Diário dos Açores

Meloas e Centralidades

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1 - Fiquei “varado” com a entrevista do Professor universitário Monteiro da Silva, publicada no Correio dos Açores, há poucos dias. Um docente duma universidade, especialmente nas ilhas açorianas, tem responsabilidades acrescidas nomeadamente quando está próximo do topo da carreira (que felizmente não alcançou ...). Um Professor Doutor, mesmo optando por um ziguezaguear estonteante (vinda para S. Miguel, depois Macau, depois S. Miguel, depois Lisboa, depois S. Miguel), sempre na mira dum cargozinho governamental, pode deixar boas memórias aos alunos, mas também as pode perder num ápice.
2 - É o que pode ter acontecido com essa entrevista de 2 páginas. Considerar que todas as ilhas são centrais (sic) é um novo conceito monteirístico difícil de engolir. Todas as ilhas?? Ilha a ilha?? Diria que é mesmo uma barbaridade.
3 - Considerar que as meloas de Sta. Maria e da Graciosa devem ser exemplos de cabotagem, como o naviozito do Pareces, é outra originalidade do dito docente universitário. As poucas empresas de carga marítima que operam nos Açores sabem o que fazem e o que irão fazer. Basta uma delas ser Bensaúde, uma máquina de fazer dinheiro inteligentemente, sem amadorismos... No tempo dos Bensaúdes, os navios Lima, Carvalho Araújo, Cedros, Arnel, etc. eram certinhos como “relógios suíços”. Não falhavam.
4 - A entrevista do Sr. João Paz tem muito interesse porque revela uma faceta do entrevistado, ou seja, as tristemente célebres “birrinhas “ do Professor, ou seja, os demoníacos “não, não e não” ou os abreviados “sim, sim, mas é assim”! Monteiro da Silva foi meu patrão na empresa geotérmica SOGEO, sendo eu o residente Diretor Técnico. Aturei muitas birrinhas. Uma das primeiras consistiu em mandar serrar um enorme penedo de basalto e, ali eternizar o seu nome, como se estivéssemos com o querido líder da Coreia do Norte. Seguiram-se muitas outras que tenho registadas em álbum dos Marretas.
A última birrinha foi o fabuloso negócio da SOGEO (a que me opus, naturalmente) com a Universidade local – Fundação Gaspar Frutuoso. Esse negócio, lesivo para a SOGEO, consumou-se. A negociata seguinte consistiu em essa empresa do grupo EDA encher o CIVISA (da UAÇ) de écrans, de computadores e de impressoras que deliciam os visitantes pouco letrados naquilo a que os nossos antepassados chamavam de “ ciências ocultas “ (a vulcanologia, a sismologia, a climatologia, etc.). Realmente, o CIVISA soube-se equipar e dar um salto qualitativo notável e evidente. Se isso sucedeu nas áreas da sismologia e fluidos, a petrologia e a cristalografia foram descuidadas, existindo equipamento, no piso térreo, no anexo propositadamente construído. É o MIMA ou Museu de Instrumentos Modernos dos Açores, uma designação minha que deixava o reitor Vasco Garcia ainda mais avariado. Aliás o ex-reitor Garcia, como se suspeita é o cripto-reitor da Universidade do Açores ...
5 - Assinei a minha sentença de saída da SOGEO nessas reuniões cabalísticas - 3 Administradores.
 (Monteiro da Silva, Carlos Bicudo e Urubu Teixeira, este o que foi depois para a SATA aprender a administrar aviões...) contra um Diretor Técnico (eu...) da carreira universitária.
Fui despedido poucos dias a seguir, por carta transportada por segurança duma empresa exterior à SOGEO, tendo-me o funcionário dito, nervosamente, que teria de sair até as 17 horas. Deixei atrás mapas, textos e estudos -- alguns já os tinha fotocopiado, por norma. O chefe Monteiro da Silva não teve a coragem para me chamar e comunicar. E, Bicudo ficou sozinho no parreiral com todas as fatalidades que se seguiram. A explosão do poço geotérmico RG4 (gravíssima e ainda grave...) e a paragem da central geotérmica do Pico Vermelho eternizam, entre mais 6, a triste gestão posterior.
Foi a última “birrinha” do Prof. Monteiro da Silva comigo -- “ não, não, e mesmo não!”
O governo socialista de Carlos César manteve -se neutral, a posição mais comodista, como Pilatos ...

Victor-Hugo Forjaz *

*Professor catedrático

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