Diário dos Açores

Crianças superprotegidas arriscam-se a ser adultos de porcelana

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Proteger e cuidar da descendência de forma a garantir a sua sobrevivência é uma das motivações mais arcaicas da espécie humana.  
Como pais, todos temos a capacidade inata de socorrer os nossos filhos perante situações que percecionamos como perigosas ou geradoras de mal-estar. E ainda bem! O que não devemos é cair na tentação de fazer tudo por eles ou exagerar na proteção, com o intuito de os tornar perfeitos ou evitar, a todo o custo, que lidem com a adversidade.
Mas, afinal, em que medida devemos proteger os nossos filhos?
Como em tudo na vida, nem tudo o que é “mais” é “melhor”. Os pais, ao tomarem todas as decisões pelos filhos, substituindo-os nas tarefas que eles podem, conseguem e tantas vezes anseiam fazer, ao protegê-los do contacto com falhas e erros, apesar de muito bem-intencionados, arriscam-se a passar aos filhos a mensagem de que o mundo é um lugar perigoso no qual os vemos como incapazes e incompetentes.  
Comportamentos de super proteção podem ser, por exemplo: incentivar a criança a evitar fazer atividades físicas, pois pode magoar-se; prestar ajudas desnecessárias nas rotinas diárias; fazer os trabalhos da escola pela criança; evitar que durmam na casa de familiares ou amigos; infantilizar os filhos, recorrendo, por norma, ao diminutivo ou telefonar várias vezes por dia para confirmar se está tudo bem.
Se se identificou com alguma das situações acima descritas, está na hora de fazer a seguinte questão: Estarei eu a criar um futuro adulto de porcelana? Uma pessoa insegura, frágil, com dificuldade em tomar decisões, em lidar com os desafios da vida, em gerir o seu tempo, as suas emoções, ações e relações?
Não nos podemos esquecer que uma das tarefas de desenvolvimento das crianças é aprender a fazer a distinção entre estímulos perigosos e inofensivos. Para isso, os pais devem deixá-las explorar situações desconhecidas, desafiantes ou até mesmo assustadoras. E se caírem? Irão levantar-se! O nosso colo estará eternamente disponível e terá sempre o tamanho dos nossos filhos!
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Emília Macedo*

* Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde

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