Diário dos Açores

Estão a meter-nos a mão no bolso?

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Editorial

Não é uma metáfora. É, literalmente, o que parece estar a acontecer com a inflação dos bens alimentares nos Açores.
A inflação geral até está mais baixa do que a nacional (7,1% em janeiro contra 8,4%) e até melhor do que a inflação na Zona Euro (8,5%).
A pergunta que todos fazem, sobretudo à saída dos supermercados, é a seguinte: então como é que os preços dos bens alimentares estão mais caros nos Açores, quando ainda por cima temos o IVA mais baixo de todas as regiões do país?
A bem da verdade, na categoria dos bens alimentares e bebidas não alcoólicas, estamos com uma inflação ligeiramente abaixo da média nacional (18,3% contra 20,6%), mas é uma diferença muito curta que não explica os aumentos de preços com que quase todos os dias somos confrontados nos estabelecimentos comerciais da região.
Com o IVA mais baixo tínhamos a obrigação de registar uma inflação muito mais baixa nos alimentos e nunca estarmos praticamente ao mesmo nível da pressão inflacionista que se verifica no país, pelo menos nesta categoria.
Os transportes não podem servir de desculpa, porquanto a importação dos produtos continua a ser feita nos mesmos moldes de há um ano, onde a inflação dos bens alimentares era de apenas 1,13%!
Alguma coisa se está a passar na cadeia de abastecimento, na distribuição ou na política de preços nas prateleiras dos supermercados.
O Governo dos Açores já anunciou a criação de um mecanismo de vigilância de preços, publicando um relatório todos os meses para o público.
É bom que se apresse, porque falta explicar muita coisa nesta política de preços.
Partimos do princípio,  natural e óbvio, de que os empresários são sérios e não estarão dispostos a praticar ilegalidades, mas poderá haver sempre alguém que se aproveite desta pressão inflacionista para especular.
Da mesma forma que não percebemos algumas situações menos esclarecidas nesta área, ficamos ainda mais incrédulos com os critérios da ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos), ao aplicar aumentos completamente loucos na electricidade para as empresas dos Açores.
São outras perguntas que vamos ouvindo por aí da boca das populações: então temos montes de energias renováveis, geotermia principalmente, hídrica, eólica e os apoios do Solenerge, e sacrificam-nos com aumentos brutais?
Quem ganha com isso?
Sim, porque quem perde sabemos todos. São as famílias, os cidadãos contribuintes, porque será em cima deles que recairão os aumentos de custos dos produtos finais, como alertaram esta semana os empresários açorianos.
Se o governo continuar a assobiar para o lado, o peso da responsabilidade será tanto maior quanto mais demorada for a resposta.
Neste aspecto, tanto o Governo da República como o da Madeira foram mais lestos no apoio aos custos da electricidade, o que terá pesado para uma maior descida da inflação nacional.
Esta coligação só se mexe quando é espicaçada.
Convinha, também, que os deputados fizessem o seu trabalho.
São pagos para isso.

Osvaldo Cabral
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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