Diário dos Açores

Desporto a melhor solução contra a droga

Previous Article 3ª. Semana da Quaresma
Next Article Conselho do FUNDOPESCA reúne Quarta-feira para compensação salarial aos pescadores devido ao mau tempo Conselho do FUNDOPESCA reúne Quarta-feira para compensação salarial aos pescadores devido ao mau tempo

Estamos cada vez mais preocupados com a quantidade de droga apreendida, de algum tempo a esta parte, em algumas ilhas dos Açores.  Aqui há uns anos, quando se falava em droga no arquipélago dizia-se que a mesma vinha nos iates oriundos das Caraíbas na travessia do Atlântico a caminho do continente europeu. Quando amarravam nos Açores para reabastecimento deixavam por cá umas beatas para satisfação de meia dúzia de consumidores. Agora, ao que tudo indica, já é um negócio e está organizado. Os traficantes são gente com idade para ter juízo. Segundo consta a clientela aumentou substancialmente. Para se consumir assim tanta droga, numa região como os Açores, é muito importante saber quem é a clientela.
Não acreditamos que os consumidores sejam a nova vaga de turistas na medida em que a grande maioria está muito mais interessada em  apreciar a natureza, respirar ar puro, encher os olhos com paisagens deslumbrantes, aproveitar a temperatura da água do mar para uns mergulhos, provar o nosso queijo e vinho, saborear o  peixe açoriano e toda a nossa deliciosa gastronomia. Eliminados os turistas ficamos com a população residente, sendo os adolescentes os mais vulneráveis aos distribuidores/vendedores que procuram conquistá-los e incutir-lhes o vício. Este é o primeiro passo para a destruição de seres humanos, ainda em crescimento, que também leva à destruição das respectivas famílias.
A questão que se nos coloca é se vamos ficar de braços cruzados ou fazemos alguma coisa? Contudo, para além de confiarmos no excelente trabalho que as autoridades policiais têm desenvolvido, temos que actuar imediatamente na prevenção tornando as nossas Escolas Seguras. Isto significa que os encarregados de educação, também devem estar atentos ao que por aí se passa e envolverem-se mais na vida da Escola na medida em que este tipo de problemas não se resolve, exclusivamente, com a contratação de mais seguranças profissionais. De seguida, e para que os alunos não tenham largos períodos de ócio é importante o prenchimento dos tempos livres com actividades pedagógicas socialmente úteis. Claro que os encarregados de educação também devem ser envolvidos e dar o seu contributo à comunidade que lhes educa os filhos.
Assim, é fundamental a criação em cada Escola Secundária de um Clube Desportivo Escolar, cabendo aos respectivos professores e encarregados de educação a responsabilidade de o dinamizar, integrando os alunos nas diferentes tarefas inerentes às actividades desportivas. O Desporto, para além de ser uma actividade do agrado das crianças e adolescentes, é um meio educativo de largo alcance, sendo praticado por milhões de jovens nos estabelecimentos de ensino à escala mundial. No entanto, torna-se imperioso a alteração, entre nós, do conceito do que deve ser a disciplina de Educação Física na Escola, tornando-a muito mais atractiva para os alunos.
A disciplina de Educação Física (Educação Desportiva) tem que ser orientada para a valorização dos alunos. Quer dizer, não fazer apenas animação desportiva ao longo de todo o percurso escolar. É necessário cumprir as etapas da formação desportiva. Para além do ensino desportivo em termos globais, a orientação e o aperfeiçoamento em modalidades desportivas de opção deve ser institucionalizada. O treino sistemático e a competição formal têm de passar a fazer parte da vida dos alunos sob a orientação dos professores. Cada escola deve elaborar um projecto desportivo integrado no Plano anual e plurianual, numa articulação virtuosa entre actividades curriculares e extra curriculares. Os torneios internos e a participação obrigatória nas actividades do desporto escolar a nível de cada ilha, de cada grupo de ilhas e de âmbito regional são fundamentais. Assim, torna-se necessário reforçar o papel das Escolas, nomeadamente os seus Departamentos de Educação Física, assim como os seus profissionais. As escolas devem constituir-se como parceiros privilegiados no processo de desenvolvimento desportivo regional.
Por sua vez os conselhos executivos devem ter especial atenção à elaboração dos horários escolares de maneira a que as aulas de EF (Educação Desportiva) funcionem em períodos diferentes dos das disciplinas teóricas, ou seja, umas de manhã e outras de tarde. Deste modo, os alunos já têm tempo para tomar banho depois das actividades desportivas o que favorece a imprescindível Higiene e Saúde Escolar. Quando as actividades escolares não são atraentes, quando existem alunos com dificuldades de aprendizagem, é fundamental o seu encaminhamento para as escolas profissionais. Se nada for feito nesse sentido, estamos a contribuir para o abandono escolar prematuro e o desvio para maus caminhos.
Por outro lado, as autarquias açorianas são das que menos investem no desporto no contexto nacional. A inexistência de programas desportivos organizados pelas autarquias na ocupação dos tempos livres, nos períodos de férias escolares, é uma enorme lacuna. Cabe a quem de direito, implementar um plano estratégico de ataque aos graves problemas resultantes do consumo de droga e, igualmente, de bebidas alcoólicas e de tabaco pela juventude açoriana. É aconselhável uma maior articulação entre as políticas públicas governamentais e as políticas autárquicas, no que diz respeito ao encaminhamento dos jovens para o desporto. Todos juntos não somos demais no combate a esta problemática.
Haja Saúde.

Eduardo Monteiro *

Share

Print

Theme picker