Diário dos Açores

O PSD-Açores existe?

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Após ter escrito aqui, há uma semana, o “Instinto Fatal”, confirmou-se tudo o que previa e, apenas três dias depois, Clélio Meneses veio confirmar ainda mais, com estrondo, que esta coligação não tem cura possível. Fatalíssimo como o destino.
A demissão de Clélio Meneses sinaliza que esta fórmula de governo não convence ninguém e os eleitores já se aperceberam que ela passa o tempo a consumir-se a si própria, embrulhada nos seus egos internos e na disputa do maior quinhão do poder.
A fórmula anterior, de maiorias absolutas, também não se mostrou melhor. Mesmo sem instabilidade governativa revelou-se pérfida a partir do momento em que os partidos no poder se julgam eternos e tornam-se ‘donos disto tudo’.
Então qual é a fórmula alternativa?
Não há resposta, por agora, atendendo ao nosso defeituoso e anquilosado sistema eleitoral, mas as alternativas ficam mais apertadas se a estratégia errada do PSD se mantiver, que é concorrer às próximas eleições regionais coligado com o CDS e PPM.
O PSD-A já deu provas, ao longo deste tempo, que está adormecido e submisso aos seus parceiros, que usam o poder como melhor lhes convém, apostando nos seus eleitorados das ilhas por onde foram eleitos.
O PSD de S. Miguel, por exemplo, desapareceu do mapa político, não tem opinião sobre nada, sobretudo quando relacionado com o maior círculo eleitoral e ninguém sabe quem são os seus dirigentes.
Não há pensamento crítico, ninguém do aparelho faz reparos e só aparecem os que vão vivendo das sinecuras do poder, iludidos numa bolha e com argumentos de quem vive em estado de negação.
O PSD-Açores perdeu a dinâmica crítica e interventiva que fazia parte do seu ADN, anda submisso, conformado, desorientado e nem tão pouco agradece o bom trabalho desenvolvido por Clélio Meneses, o que é sintomático da sua funesta gestão.
Já no caso do Cine Miramar foi penoso assistir à desorientação interna, onde, pela primeira vez, uma concelhia do partido, com o peso que tem a Ribeira Grande, se manifesta contra uma medida do seu governo, envolvendo gente do mesmo partido!
O bater de porta de Clélio Meneses é apenas mais um sinal da ausência de liderança política do PSD, todo feito em capelinhas conformadas com as mordomias do poder, sem tratar de saber que, para preservá-lo, tem de provar que o merece.
A atitude de Clélio Meneses é uma lição para governantes, políticos e partidos submissos
A única forma do PSD-A sair airosamente de toda esta aventura trapalhona é apresentar-se sozinho às urnas, como fez António Costa, depois da geringonça, conquistando a maioria.
Só assim os eleitores poderão avaliar o que vale cada um deles.
Arrastar consigo partidos sem expressão no maior círculo eleitoral e onde se ouvem as maiores críticas e desilusões a esta fórmula governativa, é arrastar toda a história do partido para o abismo.
Há muito estado de negação no aparelho social-democrata, para além da fragilidade da sua liderança.
O PS de Vasco Cordeiro também conviveu com isso durante muito tempo (e ainda vive com este fantasma).
Deu no que deu, sempre a afundar-se a pique.
A coligação segue o mesmo trilho, mas com o feito inédito de ser em menos de um mandato.

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TURBULÊNCIA NA SATA - A saída de Luís Rodrigues da SATA para a TAP é um rude golpe para a companhia, para o Governo Regional e para todos nós, açorianos, accionistas da empresa.
Luís Rodrigues era o principal obreiro da reestruturação da empresa e da preparação para a privatização da Azores Airlines.
Mesmo deixando o caderno de encargos pronto, faltava agora a parte mais difícil, que será o ‘road-show’ internacional para a respectiva privatização, o contacto directo com os possíveis interessados na compra e a preparação do resto da ‘holding’ para a recuperação da empresa.
Luís Rodrigues sai numa altura crucial e leva consigo matéria privilegiada que ninguém poderá garantir que não será utilizada em proveito da TAP, que é uma companhia concorrente.
Já a saída, há um mês, do administrador Mário Chaves para a Portugália, pareceu-nos estranha.
Estas saídas repentinas provam que os respectivos contratos não estavam blindados, o que é uma fraqueza inconcebível por parte do accionista.
O Governo queixa-se, agora, da falta de sentido de Estado da República, mas se tivesse elaborado um contrato blindado, precavendo estas situações, já não tínhamos este problema.
Tudo isto veio provar o que já tínhamos defendido aqui há muito tempo: empresas públicas desta dimensão deviam ter sempre um administrador dos Açores, que agora poderia reter toda a informação e histórico da gestão da empresa, ficando a transição mais suavizada. Quem vem de fora está de passagem, ganha currículo e vai-se embora mais dia menos dia, como acabou por acontecer.
Uma nova administração vai começar tudo de novo, ou seja, vai ter que estudar os ‘dossiers’, conhecer os cantos à casa e negociar uma privatização para a qual não está completamente preparada, o que é outra fragilidade para a SATA.
A não ser, como já se diz internamente, que seja nomeado alguém que já por lá tenha passado, que conheça bem a empresa, o que poderia facilitar todo o processo.
No plano político, esta intervenção do Governo da República é mais uma resposta aos socialistas açorianos, que gostam de dizer que o governo de Costa é amigo dos Açores: pois Costa resolve o seu problema na TAP e abre um berbicacho para os Açores resolverem.
Com amigos destes...

Osvaldo Cabral *
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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