Diário dos Açores

Mobilidade urbana, o estado da arte

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Na passada terça-feira discutiu-se, na cidade de Lagoa, a “Mobilidade urbana, mobilidade limpa – encurtar distâncias sem poluir”, uma conferência promovida pela Rede Europeia de Conselheiros Regionais e Locais, do Comité das Regiões, onde o debate que se seguiu ao painel de oradores foi deveras interessante.
Escrevo este artigo na qualidade de utilizador dos transportes públicos e interessado em fomentar a mobilidade suave, é por isso que considero que o serviço de transporte público de passageiros em São Miguel está ultrapassado.
As frotas de autocarros têm mais de vinte anos (com avarias constantes), os horários são desajustados, a somar-se a isto, as centrais de autocarros estão ao “abandono” ou, como no caso de Ponta Delgada, a maior cidade dos Açores, uma cidade cosmopolita, inexplicavelmente, não dispõe de uma!
É certo que numa grande cidade europeia, seja ela Lisboa ou Bruxelas, o serviço de transporte público de passageiros é mais rentável, serve milhões de utilizadores, enquanto nos Açores servirá umas dezenas de milhares de pessoas.
No entanto, com a galopante escalada do preço dos combustíveis e tendo por base toda a retórica em volta da descarbonização, sem uma melhoria significativa dos transportes públicos, os Açores não vão lá. Incentivar a aquisição de veículos elétricos é importante, mas o desafio e a solução residem numa maior utilização dos transportes públicos. E acredito que com um bom serviço, mais seriam as pessoas a utilizar este meio de transporte, mais ainda quando já se veem alguns turistas “a bordo” dos autocarros.
A solução para atrair mais utilizadores pode talvez passar por autocarros mais pequenos que ligam mais vezes o centro urbano às freguesias e vice-versa, e os autocarros de maior dimensão fazem com maior fluidez as ligações entre os centros urbanos.
Ou, por exemplo, um autocarro expresso, que liga um centro urbano diretamente a outro, sem passar por freguesias ou estradas secundárias, com uma única paragem no destino e com um horário atrativo.
Ou, porque não, uma aplicação digital em que cada utilizador faz uma pré-reserva de uma viagem, evitando que um autocarro de 60 lugares faça uma viagem que irá ter apenas seis ocupados.
Ou, porque não, benefícios para quem se desloca de transportes públicos, porque não um trabalhador que saia do trabalho às 17h30, em que o próximo autocarro é às 17h45, não sair às 17h e apanhar o autocarro das 17h15?
Este é um tema complexo é certo, mas que tem de sentar à mesa o Governo, as autarquias e, principalmente, as companhias que prestam estes serviços.
Por sua vez, é imperativo acabar com a mentalidade de “estacionar à porta da loja”, é preciso devolver os centros urbanos às pessoas para que andem a pé, desfrutem das cidades, incentivando uma mobilidade suave, uma mobilidade para as pessoas.
As metas da União Europeia para alterar o paradigma da mobilidade urbana podem ser até 2030 ou 2050, mas, os Açores, têm ainda um longo caminho a percorrer. Mas têm de o fazer para não perderem o autocarro!

Manuel Faria *

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