar primeiro que elas. Como se o tempo fosse elástico. Como se a vida esticasse. Como se o tempo fosse delas. E depois dão por si mortas a observar o lado de cá, a vida que já foi, supostamente longa e indizível, mas tão precariamente curta. E já não há mais olhos arregalados, nem convencimentos, nem superioridades, nem gargalhadeares balofos. Há silêncio perpétuo na perpetuação da morte inevitável. E não é que, tão tristemente, poucos se enchergam? Calma! Nada disto é nosso! Somos frágeis! Somos, inevitavelmente, finitos!

João Gago da Câmara *

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