Diário dos Açores

O bocejo dos Srs. deputados

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Ao tempo jurássico de fevereiro de 2017, o parlamento regional decidiu criar uma  Comissão Eventual para Reforma da Autonomia, que se reuniu pela primeira vez em 16 de março do mesmo ano.
Objetivo: apresentar um relatório em plenário, no prazo de um ano (!), a contar da data da sua constituição.
Estamos em 2023 e os deputados das legislaturas já passadas e mais esta já reuniram milhentas vezes, mudaram o nome da Comissão, contrataram a peso de ouro assessorias, fizeram trinta por uma linha e quanto ao tal relatório final, que seria no prazo de um ano... nicles!
Perante esta vergonha, os deputados decidiram agora... prorrogar os trabalhos por mais um ano!
Bom, se isto não é preguiça e uma profunda incompetência, com total desrespeito pelos cidadãos, presumo que ninguém saberá classificar tamanho desleixo.
De vez em quando vamos ouvindo, aqui e acolá, algumas “consensualizações” sobre vários temas, mas quanto ao fecho do relatório, já vai no tempo dos dinossauros.
E entre todos os assuntos em que os srs. deputados se vão “consensualizando”, há um que deixou de figurar na agenda, pelo menos do que se vai conhecendo publicamente: trata-se da possibilidade, defendida pelos maiores partidos, de cidadãos independentes constituírem listas próprias para se candidatarem às eleições regionais.
Há quem diga que o assunto parece ter-se tornado tabu, porque alguns partidos estão contra, temendo que os independentes possam provocar a extinção de algumas forças políticas, sobretudo aquelas que se constituíram como partidos caciques nalgumas ilhas.
Convém estar atento e vigilante.
Até lá, já todos sabemos, vamos assistir a mais uma “prorrogação”, que já vem desde 2017!
E assim se vai “aprofundando” a nossa política, até chegar ao fundo de um poço sem “prorrogação”.

Há uma notícia que passou praticamente despercebida nos últimos dias e que tem a ver com a especulação de preços à custa da inflação.
Só no mês de fevereiro a Inspeção Regional das Atividades Económicas (IRAE) levantou 16 autos de natureza criminal por especulação, em resultado de 52 acções inspectivas.
É um número considerável em tão poucas acções, pelo que se confirma aquilo que os consumidores denunciam e desconfiam: há muita gente a aproveitar-se da desculpa da “guerra” para encher os bolsos.
Ou seja, em apenas um mês a IRAE levantou mais processos por especulação de preços do que todo o ano passado, que tinha registado apenas 11.
Isso diz bem da necessidade deste organismo continuar com o seu trabalho a toda a força e que seja dotado de todos os recursos, humanos e financeiros, para proceder ao seu trabalho em defesa dos cidadãos consumidores.
O bom trabalho deve ser incentivado.
A não ser que haja alguém interessado que este trabalho também seja “prorrogado” para outras calendas.
Ficaremos também atentos.

Osvaldo Cabral *
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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