Diário dos Açores

Verdade, Razões e Comunicação: Combate para a Educação e Saúde

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Nesta Sociedade, que é tida como a Sociedade da Comunicação, também através das tecnologias da comunicação e das redes sociais, comunicamos mais ou comunicamos menos?, comunicamos mais, incluindo lixo e produtos tóxicos, - de que não sabemos como nos ver livres – comunicamos mais em quantidade ou em qualidade? E os fenómenos da contra-informação e da desinformação? São tóxicos da Comunicação. A Comunicação exige o ar puro da Verdade. É o que a própria Comunicação Social faz por ter – ou ser? – face às “falsas notícias” e aos “factos alternativos”. É nestas nuvens nocivas, de suposta comunicação, que não é, que desejamos mais transparência e mais verdade, sem que, no entanto, as pessoas e os organismos se empenhem, de modo sistemático, em boa e Saúde, Comunicação e Expressão. Ora a Comunicação entra nos universos das relações humanas e sociais, bem como nos contextos educativos, de exigência axiológica, desde logo o Valor da Verdade, que irriga todos os outros Valores. A Verdade é geradora de Boa Educação e Saúde.
Na atualidade nós temos um problema real, grave, de comunicação, numa Sociedade conspurcada com a mentira. Desde cedo, as crianças estão em contextos familiares, escolares e outros que sejam pulmões de oxigénio e de verdade ou nuvens tóxicas que envenenam os corpos e os espíritos? As pessoas crescem toxicodependentes da mentira ou respiram verdade, que alimenta e ajuda a ser e a crescer? A Verdade é Condição de Ser, de ter os pulmões cheios de oxigénio sem o qual não há verdadeira socialização porque socializar implica humanizar e humanizar exige valores, desde logo o Valor da Verdade, o próprio Conhecimento só o é como Valor. Urge humanizar os Cuidados. É hoje do senso comum, do bom senso e do conhecimento, em geral, nos vários setores de atividade humana, que se valida de várias formas, que a socialização se tornou num logro perigoso, as pessoas estão a ser socializadas em tráficos de mentiras, de maledicência, como adverte, vigorosamente, e com frequência, o Papa Francisco. A maledicência arruína os corações e as relações, que devem ser humanas, para ser credíveis como sociais. A podridão tem de ser removida para dar lugar ao ar puro da verdade, de ambientes saudáveis e respiráveis.
Muitas coisas vão mal no mundo da educação, da saúde e da comunicação porque há uma deterioração, desde logo da Educação Familiar e não se trabalha em Prevenção. Como está a Educação em Família? Se falta da Educação de Berço, tudo falha, perigosamente, e alastra a erva daninha. Se não buscamos a verdade, como razão e como intenção, tudo se intoxica em nuvens tóxicas que atingem os pulmões porque falta e falha a moral, que é integrante dos Fundamentos de e do Ser. Só com pessoas sérias, idóneas e credíveis – pessoas fiáveis, de fiar e de confiança - é possível educação, saúde e comunicação. Temos de voltar aos Valores de sempre para que a comunicação se fortifique nos Princípios e na Palavra.
Um dia um Médico respeitável afirmou: “Não se fiem em quem está sempre aos sorrisos”. A comunicação não resiste se for uma mera aparência e fabricação. Hoje exige-se ir à Fonte, melhor, às Origens, à Nascente do Ser. Também sobre esta grande área temos as monumentais Obras do Saudoso Professor Doutor José Enes, em especial na Magna Obra À Porta do Ser e nos livros Estudos e Ensaios e Noeticidade e Ontologia. Quantas, boas e acessíveis colheitas, nutritivas, podemos encontrar nessas obras – também se soubermos procurar, cuidar e ensinar, na Pedagogia da Pergunta - nessas obras para compreendermos a essência da Linguagem, em si, e das linguagens na vida humana, na prática quotidiana, e na busca do entendimento, como se desejar no melhor da vida, da educação e da Religião.
