Diário dos Açores

Liberdade

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Transparência

Que nada nos defina, que nada nos sujeite.
Que a Liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser Livre.
(Simone de Beauvoir)

Com o aproximar de meio-século – em 2024 - que comemora o golpe militar de 25 d’abril de 1974, teremos já mais tempo de vivência em regime livre do que aquele que tivemos em ditadura.
Apesar de tudo o que de mal nos possa ter acontecido, ou das inúmeras queixas que legitimamente possamos ter aqui e ali sobre atuações do atual regime, não restam dúvidas para ninguém que só o facto de nos podermos queixar seria, já em si mesmo, sinónimo de Liberdade.
Mas o golpe militar que trouxe o povo, em massa, espontaneamente para as ruas para apoiar os militares, transformou esse momento. E embora a estratégia tenha ainda perdurado sob controlo dos militares durante meses, o povo passou a chamar-lhe revolução. E dias depois, pelo ato simbólico da florista que meteu um cravo na boca da espingarda G3 do soldado na baixa de Lisboa, o romantismo passou a adjetivar-lhe Revolução dos Cravos. E assim ficou conhecida para os anais da História. É assim conhecida em várias línguas e países e é assim que gostamos de lhe chamar. Faz parte da índole cultural.
A partir desta semana, entramos no ano comemorativo 1974 – 2024, de sublime importância para todos e todas. Enquanto jovem em idade adulta, vivi emocionado esses momentos. Ao atravessar o tempo – ou ser atravessado por ele – só posso deixar um testemunho aos que não assistiram a tal bendito dia, porque ainda não eram nascidos.
A Liberdade é essencial à própria condição do ser humano.
Em Liberdade de Pensamento, as produções artísticas foram imensas: Artistas plásticos, produções literárias, no cinema e teatro, na rádio e televisão e muito, muito mais.
Liberdade de ação política. Eleições livres, com o Povo a depositar o seu voto nas urnas livremente. A disputa partidária debatida de forma aberta na rádio ou televisão.
O divórcio autorizado. O casamento entre pessoas do mesmo género. A existência, abertamente e sem medos de várias confissões religiosas.
As mulheres poderem viajar com o seu próprio passaporte sem autorização dos maridos. Ou terem a Liberdade de pedirem divórcio. Ou poderem queixar-se de maus tratos do marido e a Justiça agir.   
Admirar-se-ão os mais jovens com algumas restrições que hoje são vulgares. A isso e a muito mais, chamamos LIBERDADE.  
A ditadura que durante 48 anos forçou o país ao silêncio ensurdecedor, provocou os maiores surtos de ignorância, analfabetismo, pobreza e doenças, insularidades completamente abandonadas à sua sorte e tudo aquilo a que a História se encarrega de contar.
Nestes cinquenta anos de Liberdade, outros acontecimentos de relevo se juntam, como os 50 anos do Partido Socialista. Os partidos políticos foram outra conquista da Liberdade. E nessa Liberdade, despontaram nomes ilustres. Líderes políticos como Mário Soares, cuja personalidade foi moldada – não nas jotinhas – mas nas prisões de Salazar.
Nos Açores, abril de 1974 foi o início de nova Era, como se as Ilhas Atlânticas fossem descobertas pela segunda vez. Abandonadas à sua sorte durante séculos, puderam ganhar desde então os seus governantes próprios que, inloco podiam responder às necessidades do povo e da própria Terra. Os Açores, bem ou mal, governam-se no mínimo dos mínimos. Persistem ainda os centralismos egocêntricos de São Bento, mas em paralelo existe a Liberdade de reivindicar mais e mais.
O primeiro presidente do Governo Açoriano, foi João Bosco Soares da Mota Amaral, que completou, há dias, os seus magníficos 80 anos em Liberdade, com os seus correligionários e amigos.
Nada pode ser mais prejudicial a um povo ou uma pessoa, do que a falta de liberdade. As prisões e os castigos prisionais são prova disso mesmo.
Todos temos de preservar e defender, a qualquer custo, este bem incontestável.
Que ninguém nos tente retirar o espírito individual ou a alma coletiva.
LIBERDADE, SEMPRE.
“A Liberdade é contagiante. É por isso que os déspotas a temem tanto.”

José Soares *

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