Diário dos Açores

Encontros com a Educação 8 de Novembro

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Há um ditado muito antigo que diz PRAEVENIRE MELIUS EST QUAM PRAEVENERE (é melhor liderar do que remediar). Para bom entendedor, meia palavra basta ou, ainda, para qualquer professor português, há 25 anos a esta parte, sabemos perfeitamente como traduzir este ditado tão antigo, mas tão familiar: A Educação, em Portugal, em particular nos Açores, está um caos e não foi por falta de avisos, alertas, previsões de várias partes, especialmente da classe docente.
A Educação, no nosso país, é vista não como um investimento fundamental, no desenvolvimento do país, mas como um gasto, algo em que ‘infelizmente’ temos que gastar ‘algum’ dinheiro para calar as bocas de alguns insatisfeitos que não têm mais nada que dizer.
A classe docente, que devia ser a mais reivindicativa e ativa da sociedade, por ser a detentora do saber e do conhecimento, foi dividida, silenciada, menosprezada e desautorizada, aparecendo, à sociedade, como uma espécie de cidadão que reclama sem ter razão.
Eis-nos chegados à 3ª década do século XXI, e o que encontramos, na Educação Portuguesa? Uma Escola Vazia: VAZIA de autoridade, de prestígio, de reputação e, naturalmente, vazia de professores.
Quem quer abraçar uma profissão cada vez mais exigente, complexa e intricada como esta? Quem quer ser rebaixado, humilhado, ser tratado como um burocrata, trabalhar horas infindáveis, sem lhes ser reconhecido este trabalho? Quem quer se sujeitar a mudanças e alterações no sistema educativo, sem ser consultado? Quem quer trabalhar de forma honesta, responsável e consciente, fazendo- se ouvir nas questões prementes do processo educativo, mas aparentemente, sempre sem ser escutado? Quem? Ninguém. Este ninguém, ultimamente, traduzindo-se numa média de 200 a 300 pessoas, heróis ou inconscientes ou os dois, que avançam, mas que não conseguem suprir a saída de 3000 a 3500 docentes, em fim de carreira, por ano.
Porque chegamos a esta situação, 50 anos depois da reimplementação de um regime democrático, apoiado num documento de princípios, valores, direitos e deveres, onde a Educação é não só considerada um dos pilares desta própria democracia, como um direito inalienável de todo e qualquer cidadão que nasça ou viva no nosso país? Como é possível, passados estes 50 anos, duvidarmos da importância da Educação e da relevância dos professores, seja qual for o nível de docência que exerçam? Qual é o país ou governo que coloca, conscientemente, em risco, o desenvolvimento e o progresso do seu país? Quais as razões? Infelizmente, só podemos encontrar uma razão para isso. A mesma razão que manteve o mesmo país e povo na ignorância por 48 anos, não permitindo e não se responsabilizando por dar educação, formação e formas de combate à sua população para que se desenvolvesse e conseguisse viver de forma digna, consciente e responsável, tendo uma intervenção ativa e eficaz nas decisões e destino da sua nação. A razão, caríssimos, é sempre a mesma: manter o poder a qualquer custo – a custo da dignidade, da liberdade, da escolha, da intervenção deste mesmo povo.
Um povo educado é um povo interventivo; um povo pensante; um povo capaz de escolher, dar e retirar a capacidade de governar a quem ele, livremente e democraticamente, escolheu para, naquele momento, dirigir os destinos da nação.
Um professor, no mínimo, fará toda a diferença, nesse cenário. É ele que possui as competências para poder transformar, evoluir, desenvolver as capacidades nos outros, para que estes possam intervir e mudar o que é necessário, mudar para a concretização de uma sociedade igualitária, valorativa, qualificada, apta e preparada a enfrentar todos os desafios que este século e este tempo exigem.
Se daqui a 10 anos, não tivermos mais médicos, não teremos saúde…
Se daqui a 10 anos, não tivermos mais engenheiros, não teremos mais construções…
Se daqui a 10 anos, não tivermos mais advogados, não teremos mais justiça…
Se daqui a 10 anos, não tivermos professores….
Não teremos mais médicos, nem engenheiros, nem advogados…
Não teremos mais nada… e não seremos mais nada! Não teremos uma nação, não teremos um país, nem precisaremos deles… pois não seremos nada, não questionaremos nada, não quereremos nada e se o quisermos, faremos como os nossos pais e avós fizeram ou como, ultimamente é ‘giro’ dizer de forma inconsciente e irresponsável: teremos de ‘sair da nossa zona de conforto’…
Entre os anos 50 e finais dos anos 60 do século passado, mais de meio milhão de portugueses, sem qualificações a maior parte, saiu de Portugal, por razões económicas, sociais, políticas ou até mesmo militares, em busca de uma vida melhor para si e para os seus. Entre 2011 e 2015, mais de meio milhão de portugueses, com qualificações superiores e altamente especializadas, saiu da sua zona de conforto, porque não encontrava espaço (não lhe deram espaço) para poder investir tudo aquilo (e muito) que o seu país lhe deu como formação e educação e, assim, nestas circunstâncias, foram aplicar, produzir e desenvolver as suas competências noutras paragens. Pelos vistos, o país deles, Portugal, não tinha espaço, lugar ou necessidade para eles. No que diz respeito à carreira docente, além de tudo o que foi dito anteriormente lhes se aplicar, foi retirada a possibilidade de formar professores, porque estes não eram necessários, havia muitos (eram mais do que as mães). Assim, agora, se perguntarem onde estão os professores portugueses em falta, estes estão, exatamente, onde os outros especialistas portugueses estão: na Europa, na América, em África e, alguns, no Oriente. Em Portugal e nas Regiões Autónomas é que não. Aqui não fazem falta. Aqui, qualquer um ‘pode ser professor’. Termino como comecei: Há um ditado muito antigo que diz PRAEVENIRE MELIUS EST QUAM PRAEVENERE.

DIXIT.

Judite Barros*

*Professora do Ensino Secundário

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