“Há empreendedores e nómadas digitais que querem saber como é trabalhar nos Açores”
Diário dos Açores

“Há empreendedores e nómadas digitais que querem saber como é trabalhar nos Açores”

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WEB Summit inicia no Rio de Janeiro cruzada pelas Américas

Desta vez, a viagem pelo Atlântico aconteceu no sentido inverso.
Portugal esteve no Brasil para acompanhar a primeira edição da Web Summit Rio.
O país irmão se confirma como mais um polo expressivo para quem busca talentos do digital e financiamentos nas mais diversas áreas em toda América Latina.  
Em entrevista exclusiva para o Diário dos Açores, a Diretora Municipal de Economia e Inovação da Câmara Municipal de Lisboa, Ana Margarida Figueiredo, comentou sobre o momento no relacionamento comercial com os Açores.
“Ainda não formalizamos parceria oficial, mas isso nos interessa. Temos visto as notícias do polo tech da Ilha Terceira e procurado informações, porque há empreendedores e nómadas digitais e empreendedores que querem saber como é trabalhar nos Açores, principalmente a partir da facilidade do trabalho remoto”.
Figueiredo também confirmou um cenário positivo para o fechamento de negócios da Web Summit Rio de Janeiro.
“Criamos um ecossistema favorável com vários programas de apoio às startups e scale ups e queremos evoluir e posicionar Lisboa de uma forma ainda mais global, ao trabalhar na capacidade de atração de Lisboa. Portanto o Brasil é um destino natural para nós. Não há sobreposição, mas sim complementaridade”, acrescenta.
Para os que ainda duvidam da efetividade da cimeira, a diretora afirmou que a partir da realização da Web Summit Lisboa 2017, a capital portuguesa passou a ser reconhecida por outras competências além do turismo.
Segunda ela, “é uma estratégia de crescimento económico com impactos importantes a médio e longo prazo.
”A presença portuguesa também ganhou força com os esforços da Startup Portugal, que levou para a cimeira 14 startups portuguesas no âmbito do programa Business Abroad.
A delegação que acompanhamos este ano à primeira edição da Web Summit Rio destaca-se pelo estágio adiantado das startups que vão representar Portugal no Brasil.
Ao todo, já levantaram 28 milhões de euros e todas elas estão prontas para ativar e desenvolver as suas operações no mercado brasileiro”, declarou o Diretor Executivo da Startup Portugal, António Dias Martins.
 Representante da Macaronesia
presente

A agenda contou com uma comitiva caboverdiana.
Perguntado pelo Diário dos Açores sobre os esforços conjuntos por negócios digitais com o Brasil por parte da Macaronésia (formada pelos arquipélagos dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde), Silva declarou: “somos uma ponte que liga ilhas com muitas afinidades e potencial no digital”.
O primeiro-ministro do Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, convidou a audiência a renovar seus conhecimentos sobre o país. Segundo o governante, o Brasil também faz parte da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa - CPLP e isso torna mais natural a procura bilateral por mais oportunidades.

Temas reforçam a visão
da tecnologia em prol do futuro das pessoas. Amazónia

A emoção dominou a plateia quando a jovem ativista indígena Txai Suruí entrou no palco entoando um canto que evocou o acolhimento do homem.
Recepcionada pelo apresentador Luciano Hulk, unanimidade entre os brasileiros por usar seu poder de alcance para defender causas e minorias, Suruí ressaltou o poder da boa comunicação e convivência entre os povos das florestase os demais.
Segundo ela, é preciso haver uma união universal urgente para “reflorestar mentes, reflorestar corações”.
Hulk afirmou que 27milhões de pessoas moram hoje na floresta e que, sem a perspectiva de trabalho e desenvolvimento sustentável, só resta a esta população cortar, vender árvores e devastar a Amazónia.

Racismo

De volta ao palco central, a activista afro-americana Ayo Tometi reforçou o coro de que “vidas negras importam”.
Foi recebida por Maju Coutinho, ela mesma um exemplo de superação como mulher negra, apresentadora e âncora na TV Globo, uma das maiores redes de comunicação do planeta.
Assim, o encontro ganhou uma verdade especial.
Há muito tempo o brasileiro não faz jus à alcunha de “homem cordial”, criada por Sérgio Buarque de Holanda, em 1936.
Foi sob essa ótica, que a nação brasileira ganhou o estereótipo de ser formada por pessoas que estão sempre de bem com a vida, apesar das dificuldades.
O cenário hoje é bem diferente. Os negros são mais de 70% das vítimas de crimes violentos no país e o racismo estrutural convive entre os brasileiros.
Tometi chamou a responsabilidade da plateia tech, ao afirmar que “estamos usando as ferramentas, mas não seremos usados por elas. As grandes plataformas preferem os mesmos tipos de voz. Precisamos dos dados que mostrem nossas conquistas.”
Perguntada sobre a motivação de sua militância, Ayo referiu-se ao significado do seu nome, que em dialeto nigeriano significa alegria.
“Alcançar a alegria é alcançar a justiça”, finalizou.

