Diário dos Açores

Bárbaros!

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A criança não é um adulto em miniatura. Por momentos pode pensar como um adulto e logo a seguir reagir infantilmente. Os adultos devem estar prevenidos e saber que cerca dos 12 anos já muitas pessoas que não continuam a desenvolver muitas mais capacidades intelectuais mas farão parte das tradições e culturas próprias. A razão prática, quando o ambiente é salutar, adapta-se perfeitamente aos padrões culturais numa acomodação à vivência comum de qualquer povo.
O caos em Paris, a fúria e loucura dos tumultos neste verão, divulgaram que a maioria eram crianças entre os 12 e os 13 anos e a força da ordem teve de defender a cidade das atrocidades que cometeram. Afinal “a escumalha”( in Visão) das periferias tornava a cidade inabitável para os próprios franceses. Muito lentamente os cidadãos vão abandonando os centros por não se reconhecerem nesses ambientes. O certo é que temos de renunciar à liberdade mas não nos apercebemos das dependências que não sentimos.
A barbárie manifestou-se. A história não é a narrativa dos nomes célebres dos ditadores, reis e homens famosos, mas a vida dos povos e muitos deles não os conhecemos. A Europa ou os E.U.A. são desejados por “estranhos” que querem aqueles territórios, as maravilhosas séries de riquezas decadentes, com os centros comerciais e desportivos, comerciais, sofisticados monumentos com cada vez menos habitantes e mais empresas e instituições. Todavia querem trazer as suas crenças e impô-las aos outros. O historiador Niall Ferguson referiu-se ao Ocidente que se encaminha para um destino semelhante ao do Império Romano, pois seria assim que caem todas as civilizações.
O que os adultos observam à sua roda não é o que os mais novos aprendem a ver. Os estrangeiros aumentam em pobres refugiados que cobiçam riquezas alheias mas não renunciando à sua fé. A luta contra essa “escumalha das periferias” deu prémios aos agentes da ordem - fala-se em milhões de euros de indemnizações - enquanto os peditórios para os familiares da última vítima não vai além de 250 mil. Num outro caso, Chicac decretara o “respeito e à generosidade de cada um”. A que valores Macron pode apelar? Em pleno século XXI, tal como no final do império romano, os bárbaros tomaram conta das fronteiras e por momentos tudo se modificou. Se tais tumultos duraram pouco tempo o anúncio de que algo muito grave se passa. Entretanto os desejados turistas descaracterizam cada vez mais as belas cidades.
Quando se perceber como farsa o que é uma guerra estaremos mesmo no caos?
Com os refugiados desesperados que chegam aos milhares, em busca de vida melhor sonhando com terras pacíficas, na realidade são “bárbaros” face aos “outros” em quem não se reconhecem.
Recordemos que depois de uma tempestade vem logo uma segunda atrás. Enquanto tentamos uma compreensão histórica das notícias o passado dá-nos explicações. Em casos semelhantes decretou-se o estado de emergência, mas estamos a falar de Paris! A cidade da Luz! A comparação com a queda de Roma, após o seu penoso e cruel declínio, recorda o ambíguo termo “bárbaro”. De que lado está a barbárie? Afinal, o Império Romano criou uma população cada vez mais forte, desumana, intolerante, gananciosa, assaltante, com todos os mesmos defeitos que apontava aos povos designados bárbaros.
Paris ou a velha Roma pululam de estrangeiros, os normalmente pacíficos turísticas que atraem cada vez mais forasteiros, afastam a sociedade da sua vida com um e tornam as cidades europeias locais de passagem. Os franceses não querem viver como “bárbaros” mas já perderam o seu território. Existe a esperança de mais turistas que se confundam com os migrantes.
Os gregos troçaram dos seus antepassados quando a linguagem ática, ou dórica já lhe parecia um gaguejar ( brabrabra… . Os gregos já não falavam grego! Turistas, bárbaros, estranhos?
Heródoto viajou em busca da sabedoria que estaria no Antigo Egipto. Sem lá ir não seriam cultos. Ora hoje a decadência egípcia aproxima-se de outros bárbaros.
“ Do alto destas pirâmides milhares de séculos de História nos contemplam! As tropas francesas espantaram-se com a grandeza insólita dos monumentos. Sem a decifração dos hieróglifos da famosa “Pedra da Roseta”, pelo cientista Champollion, não se conheceria a civilização egípcia. Por não se conseguir interpretar uma série de linguagens de antigos povos desconhece-se por completo a sua grandeza. Os Vândalos, tal como os Etruscos, Lombardos, Saxões, Alanos e outros das Américas ficaram por conhecer por não apreendermos o seu idioma. Todavia se a Grécia conquistada conquistou o bárbaro conquistador. Dessa Grécia Antiga apenas turistas mal a entendem. Os Romanos não são os italianos dos nossos tempos. Eles que consideravam naturalmente escravos todos os bárbaros, escreveu Aristóteles que nem era grego, foram milhões de migrantes que recebem refugiados e depois turistas, sem haver racismos.
As revoltas na França foram sempre das mais perigosas, Júlio César foi um horrendo e impiedoso genocida que aniquilou povos, e cujos crimes são esquecidos, embora na época muitos romanos amedrontados não aceitassem aquele seu primeiro imperador. Não houve nenhuma queda de Roma. A Itália tornou-se numa civilização “bárbara” com as migrações, trocas comerciais e outras. Não houve apenas invasões. Já Santo Agostinho, bispo de Hipona, na Numídia, hoje Argélia, previa (A cidade de Deus) a desaparição de Roma. A eminente obra de Fustel de Coulanges “A cidade Antiga” (1840) já é um passado espetacular numa Europa que já não reconhecemos.

Lúcia Simas  *

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