Aprendi muito cedo que é impossível não comunicar. Mas essa inevitabilidade dá muito trabalho e exige uma escolha de raiz: comunicar em Verdade, que é O Caminho, - mesmo em veredas – mas comunicar na mentira é uma distorção e um jogo muito perigoso. A Religião e a Justiça são redutos fundamentais: “dizer a verdade e só a verdade”. Cristo afirma: “Só a Verdade vos libertará”. E assim É.
Na problemática da Comunicação podemos ter em conta imensas obras e livros. Para além dos que já enunciei, refiro: “Teoria da Ação Comunicativa” de Jürgen Habermas, tendo com referência dois livros: Teoría de la Accíon Comuniacativa: Complementos Y Estudos (1989) e O Discurso Filosófico da Modernidade (1990), e o pequeno Grande Livro A Palavra, de Georges Gusdorf (1995), que me foi oferecido por uma Mulher que Amo tão profundamente, há décadas, que me ofereceu o Livro na altura (fevereiro de 1997), em que eu ia defender as minhas Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica, cuja Lição se intitulou: Intersubjetividade e Comunicação. Implicações Pedagógico-Didáticas na Aula de Filosofia. Desde que me foi oferecido, com muito amor, tenho um especial carinho por este livro, A Palavra. Pela Razão expressa, o referido Livro está também cheio de bons sentimentos e de muito Amor. É um livro Evocativo, que me toca de modo especial.
A Pessoa verdadeira, e que se nutre da Verdade, em abertura e transparência, - que é sinal de exigência - cria no ambiente que a rodeia – e não só – uma Respiração na Verdade, sem ter de se impor. É sempre a mentira que se afasta, que foge, com manha, da Verdade, porque a Verdade, em termos naturais e sobrenaturais, em Comunicação fidedigna, rejeita a mentira e a maledicência. A pessoa mentirosa não suporta a verdade, até porque ao respirar a Verdade a pessoa mentirosa morre sem Ser, de morte súbita ou morte lenta. A Verdade é humano-divina e, só depois, é social, tal como a Comunicação. É sempre necessário regenerar as águas, a Verdade bebe da Nascente pura, geradora de Educação e Saúde, nas Pessoas e nas Instituições, como Famílias, Escolas, Universidades, Centros de Saúde, Hospitais, etc. Urge ligar Humanismo, Princípios e Técnicas de atuação, na Exigência da Verdade, que é o Oxigénio e Princípio de Vida.
Como não posso citar o livro todo – que se concentra n’A Palavra, que é a sua essência, faço esta Citação, que é forte e diz tudo:
“A personalidade forte cria à sua volta um ambiente de verdade. A exigência que ela manifesta torna-se comunicativa, arrastando os outros no seu movimento. O homem que cultiva a verdade irradia uma luz que remete cada um para si mesmo, forçando-o a julgar-se. Um Sócrates, um Jesus, um Gandhi impõem aos seus interlocutores aquela autoridade de que eles próprios são servidores. A sua linguagem exerce uma eficácia intrínseca que leva à adesão dos outros” Georges Gusdorf, A Palavra, Edições 70, pp: 108-109). Como é Memorável, e de Saudade Atuante, o Dia em que esse livro me foi amorosamente oferecido e recebido pelo meu Coração. Sentimento que permanece.
A Verdade e a Comunicação promanam do Ser e visam o Entendimento, que só acontece quando há Amor, Sabedoria ou Disponibilidade, entre outros pressupostos.