Diversidade
No estande da Bolsa de Valores Brasileira - B3, o fundador do Instituto Locomotiva, Datafavela e iO Diversidade, Renato Meirelles, deu um recado importante para as empresas na era digital.
Especialista no mapeamento de populações e setores vulneráveis em mercados emergentes, Meirelles afirmou que nenhuma empresa pode se dar ao luxo de não se posicionar frente à diversidade e estabelecer suas políticas de relacionamento com as chamadas minorias em relação à raça, poder aquisitivo, pessoas com deficiência, género ou opção sexual.
Segundo Meirelles, “já foi a época em que dava para uma empresa ficar na neutralidade em relação à diversidade. Neutralidade é considerada posicionamento” e, segundo ele, um lugar ruim a ocupar em qualquer país.
É o que mostra o guia “Pratique ou Explique” sobre as boas práticas de inclusão no mundo corporativo, lançado pela B3durante a cimeira.
No Brasil, os dados apontam que 72% de todo o consumo vem deste grupo de brasileiros que vive à margem.  
De cada três consumidores, dois preferem marcas que tenham valores iguais aos seus.
“Sem aceitar a diversidade, não há futuro possível nos negócios”, finalizou Meirelles.

Descarbonização

PHD´s das Universidades Federais do Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Norte estiveram reunidos em debate no estande da GALP, onde possível entender melhor os desafios da diminuição na emissão de CO2.
Apesar da adoção de novas fontes de combustível depender da realidade de cada país, o nitrogénio verde começa a ser consenso.
O Brasil ocupa uma posição de protagonismo por contar com 43% de sua matriz energética renovável.
Há décadas, o etanol e o biodiesel são realidade.
Enquanto os países estão em busca do carbono neutro, o Brasil está em busca do carbono negativo, ou seja, ir além da neutralidade, ao eliminar mais moléculas de carbono do que as emitidas, o que torna o país uma nova potencial ambiental.

Inteligência artificial

O tema está fervendo em todo o mundo, especialmente depois que as chamadas big techs, as maiores empresas de tecnologia do Globo, decidiram pausar suas pesquisas até que haja um consenso de como deve ser a relação entre o homem e a inteligência.
 O debate ganhou os holofotes na semana passada, quando a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, convocou Bill Gates, Elon Musk, entre outros, para discutir uma forma de regulamentação deste novo metaverso.
Um dos estopins desta discussão é o recém-lançado assistente virtual CHATGPT.
Capaz de desenvolver conteúdos de forma artificial sobre qualquer tema, a ferramenta reabriu o temor sobre a substituição da mão de obra humana em centenas de áreas e, no pior cenário, a produção de fake news, informações falsas e desatualizadas como efeitos nocivos às sociedades.
Na Web Summit Rio, os painéis abordaram áreas críticas como a produção como a evolução do mercado de trabalho, das pesquisas científicas, ética no jornalismo, cyber segurança, educação e capacitação de novas descobertas em termos de inteligência artificial.

Comida do futuro

Ainda no tópico da inteligência artificial, a chilena Not Co, que produz alimentos à base de proteína vegetal, explicou o complexo processo de obtenção de seus produtos “NOT”, ou seja, leite que não é leite, hamburguer que não é de carne, não-poluidores, não-exploradores de maus tratos aos animais, não-maléficos à saúde e por aí vai.
NotCo é sobre inteligência artificial à mesa.
Why not? O Chief Marketing Officer – CMO da NotCo, Fernando Machado, discursou sobre a convivência harmoniosa entre inteligência artificial e o ser humano.
O sistema inteligente que desenha os produtos NotCo chama-se Giuseppe, apelidado assim por conta do artista renascentista Giuseppe Arcimboldo, o renascentista que antecipou o surrealismo pintando seus quadros a partir de composições frutas, flores, peixes etc formando figuras humanas.).
Segundo Machado, enquanto a equação da produção dos alimentos pode ser mais simples e benéfica a todos, a indústria voraz segue reduzindo a vida no planeta.
Um porco viveria normalmente 23 anos. Uma vaca, 49 anos. Um frango, 13 anos. E graças aos modos produtivos extensivos e nocivos, eles vivem apenas algumas semanas e, no caso do frango, alguns dias... É uma aberração continuar contribuindo para isso.
Mas o ponto de interrogação que sempre ficou por aqui é: para que imitar os sabores das proteínas e alimentos de origem animal?
Na visão da NotCo, o comparativo de sabores é um começo: “Serão criados alimentos como nunca vimos. Podemos recriar o que já existe e o que ainda será imaginado”, finalizou Machado, honrando a máxima de que onde se reflete sobre digital e futuro é possível transmutar do colapso atual dos modos produtivos para a prosperidade global.

