Diário dos Açores

“Tivessem eles comido mais pão com queijo”

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“Não é o castelo de areia a coisa mais importante na brincadeira da criança. O mais importante é a imagem de um castelo de areia que a criança tem na cabeça antes de começar a construir o castelo. Por que outra razão você acha que ela destrói com as mãos o castelo que acabou de construir?”
Jostein Gaarder

Quando as crianças brincam, fazem-no sem receios, sem medos de represálias e sem pensamentos menos positivos. São felizes, por norma, são que aquilo que querem ser e isso basta-lhes. Enquanto a minha filha brinca num parque infantil, aprecio isso mesmo e a melancolia é tal que preciso desviar o olhar.
No mundo dos adultos não é bem assim, já sabemos, por isso ficamos tão encantados a ver as crianças a brincar. Os adultos vivem reprimidos, geralmente, numa rotina que nos aprisiona e não nos permite ver, com olhos de ver, os nossos filhos a crescer.
Às tantas, já não sabemos quem somos sem eles, só por eles, entre refeições, marmitas para preparar para a escola, roupas para lavar, secar e arrumar, e ainda as que não servem, que são aos montes e precisam de ser arrumadas algures num canto da casa.
Depois vem a hora de contar uma história antes de eles dormirem, com um olho aberto e outro fechado, e ficamos com a esperança que no dia seguinte seja diferente. Mas não é. Nunca é!
Há bastante tempo, disse-me uma cliente que aproveitasse bem a minha filha, que nem imagino como passa depressa. E para fundamentar bem esta ideia, acrescentou que repetidas vezes diz ao seu marido “tivessem eles comido mais pão com queijo”, que é o mesmo que dizer que mais tempo teria ela para os filhos e não tanto para o fogão e para as panelas! E como é verdade!
Que raio de sistema vivemos em que os nossos filhos são depositados mais de oito horas na escola porque os nossos trabalhos assim o exigem?
Onde estão os apoios diretos às famílias que trabalham e descontam, que contribuem para a natalidade responsável e ambicionada? A parentalidade que não pensa apenas nas panelas a mais que mais um elemento no agregado familiar pode trazer, como dizia uma professora dos meus tempos de menina!
Onde estão os apoios à natalidade quando as grávidas têm que pagar exames e análises do seu bolso, se quiserem um acompanhamento decente, e a outros que pouco se esforçam tudo isso, e muito mais, é oferecido, na tentativa de minimizar danos? Sejam eles quais forem, sejam eles pagos por quem for! E vamos nisso!
A quem trabalha tudo é custeado, mas o que nos custa mais é o tempo que perdemos não estando com os nossos filhos, não fazendo o que mais nos apaixona.
É isso que somos hoje em dia. Não tenho a solução, se calhar ninguém tem, mas sou, como tantas outras pessoas, vítima da pressão de ser mulher, esposa, mãe e funcionária e em todas estas facetas com um grande sentido de responsabilidade!
É muito difícil sermos bons em tudo, aliás: impossível. Por isso, vamos remando contra os dias sempre a tentar que seja tudo melhor do que ontem, e esquecendo-nos que, na realidade, o mundo está construído assim, sendo realmente necessário alterarmos a nossa vida à escala das nossas famílias e ajudando as outras à nossa volta tanto quanto possível.
Sonho com o dia em que a carga horária laboral seja mais baixa, e atenção que adoro o meu trabalho, mas conseguir ser uma mãe mais atenta e disponível, o que – aliás – só trará vantagens em tudo o que estiver à minha volta.
Entretanto, aprendamos a ser felizes, sabendo apreciar os nossos filhos a brincar no parque infantil ou a jantarem um bom naco de pão com queijo e sumo de pacote!

Bom domingo!

Patrícia Carreiro*
* Diretora da Livraria Letras Lavadas

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