Diário dos Açores

As malassadas e os porquinhos

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1. Bem sei que, penso logo existo... Bem sei que a minha passagem pelo liceu Antero de Quental, em Ponta Delgada (1957-58) me abriu os olhos para a sociedade envolvente. E isso custou-me a perda de um ano escolar, uma vez que o professor de matemática me chumbou pelas faltas sucessivas e “correrias” para o Vulcão dos Capelinhos. Nessas andanças conheci o célebre vulcanólogo Haroun Tazieff e ficamos amigos para sempre. O mesmo aconteceu com a Professora Doutora Raquel Soeiro de Brito, primeira cientista a desembarcar na ilhota de Capelinhos, em corajosa conquista. Depois segui a minha vida, estudando, descobrindo e divulgando. No liceu de S. Miguel encontrava-se o Doutor Ilídio Sardoeira, um prestigiado estudioso das Ciências da Natureza, de comunicação e de divulgação. Na cidade, havia um jornal (O Açores), que recebia com evidente satisfação estudantes e outros admiradores de Capelinhos (Diretor: Cícero Medeiros). Enfim, o liceu Antero de Quental marcou a minha vida e os meus sonhos. A produção de energia elétrica através do calor vulcânico entusiasmou-me perante o relatório do príncipe italiano DiConti. Com o tempo enveredei por este caminho. Tive muitos salutadores, mas os bons amigos da ilha agarraram-me e conseguiram elaborar uma parte do meu destino. Depois da revolução de abril arranjaram-me gabinete no Palácio da Conceição. Infelizmente, aconteceu a selagem do meu gabinete por um serviçal do primeiro governo (por um tal Hermengardo). Felizmente, consegui obter cópias de todas as despesas relacionadas com esse projeto geotérmico.  
Entretanto, ingressei no Instituto Universitário dos Açores (em seguida Universidade dos Açores) e continuei a minha tarefa de colocar um vulcão a produzir eletricidade no meio do Atlântico e com dificuldades financeiras. Fui despedido desse projeto geotérmico e ingressei na já Universidade dos Açores.
Depois de dispendiosos insucessos os traquinas da Sociedade Geotérmica foram também despedidos e eu regressei com vista a fomentar as dimensões duma Central Geotérmica numa ilha isolada no meio do Atlântico.
A passagem do Doutor Monteiro da Silva foi mais um desastre a somar aos simpatizantes de um desenvolvimento geotérmico economicamente viável.
2 - Redigi trabalhos monográficos sobre os fluidos geotérmicos da ilha de São Miguel.
Entretanto, a empresa SOGEO é integrada na EDA (empresa elétrica regional). Essas fases ditas científicas permitiram a chegada aos Açores de equipamentos de prospeção, modernos e de fácil aplicação.
3 – Entre esses estudos encontrava-se um de particular importância, ou seja, a área da sismologia aplicada.
4 - Os equipamentos de sismologia eram modernos e funcionaram muito bem.
Desse modo, pedi autorização para esses equipamentos serem temporariamente removidos para a ilha Terceira, varrida por uma crise sísmica que causou avultados prejuízos. Na ilha Terceira apenas existia um sismógrafo.
Tivemos de aguardar a chegada de uma rede sismográfica do Instituto de Física do Globo, de Paris, e outro do Instituto Nacional de Meteorologia. Ao mesmo tempo o Governo dos Açores encomendava algumas estações sísmicas que depois foram instaladas ao longo dos Açores.
5 – Desse modo, os Açores ficaram contemplados com duas redes, uma dependente do Governo Regional e outra ligada ao Instituto de Meteorologia.
6 – Assim, o Arquipélago funcionou durante muitos anos, recolhendo dados importantes sobre o comportamento sísmico da região.
As informações recolhidas na rede do Governo Regional passaram ao secretismo lastimável e que ainda se mantém.
Estes comentários surgem na continuidade de uma crise sismotectónica na ilha de São Jorge. Inicialmente, os investigadores da Universidade dos Açores não compreenderam que se tratava de uma crise tectónica e de modo algum vulcânica. Já numa fase muito adiantada da crise sismotectónica é que se lançaram sismógrafos submarinos (os OBS).
O público, como eu, ainda aguarda os dados dessas estações, de certo muito interessantes.
7 – Milhares de pessoas abandonaram a ilha de São Jorge e regressaram mais tarde.
Quanto custou este fluxo migratório?
E os jatos VIP de Sua Excelência o Presidente da República?
Continuamos a aguardar, sem esperanças.
8 – Entretanto, os universitários decidiram cobrir os seus achados com festejos inacreditáveis.
Para que serviram as malassadas e outros fritos, ao que consta cozinhados na área da biblioteca, de livros e documentos preciosos? Felizmente, não houve fogo e o cheiro a fritos passou a impregnar corredores e arquivos.
E para que serviu o porco abatido em honra das tunas visitantes?
Só faltou contratar o Quim Barreiros para esse fim libidinoso e incompatível com um campus universitário. Juízo não se compra na botica da Ribeirinha, nem pode ser injetado no cérebro de quem não o tem.
Os Açores deram um mau exemplo. Até quando?

Victor Hugo Forjaz*

* Vulcanólogo

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