Diário dos Açores

Obsessões políticas

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Opinião

Que me desculpem os democratas e gente de esquerda que simpatiza ou simplesmente vota no PS, por achar isso útil, mas as últimas declarações públicas de Vasco Cordeiro, o presidente do anterior governo dos Açores e atual líder regional do PS, a propósito da situação do défice e da dívida pública regionais em 2022, suscitam-me várias interrogações e questões críticas: 
A crítica obsessiva em termos económicos e financeiros que nos é transmitida vai direitinha para o agravamento do défice e da dívida pública regionais, subentendendo-se assim que tudo o resto seriam assuntos políticos de importância menor a Região. Mas não era esta então a obsessão de Passos Coelho, no governo central PSD/CDS? Não era também esta a crítica principal que o gastador Vasco Cordeiro, como Presidente do Governo, ouvia quase diariamente da boca da oposição de direita, do PSD, do CDS e dos seus dissidentes que depois criaram o Chega e o IL?
Afinado pelo mesmo diapasão, o convertido gastador de agora e atual governante das direitas mistas, o Presidente José Bolieiro, que apesar do défice de 2022 ter aumentado para 395 milhões de euros, opta por contestar Vasco Cordeiro declarando envergonhadamente que mesmo assim conseguiu colocá-lo abaixo das previsões de março que atiravam para cerca de 414 milhões…
Ou seja, para o PS e para o PSD e seus satélites, a grande polémica política enrola-se e acaba aqui. Enquanto um, no governo, afunda as finanças o outro, na oposição, critica esse afundamento, e vice-versa. Aquilo que gastam, tanto um como outro, serve-lhes (tem servido) sobretudo para alimentar a vontade de estar no poder e não para alimentar o investimento público na saúde ou na educação, para alimentar o combate à pobreza, ou para dar de beber à sede de justiça contra a riqueza mal distribuída, onde os Açores são campeões.
Mas vamos aos números: em 2022 o défice agrava-se em 10 milhões de euros, totalizando 395 milhões, e a dívida pública regional agrava-se em 300 milhões, rondando agora os 3 000 milhões de euros e escarnecendo de modo claro da decretada política do endividamento zero. Mas isto pode dizer muito ou pouco, consoante o valor do Produto Interno Bruto da Região (PIBR). Ora, faltou a Vasco Cordeiro dizer que o valor do PIBR anda pelos 4 500 milhões de euros, o que significa que a dívida pública açoriana atual, ao contrário do que se passa no país (onde representa 115% do PIB) fica-se pelos 66,5%ereflete, por isso, uma situação financeira relativamente saudável da Região.
Tudo depende essencialmente não do controlo do défice, mas (sem descurar o pagamento faseado da dívida) de dar prioridade ao investimento público para o desenvolvimento socialmente útil, ao contrário do que faz o governo Bolieiro, incumprindo o Plano (apenas com 66% de execução), escorado numa falsa e hipócrita política de poupança de gastos.
Desenvolver a oferta “ecoturística” regional, em oposição ao descaracterizador turismo de massas; apoiar os outros setores produtivos, com atenção especial ao potencial do setor leiteiro e da carne (pagando mais  ao produtor) e à sustentabilidade da pesca (pagando mais ao pescador); melhorar de forma efetiva a prestação dos serviços públicos essenciais na saúde e na educação e promover a subida geral dos salários e pensões como forma superior de combate à pobreza e às injustiças sociais, que a atual opção assistencialista não alcança: Eis a obsessão política que está verdadeiramente em falta!
 


Mário Abrantes 
 

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