1º de Maio
Diário dos Açores

1º de Maio

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No primeiro dia de Maio as portas ou janelas de muitas casas ostentam, pelo menos, um pequeno ramo de giesta. É uma antiga tradição, cujas origens, de reminiscências pagãs, que se liga aos ritos de fertilidade, do início da Primavera e do novo ano agrícola, como ainda ao afastamento do mau-olhado e das bruxas para a casa. A minha mãe (1923-2021) sempre manteve essa tradição, e recordo estar já no liceu e ir pressuroso, de véspera, entalar as maias nas janelas do apartamento no 1º andar onde vivíamos.

Dizem os noticiários que é dia 1 de maio – importante data que celebra o dia do trabalhador nalguns países. O Dia do Trabalhador, Dia do Trabalho ou Dia Internacional dos Trabalhadores é uma festa internacional cuja origem é a campanha dos trabalhadores pela redução do tempo de trabalho a uma jornada de oito horas, no fim do século XIX. É celebrado anualmente no dia 1º de maio em quase todos os países do mundo.
No período entre guerras, a duração máxima da jornada de trabalho foi afinal fixada em oito horas na maior parte dos países industrializados. Por essa razão, o Primeiro de Maio tornou-se um dia de celebração dos trabalhadores e trabalhadoras em quase todo o mundo, tornando-se também uma data de importantes manifestações do movimento operário. 
Em Portugal, só a partir de maio de 1974, após a Revolução dos Cravos, é que se voltou a comemorar livremente o Primeiro de Maio, e este passou a ser feriado. Durante a ditadura do Estado Novo, a comemoração era reprimida pela polícia. 
O Dia Mundial dos Trabalhadores é comemorado, com manifestações, comícios e festas de caráter reivindicativo, promovidos pela central sindical CGTP-IN (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses, Intersindical), assim como pela UGT (União Geral dos Trabalhadores).
Aqui na costa norte da ilha de São Miguel Arcanjo, Açores, pelas oito horas da manhã já os padeiros distribuíam pão, os vaqueiros há várias horas que estavam na ordenha das vacas. Pelas 8 e meia chegou o homem que me roça o quintal cheio de ervas. Pelas 9 horas , o minimercado estava aberto (só fecha em feriados que são dias santos), e todo o pessoal trabalhador  continuava na labuta como se de um dia normal se tratasse. Noutros anos, se não tivéssemos recusado, até a empregada doméstica teria vindo trabalhar. 
Contei isto apenas para dizer que há coisas nesta aldeia (senhor, por favor chame-lhe freguesia) que me fazem lembrar Trás-os-Montes no mais retrógrado dos anos 1950 a 1970. Seria de esperar 49 anos depois do golpe de abril 1974 (a dita revolução dos cravos) que algo tivesse evoluído, até porque a empregada doméstica e amigas usam o Facebook e outras tecnologias no seu smartphone última geração. 
Mas pelo que vi, neste dia sagrado para os que trabalham, este feriado de nada serve.
Há anos que na vizinha Maia, um pouco mais evoluída, fazem desfiles da velha tradição dos “maios” em homenagem à sua fundadora Inês da Maia.
 Os “Maios” são figuras tipo espantalho  que representam pessoas, em tamanho natural, vestidos com trajes rurais, mas também urbanos, surgindo em grupo ou isoladamente e representando cenas do quotidiano, sendo colocados nas portas e janelas das habitações, bem como em espaços públicos, como jardins, e em instituições diversas. Cada vez mais os “Maios” são usados para a sátira social e política através de cartazes colocados junto das figuras, tendo a tradição, segundo os historiadores, origem em antigos ritos e cultos agrários, visando assinalar o final do inverno e a chegada da primavera. 

Chrys Chrystello*
*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

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