Diário dos Açores

Estórias de superstições e maldições (Timor, Macau; Porto)

Previous Article O lamaçal
Next Article No rescaldo das festas - 2023

Nos anos de 1960 os meus tios e primos Almeida D’Eça tinham uma quinta para os lados de Avintes, a Quinta da Graceira, que fora um pequeno convento com capela privativa, ao lado da sala de jantar, casa de caseiro, vinhedos, um pequeno porto para barcos e uma grande área, como se pode ver nas imagens hoje disponíveis na internet com os melhoramentos que tornaram em espaço de turismo rural. Os meus primos e a minha irmã ficavam lá no verão e contavam que de noite havia um fantasma de um antigo padre. Nunca presenciei e gozei sempre com isso, mas o certo é que eles estavam convictos (tinham todos menos de 18 anos na altura) da existência iam sempre ficar lá em grupos grandes. Não sei se os novos donos esconjuraram esse fantasma.
Em 1974, nas longas noites timorenses em Díli, houve, durante algum tempo, o costume de se juntarem alguns médicos, e outros amigos em minha casa ou noutras e fazermos sessões de mesa de 3 pés, a brincar às magias negras ou brancas, numa brincadeira pegada que nos ajudava a passar o tempo… tantas vezes o fizemos à luz de velas, que o gerador ia abaixo frequentemente em Díli nesses idos. E isso conferia mais realismo ao ato. Um dia porém, tínhamos a presença de dois jovens, filhos do diretor da veterinária Dr Horácio Soares que tomara posse há pouco. O Luís Mota, nº 2 da veterinária, tinha-lhes falado e eles quiseram ir. Ou por terem alguma doença do foro psiquiátrico, ou por serem altamente influenciáveis, ou por qualquer outra razão, quando saíram de lá de casa, um deles foi ao gabinete do pai pegou numa arma e suicidou-se. Ficamos paralisados coa notícia e nunca mais fizemos sessões e o Luís ficou profundamente afetado pelo incidente. Nunca mais soube dele.
Nos anos de 1980 o meu cunhado português (que morreria novo em 1989) tinha mania de dizer que a casa dos pais onde vivia estava assombrada, e comprazia-se a fazer truques que sempre me causaram calafrios, um deles era com tudo fechado, fazer vergar a chama de uma vela a uma distância  grande, livre de qualquer sopro ou de corrente de ar. Outro era a porta desse compartimento que se fechava no trinco e ela sozinha voltava a abrir-se sem ninguém lhe tocar, entre mais umas cenas fantasmagóricas que ainda me causam pele de galinha, passadas tantas décadas. Esse fantasma caseiro tinha um nome, Francisco, e por inacreditável que pareça perseguiu-me até macau. No apartamento onde vivi, na Av., Coronel Mesquita, ed. Fei Tchoi Iun, a porta escolhida era a da casa de banho. Muitas vezes, visitas que eu recebia me perguntavam se estava mais alguém em casa por causa daquela porta. Ainda estão vivas duas pessoas que lá viveram comigo uns meses, que o podem testemunhar.  Depois mudei para outro apartamento na Praia Grande e o Francisco sumiu-se, até hoje…felizmente. Aqui nos Açores onde vivo há 16 anos nada de sobrenatural ou paranormal surgiu, e todo este tema foi despoletado ao ler num post dum colega jornalista em macau a dúvida sobre uma bela peça de porcelana deitada fora na rua e que ele apanhou. Daí ter-me lembrado destes incidentes para o avisar dos perigos que podem daí advir.
Em 1992 quando estava prestes a desfazer-me da casa em Randwick, Sydney, após o divórcio, um amigo chinês dono do restaurante Choys onde ia almoçar religiosamente todos os dias, viu uma peça que tinha na parede e ficou horrorizado poisa disse que aquilo trazia mau olhado e azar…  aparentemente era uma dedicatória de um homem à sua concubina e – de acordo com a tradição – apena sela poderia expor aquelas 3 tábuas….resultado foram direitas para a fogueira, que, ilegalmente, acendemos no quintal nessa mesma noite.
Quando cheguei a Portugal em 1995 veio um contentor com algumas relíquias de Macau, Timor e Austrália entre as quais duas deusas. Uma delas fora um problema pois era naquela época, ilegal, trazer da Tailândia objetos de arte em madeira sem documentação esclarecendo que não se tratava de obras de arte genuína museológica. Mas o certo é que em junho de 1980 a havíamos conseguido trazer, bem embrulhada, numa mala que não despertou as atenções das autoridades, mais preocupadas com um faqueiro de cobre de 120 peças que vinha fora da mala.
A outra era uma fina estatueta de porcelana sem grande valor, uma deusa chinesa Kuan Yin. Bela e antiga estatueta chinesa. Como uma Deusa da compreensão e da ajuda, Kuan Yin auxilia a todos que chamam por ela: esta peça em louça traz a deusa sem uma das mãos, que deve ser colocada na estátua quando o pedido feito for concretizado.

A tailandesa, creio que a Deusa hindu Deva, era uma peça rara, estranha e intrigante… os olhos da estátua seguiam quem a mirasse… a minha mulher apanhou uma tal fobia que não descansou enquanto não as remeteu todas, bem como a outras antiguidades orientais aos confins da arrecadação na cave da nossa casa no Porto, onde ainda estão mergulhadas na mais profunda escuridão para não trazerem maus agouros. Todos os paramentos chineses que há anos me acompanhavam foram igualmente desterrados assim como outras coisas, que, alegadamente traziam mau olhado…
Continua.

Chrys Chrystello*

*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

Share

Print

Theme picker