António Silva, o micaelense que dedicou a sua vida ao teatro e à poesia, fez 100 anos nos EUA
Diário dos Açores

António Silva, o micaelense que dedicou a sua vida ao teatro e à poesia, fez 100 anos nos EUA

Previous Article Previous Article Açorianos estão a recorrer cada vez mais a empréstimos bancários
Next Article PSP alerta que artigos de pirotecnia só podem ser vendidos por entidades habilitadas PSP alerta que artigos de pirotecnia só podem ser vendidos por entidades habilitadas

António Silva, um dos mais conceituados poetas populares na Nova Inglaterra, com uma vida inteira dedicada ao mundo das artes, como o teatro e a poesia, assíduo colaborador da imprensa portuguesa local, nomeadamente o semanário Portuguese Times, onde publica uma apreciada coluna denominada Gazetilha, com o pseudónimo de Zé da Chica, celebrou no dia 18 de maio, um século de existência.
São 100 anos de uma vida quase toda ela dedicada ao teatro e à poesia, descobrindo essa apetência ainda na sua terra natal, na ilha de São Miguel.
Há quase meio século que escreve para o Portuguese Times, o que faz dele o mais antigo colaborador, ainda ativo, deste semanário que se publica desde 1973 em New Bedford.
Todas as quintas-feiras envia, via internet, texto e gravura e tem o cuidado de contactar o jornal a certificar-se que tudo chegou bem: “Olá Francisco, já enviei o material! Pode conferir se chegou tudo bem e se a gravura condiz com o texto? É que a idade está chegando e por vezes a máquina falha!”, diz-nos António Silva, que reside em Dartmouth com uma das filhas.
“Senhor Silva, está tudo bem? Essa saúde?”, perguntamos nós, ao que responde: “Vamos andando um dia de cada vez e há-de ser o que Deus quiser”, responde o “nosso Zé da Chica”, que celebra os seus 100 anos de idade na privacidade da família, sem grandes alaridos e que mantém o desejo e vontade de continuar a colaborar no Portuguese Times com a sua apreciada “Gazetilha”, enquanto a saúde permitir.
Mas decidimos viajar no tempo no barco da saudade a outros tempos e recordar como tudo começou.
“Comecei no Clube Marítimo, em Ponta Delgada, com cerca de 14 anos. Havia lá uma esplanada e comecei a arranjar um grupo de amadores... Estivemos aqui uns tempos, um ano depois fui para o Rival das Musas, onde comecei a escrever algumas peças, pois eu sempre gostei de escrever desde muito novo e aconteceu que nessa altura também nasceu lá uma grande artista, Deolinda Rodrigues, casada com  falecido. Escrevi fados, canções, poemas, etc…”, recorda António Silva.
No seu percurso inicial, no teatro, conheceu alguns nomes famosos, alguns dos quais ainda vivos e que se evidenciaram em séries televisivas da RTP Açores.
“Depois fui morar para São Roque, onde escrevi uma revista intitulada “Águas Passadas”, onde nasceu aqui a famosa Natália Marcelino, que mais tarde participou em séries televisivas como Gente Feliz com Lágrimas, O Barco e o Sonho e Xailes Negros”.
Recorda uma das suas mais famosas revistas que escreveu até hoje e que anos mais tarde apresentou-a nos Estados Unidos.
“Comecei a escrever revista, depois desta revista ensaiei um grupo de teatro antigo versado no Livramento, depois vim novamente para Ponta Delgada e convidaram-me para fazer uma revista na Fajã de Cima chamada “Coisas do Arco da Velha”, muito bem sucedidas, com vários espetáculos…”.
Escreveu todo o tipo de teatro em vários palcos dos Açores e o seu trabalho foi sendo reconhecido tendo sido homenageado antes de imigrar para os EUA com a família.
“Também escrevi comédias, monólogos, trabalhei para outros grupos. O José Barbosa chamava-me muita vez para trabalhar com ele, inclusivamente antes de vir para a América e fiz um espetáculo com ele na Recreio dos Artistas em Angra do Heroísmo, ilha Terceira e foi o José Barbosa que me fez uma homenagem antes de vir para a América, tendo por palco o Teatro Ribeiragrandense, na Ribeira Grande, S. Miguel”.
O teatro foi sempre uma paixão e um hobby, uma vez que profissionalmente era enfermeiro e posteriormente funcionário alfandegário, antes de imigrar para os EUA em 1967. Aqui em New Bedford arranjou emprego no extinto Diário de Noticias, onde permaneceu durante alguns anos.
“Quando cheguei aqui fui para trabalhar para o Diário de Notícias, como linotype. Aqui permaneci alguns anos e depois arranjei outros trabalhos e comecei a escrever para outras revistas, nomeadamente “A Chama”, recorda Silva.
Há quase meio século que escreve para o Portuguese Times, tendo sido convidado pelo antigo diretor, o saudoso António Alberto Costa. Até que surgiu oportunidade de fazer teatro por estas paragens trazendo a palco a peça “Coisas do Arco da Velha”.
“Tentei fazer teatro no Portuguese Sports, mas depois não se concretizou... Tem de haver seriedade e depois resolvi fazer teatro no salão da igreja da Imaculada Conceição, em New Bedford. Exibimos a peça, modificada, “Coisas do Arco da Velha”, atualizada, onde tudo correu bem, com vários espetáculos nesta região”.
Foi homenageado na terra natal e aqui nos EUA por algumas associações.
Escreveu também alguns poemas para artistas e conjuntos aqui da comunidade.
“Escrevi para o conjunto Capitalistas, Arnaldo Feliciano, Jorge Ferreira e outros que já nem me lembro”.
Na poesia e no teatro assume-se como crítico e humorista, faceta que
sempre o acompanhou ao longo deste percurso de mais de oito décadas no mundo das artes.
“Chamam-me poeta, mas eu sou crítico humorístico, o que faço e com certo humor, admirava muito o saudoso João Teixeira de Medeiros, faço teatro e o teatro com crítica”.
Publicou alguns livros de poemas de que se orgulha, apenas pela paixão a esta arte. “Tenho um livro de poemas escrito que teve alguma venda intitulado “Um Ar da Minha Graça”, mas não pus à venda, pelo que ofereci à família e amigos”.
Se pudesse recuar no tempo mudaria alguma coisa mas sente-se de uma forma geral satisfeito e orgulhoso do seu percurso no mundo do teatro e da poesia. “Sim, estou satisfeito, mas não há ninguém no mundo que esteja satisfeito, mas como se diz a moda da nossa terra, estou amanhado”. A família celebrou a passagem dos 100 anos com uma pequena festa em casa de uma das filhas do aniversariante, com direito a uma mensagem do Presidente dos EUA, Joe Biden.

Exclusivo Portuguese Times/
Diário dos Açores

Share

Print
Ordem da notícia2276

Theme picker