Diário dos Açores

O Outro Lado da Festa

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De novo o campo se veste
De alfaias para a festa
A verdura dos plátanos
Já desponta com vigor
Mas não dá para refrescar  
A fachada do convento
Onde luzes multicores
Vão fazer da noite o dia
Iluminar de alegria
Quem vai à festa gozar
As ruas estão enfeitadas
Nas varandas colgaduras
Gritam cores derramadas
De flores e de verduras
O velho giro perfumado
Onde passa a procissão
Gente que ali se aglomera
Nestas ruas, em cordão
Vão contemplando o desfile
Do guião e das opas
Em longas filas vermelhas
Com o sol a derramar-se
Em calor pela cidade
Ao  estalar de foguetes
Repicos de alegres sinos
As bandas tocam o hino
Sai para à rua o andor
Onde se olha o senhor
Entre a profusão de flores
E de jóias coroado
Atrás seguem  promessas
Uma nuvem de senhoras
Até a vista alcançar
Algumas vão descalças
Por  uma graça pedida
Ou por outra concedida
São doenças,  são angústias
De vidas  atribuladas
São rostos de sofrimento
De gente amargurada
Para elas não há festa
Não há música, arraiais
Não há barracas, petiscos
Esta festa, a profana
Para elas não existe
Com o seu semblante triste
Ficam junto ao convento
Fixam o andor de frente
Continuam a orar
Olham nos olhos a imagem
Deste Cristo maltratado
Que sofreu tantos horrores
Confessam-lhe suas dores
E sente-se animadas
Aquele olhar as conforta
Partem mais aliviadas

Gilberto Bernardo *

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