Diário dos Açores

E se os generais e os bispos fossem mulheres? (II)

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Opinião

O prometido é devido. Voltamos, hoje, à segunda parte de pergunta: e se os bispos fossem mulheres? Um grande desafio num país em que a Igreja Católica – conservadora e renitente à mudança – predomina esmagadoramente. Uma igreja que resiste, denodamente, a ordenar sacerdotes do sexo feminino.
A Igreja Católica tem uma história de liderança exclusivamente masculina, fundamentada em interpretações “machistas” da tradição e das escrituras. Embora tenha começado a ser uma questão controversa, em que muitos consideram que a igreja deve evoluir com os tempos e considerar a igualdade de género nas posições de liderança.
Ao longo das últimas décadas tem havido, contudo, alguns avanços em relação às mulheres na igreja. Algumas ocupam papéis importantes como leitoras, ministras da eucaristia e, mesmo, líderes de comunidades paroquiais. Mas permanecendo, sempre, uma grande nuvem sobre a ordenação de mulheres como sacerdotes e bispos.
Como em tudo, há argumentos a favor: e exclusão da mulher contradiz a igualdade de género, valores como como o amor e a justiça e o facto de outras denominações cristãs que ordenam mulheres e as nomeiam bispos. Como há argumentos contra: a exclusão das mulheres está enraizada na tradição e as interpretações predominantes da escritura e a proverbial resistência às mudanças da doutrina.
Sendo certo, contudo, que a ordenação de mulheres e nomeação como bispos é muito complexa pois envolve considerações teológicas, históricas e culturais para um Vaticano muito conservador e muito arreigado ao seu status quo. Sendo expectável uma luta prolongada e dura perante uma nomenclatura que tudo fará para impedir tão profunda mudança.
Contudo a igreja terá, inevitavelmente, que lidar com o equilíbrio entre tradição e evolução perante um avanço imparável de igualdade de género e as novas expectativas dos fiéis em todo o mundo. Se continuar a assobiar para o lado, verá os seus templos a esvaziarem-se, ainda mais. Uma questão complexa, mas com uma grande carga emocional que não pode ser iludida.
As questões da igualdade de género são forças contemporâneas imparáveis estando no centro do debate sobre a igualdade e equidade, não sendo possível tapar o sol com a peneira. A igualdade de género é um princípio fundamental dos direitos humanos e um dos pilares da sociedade democrática.
Também aqui, é fundamental combater muitos estereótipos e perceber que a igualdade do género, para além de um direito, é também um caminho para o enriquecimento das nossas sociedades, no seu todo. A ascensão das mulheres em todos os campos profissionais prova isso mesmo. Tendo introduzido factores emocionais e de equilíbrio que têm trazido indiscutíveis progressos às nossas sociedades.
E não será diferente no campo da espiritualidade. Bem pelo contrário, será um passo gigante para tornar a igreja mais inclusiva e combater melhor certos flagelos como a violência doméstica, promovendo a consciencialização sobre as questões do género, na primeira pessoa.
 

António Simas Santos

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