Diário dos Açores

A claridade idealista respeita a sombra da prudência

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M e m o r a n d u m

1 – “o silêncio é um amigo que nunca trai” (Confucio)
Vivo cada vez menos apetitoso para observar o desassossego carnavalesco do actual desfile dos palhaços da política planetária. O tempo continua a correr à nossa frente, porventura com receio de ser “apanhado” pelo nosso passado…   Todavia, sempre que posso, gosto de saudar o passado para recordar alguns dos modestos saberes que comecei a “digerir” na estimada aventura de trabalhador-estudante, (Bristol Community College e UMass/ Dartmouth -1986/1997) e também na Chapman University - Orange, CA. (1999-2003).
Naquela época, resolvi aderir ao pensamento de Confúcio, segundo o qual “o verdadeiro saber está em aceitar que não somos conhecedores de todas as verdades do mundo. Ter a humildade de reconhecer a ignorância é um grande gesto de sabedoria”. Aleluia!
E assim tem sido. Continuo a respirar  como mero aprendiz da Vida, trazendo colados à pele da ignorância os bem-vindos respingos da sabedoria clássica herdada dos apóstolos do gigantismo intelectual:  Aristóteles, Einstein, Antero, Rousseau, Voltaire -- tudo isso com o cuidado de não balbuciar comentários aderentes à obra “clandestina” do filósofo francês, Denis Diderot.
Vamos continuar viagem sob o orvalho das verdades escondidas. A União Europeia parece muito intimidada para celebrar com alegria o famoso Tratado de Roma (Março 25, 1957).  Temos aprendido que, após o final da I Grande Guerra Europeia, as três causas mais salientes da II Guerra mundial foram o fascismo italiano, o militarismo japonês, sobretudo o mau exemplo do partido Nazi alemão (escrevo ‘nazi’ para contentar o estilo português europeu; no estilo luso-brasileiro teria de usar a expressão ‘nazista’). Ora, continua sendo válido não esquecer que os maiores conflitos europeus (século XX) foram resultado de conflitos civis entre os vizinhos Alemanha – França…   
Ultimamente, a (des)União Europeia continua a digerir o ‘vai-vém’ do Brexit. Imagino que nem todos recordam as sugestões apresentadas por Churchill (aquando do famoso discurso, na Zurich University): “…no futuro, seria boa ideia criar United States of Europe”.  Enfim, estamos apenas a lembrar que a maior parte dos cronistas da minha geração são seres humanos sofredores de asneiras acontecidas antes do respectivo nascimento…
Continuo crente no bom-fim da nossa jornada existencial. Seja-me permitido mencionar o desabafo, cujo autor desconheço: “a arte de ser sábio é a arte de saber o que ignorar”. Daí terá chegado, porventura, a teoria católica, segundo a qual a virgindade não aparece como oposição à vida sexual; aliás, a doutrina social da igreja, que glorifica a teologia da libertação, não detesta o chamado socialismo utópico - inspirador do acordo romântico da divisão social em três classes: sábios, proprietários, e não proprietários.  Já viram? Afinal, sou membro da última étape…
Com a devida prudência verbal, não faz mal lembrar que, quando Jesus nasceu, já havia vida humana há cerca de dois milhões de anos…  Vamos continuar:  aquando da descoberta dos nove miolos vulcânicos (no centro do oceano atlântico-norte), ninguém falava na futura ‘morada de heróis’; além disso, naquele tempo, não havia fumarada do fermento separatista…
Posso continuar? Vejamos: naquela época, ninguém desconfiava da futura existência do chamado ‘ferment methane’ – gás intestinal resultante da peidorrada das vacas leiteiras, graciosas aliadas do verdecer micaelense…
Ora, por um triz, já quase esquecia o breve (humoroso) comentário alusivo ao sentimento separatista açoriano, descoberto em 1975.  Usando o estafado estilo metafórico, vou subscrever a hipótese apresentada pelo saudoso primeiro-ministro, Francisco Sá-Carneiro, o qual chegou a sugerir que o recém-nascido micróbio separatista (1974-80) fora diagnosticado na maternidade centralista lisboeta, porventura amedrontado pela proximidade da cruel Trindade ‘cunhal-foice-martelo’.  Só mais tarde, a diaspora lusófona começou a suspeitar das negociatas entre o PCP português e o PC da União soviética (roubo selectivo do espólio do arquivo da PIDE). Entretanto, os arautos da virgindade abrilista procuravam entoar a conhecida cantilena ideológica:
“… de pé! – ó vítimas da fome, não mais, não mais a servidão,
pois não há força que dome, a força da nossa razão”.
 
2 – “… a ignorância e o vento são ambos o maior atrevimento”
Falo por mim: a comunidade açoreana  parece receosa de enfrentar a morte,  porventura devido à suspeita de que o céu está repleto de santos – sem espaço disponível para competir com os atiradiços do subsídio europeu;  os cruzados do narcisismo ‘tipo facebook’ não amam quem não lhe garanta reciprocidade; e há quem nos alerta para o facto de que a boca do ganancioso  só se fecha com terra da sepultura…  
E pronto! Continuamos a suportar o luto político imposto pela ditadura da necessidade, que separa vontades, neutraliza inteligências, e acicata desconfianças…  Apetece recordar algumas palavras do sábio Einstein: “o mundo não está ameaçado pelas pessoas más, mas sim por aqueles que permitam a maldade.”
Vamos aceitar a divina tarefa de viver:  estamos ainda a bom tempo para “descobrir o bem oculto em todo o mal”.  Relembro que, há mais de três décadas, comecei a alertar a opinião pública para o facto de que os “cavalos de tróia” das drogas ilegais estavam a penetrar o hímen existencial da autonomia regional. Enfim, haja paciência: não se fica credor de qualquer prémio, pelo facto de ser o mais alto anão duma equipa rasteira…  
Vamos em frente, mesmo que tenhamos de avançar, espiritualmente, a pé!    

João-Luís de Medeiros*
* O autor do texto permanece fiel à antiga grafia

 

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