Ingressos totalmente esgotados em poucos dias.

A Web Summit mostrou o impacto da cimeira de inovação e a força motriz de seu modelo de negócios para startups, investidores, corporações e governos para qualquer nação do globo.
Perguntado pelo Diário dos Açores sobre a possibilidade do encontro nas Américas esvaziar a presença brasileira em Lisboa, Cosgrave esclareceu que o efeito tem sido justamente o contrário.
“Desde que o evento satélite foi lançado, houve um crescimento exponencial nas inscrições de brasileiros e de aproximação de marca. A comunidade do Brasil, que tradicionalmente ocupa o terceiro lugar em termos de participantes, estará ainda maior na Web Summit Lisboa 2023.”
As expectativas iniciais de adesão para a Web Summit Rio foram totalmente superadas e estiveram presentes mais de 21 mil participantes, representando 91 países.
Segundo Paddy Cosgrave, fundador e CEO da Web Summit “o Brasil é um grande player global e o mundo da tecnologia veio ao Web Summit Rio para ver o que está acontecendo na região e na América Latina”.
Segundo ele, a exemplo do que já aconteceu na Europa, serão necessárias obras de expansão nas instalações da Web Summit Rio para acomodar o crescimento projetado de mais de 100%, já em 2024, em que as projeções estão em 40 mil participantes.

Autoridades brasileiras comemoram a aceleração tech até 2028

O Prefeito Eduardo Paes mostrou entusiasmo na chegada da Web Summit para alavancar a cidade do Rio de Janeiro como porto digital, hub de talentos de toda a América Latina.
A parceria com a Web Summit assinada em contrato vai até 2028.
Paes prometeu honrar a remodelação do entorno do centro de convenções no bairro nobre da Barra da Tijuca e foi além, anunciando a criação de um distrito digital para receber a comunidade tech na cidade maravilhosa.
Nos próximos dias também será anunciado um fundo especial de apoio ao desenvolvimento de negócios digitais.
“A Web Summit Rio é o passo decisivo de um plano ambicioso que é transformar o Rio de Janeiro na capital da inovação na América Latina”, concluiu Paes.

Web Summit Lisboa
e a edição brasileira

Desde 2018 o Diário dos Açores tem presença marcada e promove uma das mais completas coberturas da maior cimeira tech da Europa.
Nesse sentido, foi possível traçar um comparativo com o evento satélite realizado nos Rio de Janeiro.
Não há dúvida que os participantes têm o mesmo perfil em todo o mundo: jovens entusiasmados, pessoas dinâmicas, investidores visionários e bem-dispostos a promover o novo nos negócios.
No entanto, deu para notar que cada país é um novo ecossistema a ser desbravado.
No Rio de Janeiro, o estrangeirismo incomodou. A convenção realizada toda em inglês, algo natural na Europa, foi um motivo de queixa no entendimento dos conteúdos e mesmo entre os palestrantes.
Nesse sentido, em 2024, a Web Summit proverá tradução nas 6 línguas prioritárias.
Em relação ao clima, a sensação térmica foi de quase 30 graus, o que tornou as caminhadas pelos grandes espaços um esforço físico extenuante.
Por conta da própria capacidade exigida pela cimeira, a prefeitura destinou para o evento o Rio Centro, um parque de convenções de 570 mil metros quadrados.
Localizado em um bairro mais afastado, em Jacarepaguá, a multidão de mais de 20 mil pessoas enfrentou dificuldades em termos de mobilidade.
Há de se pensar em um sistema eficiente de autocarros em circuito exclusivo.
Esses foram desafios estruturais que deverão ser sanados, mas nada que afetasse o entusiasmo dos participantes e o brilhantismo de seus mais de 400 palestrantes, em 4 dias de conhecimento e network intensos.
Na parte da segurança, o evento transcorreu bem policiado, sem maiores intercorrências.
Muitos participantes de outros países, além de brasileiros de todos os estados, foram se divertir nas festas da Web Summit Night, como nas rodas de samba da Lapa, bairro tradicional da noite carioca. Outro destaque ficou por conta da vegetação tropical que saudou a todos com sua generosidade e beleza. Sobretudo, as divisas geradas pela Web Summit interessam muito a cidade Rio de Janeiro. De acordo com as análises da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Económico, Inovação e Simplificação (SMDEIS), o aporte esperado em cinco anos é de R$1,2bilhões (mais de 200 milhões de Euros), uma nova receita difícil de se conquistar, em tão pouco tempo, a partir da simples visão de que o mundo será diferente.
E vem mais por aí: Paddy Crosgrave, CEO Web Summit já adiantou que em 2024 ampliará seus limites para o Qatar.

*Correspondente exclusiva do
Diário dos Açores no Brasil

por Marisa Furtado*

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