Diário dos Açores

O Capitalismo ganha saúde com a guerra e a inflação…

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Opinião

É só abrir os jornais e ver ou ouvir os títulos: “Grupo Santander com lucros record em 2022”. “A Galp quase duplicou os lucros em 2022 para cerca de 1.000 milhões de euros e propõe-se aumentar os dividendos”. “2022 foi um ano em cheio para as empresas portuguesas cotadas em bolsa, com aumentos de 30% nos lucros”. “Para 2023, os analistas preveem novos recordes, com resultados líquidos acima dos 5.000 milhões de euros”. 
O governo da república, e também os regionais a uma só voz, reivindicando méritos coincidentes, destacam o que foi para eles o mais importante e prioritário em 2022: o crescimento económico alcançado.
Não há pão? Comam crescimento económico! De que serve o crescimento da economia e dos indicadores que interessam a Bruxelas, se quem cá vive empobrece ou não tem sequer para comer? Se quem cá vive deixou de conseguir pagar a casa? Se o investimento público foi e continuará a ser substancialmente reduzido? Se os serviços básicos deixaram de dar resposta? Se quem cá trabalha ficou com os seus salários 5,2% abaixo de 2021? Se o valor recorde do turismo alimentou salários e condições de trabalho no sector cada vez mais desfavoráveis? Se os ganhos das exportações pagaram em maior escala salários próximos do salário mínimo? 
Do que estamos realmente a falar não é sobretudo do aumento da riqueza criada, mas antes da riqueza que não chega a quem a cria e que é redistribuída de forma cada vez mais gritantemente injusta: “Atualmente os 5% mais ricos de Portugal concentram nas suas mãos 42% de toda a riqueza criada por todos nós” (da imprensa).
Os nossos governantes, procurando contornar esta realidade incómoda, choram lágrimas de teatral impotência perante aquelas que afirmam serem as suas principais causas: a subida da inflação e a escalada da guerra. Consideram a primeira praticamente como uma inevitabilidade (ministro Costa e Silva) decorrente da subida dos preços da alimentação e energia, provocados pelas sanções à Rússia. E consideram, pasme-se, a segunda (a guerra) como uma necessidade incontornável…
Se o problema é a inflação, então que se controlem e fixem preços para e energia, os combustíveis e o cabaz alimentar essencial. Que se crie um regime especial para proteção da habitação própria; um regime especial para proteção da habitação arrendada; e ainda um conjunto de medidas para alargamento e disponibilização de oferta pública de habitação.
Se o problema é a guerra, então “Que o primeiro-ministro se empenhe no processo da paz, que é isso que os povos precisam, e deixe de meter ‘gasolina na fogueira’ que está instalada” (Paulo Raimundo).
Culpando a inflação e a guerra e não atuando, ou rejeitando propostas que, no caso da inflação, vão além de medidas assistencialistas de circunstância, para as combater de facto, fica claro que o governo da república, e também os regionais, estão a governar para alguns, mas não para o povo.
A saúde que o capitalismo, em particular o financeiro e armamentista, está a ganhar com a inflação e a guerra, é a moléstia que está a atacar os rendimentos da esmagadora maioria da população portuguesa…
Fica claro também que em Portugal ou nos outros países europeus que, de uma ou de outra forma, enfrentam esta insânia, ao povo só lhe resta sair à rua, como já está a fazê-lo, para clamar pela justiça que lhe falta… 


Mário Abrantes 
 

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