Ora, falar com Verdade e na verdade é procurar fazer-se entender. Nem sempre isso acontece, ou por haver um desnível de vocábulos, ou porque há uma linguagem mais específica ou elaborada. Ora, considero que cada pessoa se faz entender se falar em verdade, em experiência e vivência, e partilha com a linguagem do coração e da razão. A linguagem do coração não está muito presente em Jürgen Habermas, e em muitos autores. Mas está em muitos outros. Seria imensa a lista. Mas quando nos sincronizamos como seres humanos, fazemo-nos entender, neste caso na Língua Portuguesa, a Língua e a Linguagem recorre a múltiplos modos de a pessoa/sujeito se fazer entender, desde que ame a Língua e o seu semelhante, através de exemplos, de comparações, de metáforas, etc. de entrega, de reta intenção e boa ação. As atitudes são manifestações que dizem muito de nós, mas a Palavra só o é se promana do coração que ama e que deseja bem. Os Livros de Erich Fromm são bem elucidativos. Estamos numa Sociedade perigosamente fraturada porque o amor e a amizade deixaram de estar nos ambientes sociais e só esses sentimentos criam uma Comunicação de laços em Comunidade.   
Neste Núcleo de Sentido, as Obras do Professor Doutor José Enes têm grandes, imensas potencialidades e possibilidades, mas para isso não podemos ficar numa linguagem fechada mas colocarmo-nos na dimensão de abertura na Raiz da Verdade e no Horizonte da Transcendência de nós a nós, aos outros e ao Absoluto, a Deus. O Livro À Porta do Ser e Estudos e Ensaios, entre outros, são fecundos e elevam a nossa compreensão de nós, dos vários setores de atividade, do mundo. Para quem domina estas Obras e se faz entender na linguagem científica e na linguagem comum faz grandes avanços de compreensão mútua e de Sentimento de Ser
A Verdade e a Comunicação são combates, “o bom combate”, de S. Paulo a desenvolver na Educação e Saúde. A Verdade dá Saúde. Sem Verdade, sem Ser, a Educação seca e petrifica-se, anula-se, e as pessoas tornam-se múmias e seres inertes e manhosas, mentirosas e muito perigosas. E tornam-se pasto para uma sociedades autodestrutiva, autofágica e persecutória, daí deriva formas de maldade como o bullying, muitas vezes de luva branca, que há que denunciar e punir, com Autoridade, mas Autoridade Moral, só essa o É. Pelo contrário, é preciso irrigar a Educação com a Alegria da Verdade do e de Ser. A Alegria autêntica e genuína não os “sorrisos amarelos”, que é falsificação danosa. Para sermos em Educação, de Verdade, temos de ser e comunicar com autenticidade e verdade. E tudo isso está ao nosso alcance, desde o Berço, desde o Seio Materno. Mas temos de estar atentos contra o risco do disfarce e da manipulação, da mentiração, que se faz passar por verdade, o mesmo acontece na falsificação de tudo e de todos. Há quem se faz passar por amigo para manipular e cometer maldades. A sociedade fraudulenta alimenta o mal como ratol. Pelo contrário, é preciso uma Sociedade, melhor, uma Comunidade, que premeie os Valores, a Verdade, o Bem, a Justiça.
A amizade verdadeira brota do coração dos Princípios e dos Valores, havendo uma ligação entre coração, sentimentos e fala, pensamentos. Quando não há Verdade na Comunicação, esta, em rigor, não existe, e vem em nossa ajuda o Provérbio que diz “boca de mel, coração de fel”. Como são perigosas as pessoas falsas, como é perigosa a falsidade. Na fala há fingimento porque no coração há maldade. E Cristo bem nos avisa, e ensina, que o mal vem sempre de dentro, do interior. Pela Palavra podemos emitir sondas, mas sondas de verificação, ao Serviço da Verdade e de uma Convivência em e com Saúde. Educação e Saúde têm as mesmas finalidades e outras dimensões em comum. Um tema a retomar noutros escritos, em movimentos de Sentido.
Em e na Verdade, que razões busca a Palavra, ou será A Palavra?

Emanuel Oliveira Medeiros
Professor Universitário*


*Doutorado e Agregado em Educação e na Especialidade de Filosofia  da Educação

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