Diário dos Açores

Revitalização da Educação Física e do Desporto Escolar

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Aquando da criação da Secretaria da Educação e Cultura, no âmbito da Autonomia Regional dos Açores, foram organizadas 4 distintas direções regionais no sentido de dar resposta aos objectivos fundamentais do sistema educativo regional:
- A Administração Escolar era responsável pela gestão logística, financeira e do pessoal das escolas do ensino primário, preparatório, secundário e universitário;
- A Orientação Pedagógica tinha a organização e controle dos programas escolares;
- A Cultura fazia a manutenção e promoção do património cultural regional;
- A Educação Física e Desportos tinha como objectivo prioritário a educação desportiva (EF) no universo escolar e a sua interligação com a comunidade desportiva associativa.
Em Setembro de 1982, com a aprovação do então Secretário Regional da Educação, Dr. Reis Leite, apresentámos as principais linhas orientadoras do projecto de desenvolvimento desportivo que se pretendia para o arquipélago dos Açores. A educação psicomotora na escola primária era o seu ponto de partida, com continuação na aplicação dos programas da disciplina de EF no ensino preparatório e secundário de acordo comas etapas da formação desportiva. As actividades desportivas escolares eram organizadas na própria escola e tinham os seus pontos altos ao nível concelhio (ensino primário), Jogos Desportivos Escolares ao nível dos agrupamentos de ilhas (ensino preparatório) e os Jogos Juvenis Açorianos ao nível regional (ensino secundário).  
Em relação ao desporto federado a orientação prioritária residia no apoio à estrutura associativa existente (3 associações de desportos, 3 associações de futebol, e outras2 referentes à patinagem e judo) e, ainda, na criação de novos organismos (associações de modalidade) que garantissem a gestão e o enquadramento humano no processo de desenvolvimento das respectivas modalidades desportivas em cada uma das ilhas. Nesse sentido, os alunos do ensino secundário e universitário tinham acesso ao desporto federado através dos clubes tradicionais ou dos clubes desportivos escolares. Outro grande objectivo era a construção de novas escolas nas diferentes ilhas, dotadas de boas e funcionais instalações desportivas ao serviço da escola e comunidade envolvente, num processo de máxima rentabilização dos equipamentos desportivos escolares sem quaisquer encargos para o movimento desportivo associativo. O resultado está à vista, as escolas secundárias dos Açores possuem excelentes infraestruturas desportivas consideradas das melhores a nível nacional.
Como se pode verificar o projecto de desenvolvimento desportivo regional funcionava como um todo que tinha o seu início no sistema educativo e continuidade no associativismo desportivo. A formação académica e contínua dos professores e dos treinadores possibilitava o enquadramento técnico-pedagógico dos praticantes, quer no ensino desportivo ao nível escolar, quer no treino desportivo nos clubes desportivos. As vantagens conceptuais deste processo de desenvolvimento desportivo são enormes e menos dispendiosas. Se, adicionado a tudo isto, aproveitarmos o desporto como um factor importante na defesa da saúde e um meio fundamental no combate ao consumo de álcool, droga e tabaco pelos jovens, então verificamos que as vantagens da prática desportiva são inúmeras.
Entretanto, no decurso deste projecto de desenvolvimento desportivo regional, surgiu uma machadada na educação física (2007) que conduziu a uma ausência de orientação ao nivel da SREC e ao seu abandono em todos os graus de ensino. A transferência da educação física da DREFD para a Direção Regional de Educação foi uma decisão irresponsável, sem fundamentação técnica e pedagógica. Esta mudança radical na orientação política do sistema educativo/desportivo regional levou a que a mesma se tornasse idêntica à que existe no continente, quer dizer, sem projecto, sem educação psicomotora nas escolas do 1º ciclo do ensino básico, sem respeito pelas etapas da formação desportiva no ensino secundário, ou seja, a funcionar em roda livre e que conduziu o país aos últimos lugares da prática desportiva no contexto europeu, assim como às mais altas taxas de abandono precoce da actividade desportiva na Europa.
Como resultado desta infeliz decisão e o “deixa andar” instalado no sistema educativo, a juventude açoriana possui actualmente as piores taxas a nível nacional no aproveitamento escolar, no abandono escolar prematuro e no consumo de álcool, droga e tabaco. Um enorme retrocesso. Neste momento, a pesada herança deixada ao actual governo regional nas áreas da educação, ensino desportivo e juventude é problemática pelo que se torna necessário tomar medidas prioritárias e urgentes para dar a volta à situação no mais curto espaço de tempo.
 A Islândia, que eu conheço bem, é um país ilhéu com a mesma população dos Açores. Há uns anos atrás a sua juventude estava a atravessar uma crise monumental no que diz respeito ao consumo de álcool e droga com inevitáveis reflexos no sistema educativo e na saúde dos jovens. O problema foi resolvido através da implementação de diversos programas desportivos para todos os escalões etários em idade escolar, assim como na atribuição de bolsas de estudo aos estudantes/atletas que pretendessem ingressar na universidade e continuar a apostar no aperfeiçoamento e especialização desportiva.
A realidade actual açoriana aponta para uma estratégia semelhante que deve ser equacionada em conjunto pelas Secretarias Regionais da Educação, da Juventude e da Saúde, desde que o Governo Regional entenda o que a Educação Física (Educação Desportiva) e as actividades desportivas escolares representam na formação e valorização das crianças e jovens, assim como o papel fundamental que desempenha e alicerça todo o processo de desenvolvimento desportivo da Região Autónoma dos Açores.
A finalizar deixo uma sugestão. Há muita coisa que se pode fazer pelas crianças sem lançar dinheiro para cima dos problemas. Por exemplo, as crianças do 1º ciclo do ensino básico que têm tido pouca actividade devido à pandemia, deviam ser apoiadas, de imediato, com actividades de animação desportiva nas próprias escolas. Para tornar isso possível basta solicitar o voluntariado dos técnicos dos serviços regionais do desporto, dos directores técnicos associativos, dos treinadores profissionais de desporto e dos professores aposentados, para vestirem o fato de treino (3 manhãs por semana) e apoiarem as nossas crianças nas respectivas escolas. Não se esqueçam de levar a máscara, algumas bolas (o melhor brinquedo do mundo) mas, se não tiverem bolas apropriadas a essas idades, também podem utilizar bolas de trapos que servem perfeitamente para a aprendizagem motora e para as brincadeiras desportivas. Haja saúde.

Eduardo Monteiro *

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