Diário dos Açores

E se os generais e os bispos fossem mulheres? (I)

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Em tempos de grande agitação em torno da questão do género, é uma pergunta que faz todo o sentido. Tempo em que um simples beijo na boca numa jogadora de futebol se tornou um caso internacional, gerando uma controvérsia de enormes proporções.
Mulheres que têm um papel, cada vez mais determinante, na política e em cargos governativos e que são já uma maioria – ou perto disso – em hospitais e tribunais, não estão a ocupar posições para as quais tem plena capacidade, e que representaria um claríssimo avanço civilizacional.
Nos jovens casais a participação dos maridos, a todos os níveis, na vida doméstica é uma realidade que esta a repor a igualdade de género a nível familiar e a dar às mulheres novas oportunidades profissionais e cívicas. A mulher restringida ao lar, começa a ser um achado sociológico.
Contudo essa progressão tem sido, sempre, muito penosa na vida militar e, ainda mais nas igrejas e na carreira eclesiástica.
A presença de mulheres generais desafia, ainda, estereótipos tradicionais que associam liderança, coragem e autoridade apenas aos homens. Admitir que isso não é assim, será admitir que a competência e a habilidade de liderança não são determinadas pelo gênero, mas sim pelas qualidades individuais e pela capacidade de exercer um papel com eficácia.
A visibilidade de mulheres em posições de generais será uma inspiração para outras mulheres considerarem carreiras militares e cargas de liderança como opções viáveis. O que significará uma forte influência para as gerações mais jovens, que cresceram não vendo mulheres ocupando posições de poder no campo militar.
A quebra desses estereótipos também está associada à redefinição das qualidades associadas à liderança militar que está, normalmente, ligada a traços masculinos, como agressividade, autoridade inflexível e assertividade. Redefinição que incluirá, certamente, características como empatia, comunicação habilidosa, capacidade de colaboração e resolução de conflitos.
Mudança que requer, contudo, um esforço contínuo para educar, conscientizar e promover a inclusão, garantindo que as mulheres em cargos de liderança sejam tratadas com respeito e que suas contribuições sejam valorizadas. Para além de ser uma questão de justiça e equidade trará certamente muitas modificações nos cenários de guerra.
A ascensão das mulheres a posições de generais abrirá portas para uma conversa mais ampla sobre igualdade de gênero, empoderamento feminino e a importância de desafiar os estereótipos que limitam o potencial humano. Esse progresso não apenas mudaráas forças armadas, mas também influenciará a sociedade, como um todo, promovendo a acessibilidade da diversidade de talentos e capacidades, independentemente do gênero.
Mudanças que poderão ajudar o mundo da guerra a mudar de rumo. Exércitos com igualdade de género serão, sem dúvida, muito diferentes dos actuais. A saída das guerras da mão, quase exclusiva dos homens, trará consigo uma outra sensibilidade que irá promover, de forma diferente, a paz e a concórdia.
Acabará, inevitavelmente, o reino dos senhores da guerra.
O mesmo se aplica à ascensão de mulheres a bispos, mas esse será o tema de uma segunda parte desta crónica.

António Simas Santos *

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