Diário dos Açores

Instinto fatal

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Há qualquer coisa estranha nesta coligação que a empurra sempre para uma espécie de ‘instinto fatal’.
Como diz um velho dirigente social-democrata de S. Miguel, “estamos a assistir em directo a um suicídio político sado-masoquista, que só vai parar nas próximas regionais”.
De facto, o que vemos com uma regularidade impressionante, são tiros nos pés, em várias categorias da governação, com a maior infantilidade política alguma vez vista na coisa pública açoriana.
Na passada semana foram só mais dois seguidos: colocar à venda o Cine-Teatro Miramar, em Rabo de Peixe, contra todas as forças da vila e até do deputado do PSD e Presidente da Junta, o homem que segura o bastião social-democrata naquele importante território eleitoral, sentindo-se desprezado e humilhado por um qualquer iluminado que decidiu, no confortável gabinete do poder, riscar do mapa público uma infraestrutura histórica e crucial para a cultura de Rabo de Peixe, é mesmo de bradar aos céus.
Esta decisão diz tudo do que está errado nesta coligação: não sabe pensar, decide sem calcular os impactos, não define prioridades e trata a Cultura, como se viu com as desastradas nomeações da pasta, com uma incompetência maior do que os governos anteriores.
Quem decidiu uma barbaridade destas devia ser colocado num gabinete no meio do bairro do Caranguejo, para ficar a conhecer melhor a realidade rabopeixense.
Se o critério tonto, entretanto conhecido, é o de vender estruturas públicas que não se autofinanciam, então o que se seguirá? A venda do Teatro Micaelense? E depois o Coliseu? E a Igreja do Colégio? As bibliotecas públicas também estão arroladas?
Se os cofres públicos estão vazios e é preciso vender os anéis, então que se comece primeiro pelos dedos, coisa que os governos anteriores não souberam e que este vai pelo mesmo caminho.
Comecem, por exemplo, pelos campos de golfe, que se arrastam há mais de dez anos sem venda nem concessão, porque era uma coutada de emprego político para os governos anteriores e que este não mostra capacidade para se desenvencilhar.
Ou, então, poupem na quantidade de Observatórios e Institutos que ninguém sabe para que servem e quase que aposto que a coligação nem sabe quantos existem.
É óbvio que a decisão do Miramar vai ser revertida, como é padrão deste governo, pois quanto faz borrada volta atrás à mínima pressão, às vezes cedendo descaradamente onde não devia ceder, como aconteceu com os médicos.
Aliás, as declarações a destempo da Secretária da Educação e Cultura demonstram já um governo todo borrado e envergonhado com mais esta trapalhada.
A outra barafunda envolve o impagável Secretário das Pescas, um dos maiores activos tóxicos desta coligação, ao demitir uma administração competente por capricho pessoal.
Quanto vai custar à região, em indemnizações, este capricho do sr. secretário?
Como se troca uma administração de pessoas conhecedoras do meio para lá colocar outras sem qualquer experiência e mérito profissional naquela área?
Bolieiro, o maior e talvez único activo político desta coligação, em que todos estão fiados, não é suficiente para segurar um descalabro desta dimensão.
César e Vasco Cordeiro também não o foram e entraram em queda livre de eleição em eleição.
Perante tantas trapalhadas,  o maior partido da coligação, engolido pelos mais pequenos, está desaparecido e já nem reage perante os assuntos mais prementes, sobretudo em S. Miguel.
O filme parece repetir-se, em tão pouco tempo, por culpa própria da coligação, armada em Sharon Stone, sempre com o picador de gelo à mão de semear.
Só que este ‘instinto fatal’ a que vamos assistindo é um filme de terceira categoria, que nem consegue ser projectado no... Cine Miramar!

Osvaldo Cabral *
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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