Diário dos Açores

Violência e “fim” do COVID

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Saúde Pública e a Saúde do público, semana a semana (5):

Os números da semana:  a importância da Verdade, na Gestão em Saúde

Com alguma frequência vemos, em política, números serem usados, sem a necessária correção técnica. A propensão que alguns têm  para “criarem” informação é enorme, pelo que quem preza a Verdade, e respeita o povo, deve estar sempre atento para não ser enredado em falsidades, até lesivas dos que estão do lado da Verdade.

A Sra. Secretária regional da Saúde informou, esta semana no parlamento açoriano, que o Hospital do Divino Espírito Santo (HDES) em Ponta Delgada, chegou a ter (em 31.12.2020), uma dívida a fornecedores de 145 milhões de euros, dizia-nos uma nota da LUSA, na passada 3a feira.
 
“Qual é o prazo de atraso nas facturas do HDES em relação a fornecedores?”, perguntou o deputado liberal, eleito pelo círculo da compensação, no parlamento açoriano.
Na página 119 do “Relatório e Contas” de 2021, do HDES, podemos constatar a resposta, clara e objectiva:

Recorrendo apenas a este Relatório, pois o de 2022 ainda não é público, podemos verificar que a dívida a fornecedores em 2021 diminuiu o seu prazo de pagamento em 130 dias (mais de 4 meses), quando comparada com 2012 (ano em que era Presidente do Conselho de Administração do HDES a sra Dra Margarida Moura).
Mais: a dívida em 2021 diminuiu 80 dias (quase 3 meses), em relação a 2020, uma descida de mais de 20%!
Todos sabem que em 2021 houve uma forte aposta no combate às listas de espera no HDES, tendo sido também (a par de 2022) um dos piores anos da Pandemia do COVID19 em São Miguel.
Ou seja, alguém isento (e sem agendas escondidas que o mobilizem), após ter acesso a esta informação objectiva concluiria, por exemplo, que “em 2021, a gestão do maior hospital público regional açoriano, demonstrou ser mais amiga dos utentes e dos fornecedores, do que as gestões dos 10 anos anteriores”.
A beleza da objectividade (e frieza dos números) está no facto de facilmente derrubarem a maledicência e a propaganda (sobretudo a negativa). Basta ser sério, compreender os números, e não ser movido por um qualquer ódio especial ao serviço público de saúde. Que muitos ainda não entenderam que é a única possibilidade de conseguir prestar assistência sanitária universal, num país pobre, como é Portugal.

Os dados científicos da semana: o fim da Emergência COVID19

A Organização Mundial da Saúde declarou na passada sexta-feira (05.05.2023) que a pandemia do COVID19 já não é uma emergência de saúde global. Porém, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou que o anúncio “não significa que o covid-19 acabou, como uma ameaça à saúde global”.
Na mesma altura, especialistas consensualizaram que há cerca de 20% de probabilidade de, durante os próximos 2 anos, ocorrer um surto tão grave quanto o da variante ómicron; alguns cientistas apontam mesmo para 40%.
Falamos de especialistas em epidemiologia, virologia, imunobiologia, que analisaram a probabilidade do vírus voltar a desenvolver mutações, que lhe permitam fugir da protecção de vacinas e tratamentos.
Nos EUA o governo Biden está a avaliar a diminuição da equipa de resposta ao Sarscov2, e estabelecer medidas destinadas a fornecer proteções pandémicas a longo prazo. Várias medidas - incluindo um programa de vacinas de última geração e um programa de cobertura de vacinas e tratamentos para quem não tem seguro de saúde - estão em risco.
Tanto nos EUA, em Portugal continental, e nos Açores, agora é tempo de alertar para a necessidade de implementar e reforçar os serviços de saúde pública, e a Autoridade de Saúde, para protegermos as comunidades contra a próxima ameaça viral. Agora,  que a vontade política e o financiamento diminuíram, com a diminuição do nível de alerta para o Sarscov2.
Cada dia que passa perdemos tempo na preparação da próxima pandemia.
Só é possível agir com rapidez, agilidade e robustez se soubermos o que está a acontecer. Sabemos que os casos de covid, e as mortes a ele associadas, caíram nos últimos meses. Em saúde pública facilmente atribuímos tal à imunidade conferida pelas vacinas e infecções anteriores.
O potencial dos ajuntamentos em espaços fechados aumentarem o número de infecções permanece elevado, conforme ilustrado pelas três dúzias de casos associados a uma conferência do CDC, na semana passada. O vírus continua a ser uma das 10 principais causas de morte este ano, com as mortes concentradas em indivíduos mais velhos e imunodeprimidos.
Eric Topol, diretor do Scripps Research Translational Institute, dizia na semana passada: “O que a maioria das pessoas não entende é que este vírus não se vai embora”. E, estando sempre “por aqui”, sendo endémico, pode sempre, a qualquer momento, tornar-se de novo um problema grave. O que devemos fazer, então?
Usando uma metáfora simples, vigiá-lo. Colocar um sistema de vigilância, tal e qual como as  “câmaras de vigilância” servem para proteger a comunidade. Objectivamente, o investimento com essas “câmaras de vigilância” é, e será sempre, mais barato do que os custos que podem advir se num futuro próximo tivermos de passar, de novo, por medidas lesivas da liberdade dos povos.

A homenagem da semana: aos profissionais de saúde agredidos (das mais diversas formas) no seu local de trabalho

O Fórum Saúde em Segurança, organizado pela PSP com o apoio do Gabinete de Segurança do Ministério da Saúde, foi realizado no Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho e assinalou o primeiro ano do Programa “Saúde em Segurança” da Polícia de Segurança Pública.
Os participantes abordaram o tema da violência no setor da saúde e salientaram a importância da abordagem intersectorial e o papel da sociedade em promover ambientes saudáveis, destacando a necessidade de ações conjuntas e multidisciplinares para garantir um ambiente seguro para os profissionais de saúde, para os utentes do SNS e para a sociedade em geral.
Aos profissionais de saúde vítimas de violência, por utentes, colegas e chefias;
aos assistentes operacionais e técnicos insultados e agredidos por utentes exaltados;
aos médicos ameaçados no seu local de trabalho até por outros colegas;
aos enfermeiros, a quem chefias prepotentes tentam negar até os direitos de parentalidade:
Vai a minha homenagem desta semana.

Mário Freitas*

*Médico consultor (graduado) em Saúde Pública, com a competência médica de Gestão de Unidades de Saúde

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