Diário dos Açores

Desenvolvimento harmónico?

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Nesta coluna temos muitas vezes afirmado que a ilha de São Miguel, apesar dos vinte deputados que o seu eleitorado elege, é a única ilha cujos deputados nunca erguem a sua voz sobre as preocupações e anseios dos seus eleitores. Merece, portanto, especial referência a sessão de perguntas ao Governo+ no último plenário da Assembleia Regional, a pedido de Nuno Barata, deputado solitário da Iniciativa Liberal, sobre políticas de desenvolvimento sustentável e crescimento socioeconómico da ilha de São Miguel. Já tardava a promessa eleitoral de se assumir verdadeiramente como um deputado por São Miguel. Mas soube a pouco.
Esperemos que continue a marcar a agenda, levando ao parlamento os problemas, as angústias e as expectativas da população da maior ilha dos Açores. E já agora, tratar São Miguel como a “locomotiva” do arquipélago poderá ser  mal entendido por alguns. Todos queremos uma Região que, em sentido figurado, se compare a uma composição de automotoras.   
Ainda sobre São Miguel, destacamos a reivindicação da Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada para a ampliação do porto desta cidade, propondo a construção de um segundo molhe com a dupla função de proteger o centenário molhe actual de tempestades extremas e de proporcionar novos espaços operacionais, principalmente para as operações de graneis. A ideia não é nova e já teve um pré-projecto que data de 2004.
Os problemas de falta de capacidade do porto agravam-se com a procura crescente do Porto de Ponta Delgada por mais de um navio de cruzeiros por dia, o que vai sendo recorrente. O negócio de turismo de cruzeiros tem uma forte tendência de crescimento nos próximos anos e a atractividade turística da ilha de São Miguel faz do Porto de Ponta Delgada uma escala apetecida. Um novo cais para cargueiros e graneleiros, exterior e paralelo ao actual nunca estará pronto antes da próxima década, antevendo-se para os anos 30 que o turismo em navios de cruzeiro atinja uma dimensão muito maior.
Surpreendente foi a tomada de posição da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo, que se manifestou  publicamente contra a construção de um segundo molhe no Porto de  Ponta Delgada, alegando que se estaria a duplicar infraestruturas na Região, pois o Porto da Praia da Vitória está subaproveitado. O que se tem  vindo a constatar é o sobredimensionamento  das recentes infraestruturas construídas na Ilha Terceira, caso do  porto, cadeia, hospital, incineradora e pelo andar da carruagem outras irão surgir ou já estão em andamento.
E nunca os empresários de São Miguel, ou as suas associações, tiveram a ousadia de comentar publicamente a realização dessas obras.  A atitude da Câmara do Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo, mais do que surpreendente, é inadmissível. É este tipo de atitudes que “visa minar cada vez mais , e de forma acentuada, a unidade regional”.
Todos estamos de acordo de que um dos principais desígnios desta Autonomia é o chamado DESENVOLVIMENTO HARMÓNICO. Mas este desígnio falhou porque foi sempre usado como arma de arremesso contra a ilha de São Miguel, a mais necessitada da aplicação de medidas visando garantir o desenvolvimento harmónico nos Açores, conforme conprovam todos os indicadores socioeconómicos da população de São Miguel. À luz de qualquer teoria económica, e com vista a um desenvolvimento harmónico da Região, a ilha que mais precisa de alavancar o seu desenvolvimento é a ilha grande, São Miguel. O preconceito contra São Miguel, confundindo dimensão com riqueza, vai aumentar ainda mais a pobreza e o desemprego nesta ilha.
Tem de haver nos Açores uma mudança de mentalidades e um entendimento correto sobre o significado de desenvolvimento harmónico. E isto inclui as elites de São Miguel, que ainda vivem o espírito da época da laranja. O que é que se pode esperar dos outros quando eles se pavoneiam apelidando-se de “locomotiva”. Mas a locomotiva mudou de nome e agora chama-se Terceira.

Teresa Nóbrega *

*Jornalista
A autora escreve segundo a anterior ortografia

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