Diário dos Açores

Turismo de cruzeiros e pedido de desculpa

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1. Cruzeiros
Finda a época estival que até setembro trouxe aos aeroportos dos Açores 228.691 passageiros - mais 15,9% que no mesmo mês do ano anterior - começam a chegar os modernos navios de cruzeiro.
No primeiro semestre do ano em curso, segundo a “Portos dos Açores”(PA), registaram-se 132 escalas de navios nas várias ilhas, o que representa um crescimento de 17% em relação ao  mesmo período do ano anterior.
Até ao final do ano estima-se que as escalas dos cruzeiros ultrapassem as 200 de 2022, onde viajaram mais de 125 mil passageiros.
Não fora a COVID e teríamos um aumento significativo dos hotéis flutuantes nas suas  viagens entre a Europa e os EUA, contribuindo para que o arquipélago seja o terceiro destino mais procurado do país, com 10% do número de passageiros. Lisboa com mais de 490 mil passageiros embarcados e desembarcados ocupa o primeiro lugar com 42,4%, logo seguido do Funchal com mais de 417 mil – 36% da totalidade. (ver mapa).

Portos nacionais (por região)    N.º passageiros embarcados /desembarcados    
%
Norte    108.626    9,4
Lisboa e Vale do Tejo    492.438    42,4
Algarve    17.278    1,5
R. A. Madeira    417.730    36,0
R. A. Açores    125.057    10,8
Total    1.161.129    100,00

Segundo a PA estão previstas duas dezenas de escalas no porto de Ponta Delgada, nos meses de novembro (13) e de dezembro (6).
Há, de fato, um crescente número de navios de cruzeiro no arquipélago (ver gráfico de escalas), mas esse aumento, não se traduziu no aumento de visitantes.
As razões podem estar no receio gerado durante a pandemia. Mesmo assim pode haver  fatores sócio-económicos e políticos, como as guerras, que inibam os grandes mercados emissores de optar pela viagens de cruzeiro.
Até há pouco, os navios de cruzeiro eram fortemente contestados por grupos ambientalistas. Todavia, os armadores procederam à substituição dos combustíveis fósseis, adaptando ou construindo novos equipamentos navais, pelo que a questão reside agora noutras condicionantes. Uma delas, como disse, é a guerra e a instabilidade originada por conflitos sociais e pelo terrorismo. Foi assim na Primavera Árabe, que afetou os mercados turísticos do Magrebe.
A Associação Internacional de Companhias de Cruzeiro, face à recuperação deste tipo de turismo, previu em junho do ano passado que, no ano corrente, o número de cruzeiros na Europa ultrapassaria os 48 milhões de passageiros – um acréscimo de 26% face aos 38,6 milhões de passageiros previstos para 2022. Resta saber se tal se concretizará.
As viagens marítimas hoje são tempos de lazer em luxuosos espaços de diversão, ao contrário do que ofereciam os velhos paquetes que por aqui passavam transportando emigrantes da Europa para a América do Norte. Recordo que os navios de transporte de carga e passageiros mais antigos remontam ao século 19. Eram equipamentos rudimentares, com condições de salubridade muito precárias e os próprios passageiros tinham de prover a sua alimentação.
Situações não muito diferentes dos navios de transporte de passageiros que navegavam pelo arquipélago nos anos 40 e 50 do passado século.
Hoje, os luxuosos transatlânticos dão uma movimentação e colorido aos portos e dinamizam a restauração e similares. Bom seria que o comércio tradicional tivesse uma diferente visão sobre os interesses de consumidores estrangeiros oriundos de países ricos.
Não se percebe como, em domingos e feriados, permanecem encerrados os estabelecimentos da zona histórica de Ponta Delgada, quando é usual um passageiro levar consigo um “souvenir” da terra que visita.
Contra um certo descrédito e até críticas de agentes económicos locais, convinha que as entidades representativas do setor esclarecessem a opinião pública sobre: quais os benefícios que advêm deste negócio, quais as suas mais valias, quem e como se pode lucrar com ele, enfim, que ações desenvolver para que o empresariado açoriano tire maiores proventos e o nosso destino seja ainda mais reconhecido e valorizado.
São temas que o Encontro Regional de Turismo dos Açores, a decorrer estes dias na ilha do Pico, não deixará de abordar.
No próximo ano, só em abril, segundo a PA estão agendados 28 navios de cruzeiro em Ponta Delgada e, em certos dias, haverá 3 escalas. O tema, porém, respeita a todas as ilhas devido aos cruzeiros temáticos.
2. Repondo a verdade
A passada semana, na sequência da apresentação da “Agenda Cultural” critiquei a informação e a tradução transmitida pelo site https://www.whatsoninazores.com/, julgando tratar-se da página da iniciativa governamental.
Lá encontrei textos mal escritos e mal documentados, imprecisões e uma má tradução do inglês para português. Por tudo isso concluí tratar-se de “demasiados erros para uma iniciativa oficial” e “um mau serviço público”.
A crítica não é correta pois a página da agenda cultural não é aquela mas sim a “Azores What’s On”. Esta é uma plataforma em formato de aplicação e “website” que visa promover “as dinâmicas turísticas, culturais e sociais, (...) e todas as iniciativas institucionais.”, nomeadamente eventos, desde a música ao teatro, do desporto aos festivais, da gastronomia à educação, entre outros.”
Existindo, no entanto, a Agenda Cultural (http://www.culturacores.azores.gov.pt/agenda/) e a Visitaçores (www.visitazores.com) - website oficial de turismo dos Açores, não compreendo qual a necessidade de mais um website e aplicação, quando todas essas informações poderiam ser integradas ou ligadas entre si num único endereço/espaço digital, complementando a informação prestada. Optou-se pela dispersão o que, a meu ver, não traz benefícios aos utentes.
Já dizia o filósofo Ockham: “Não se multiplicam entes sem necessidade”.
Ficam o pedido de desculpas e o reparo.

José Gabriel Ávila*

*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com

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