Diário dos Açores

Que trabalho é ser-se mulher!

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16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência Contra as Mulheres

É óbvia a constatação do número de horas despendido pelas mulheres na realização de tarefas domésticas, para além do número de horas já despendido no trabalho. Mas a constatação é subjetiva, pelo que trago hoje um conjunto de evidências para se fazer a devida reflexão.
De acordo com um estudo levado a cabo pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, em Portugal as tarefas domésticas continuam a ser maioritariamente executadas por mulheres. Cada dia teria de ter mais 4h para que as mães conseguissem conciliar bem a profissão e a família. 
Dados da Pordata mostram que se ao tempo despendido a cozinhar for somado o tempo dedicado, pelas mulheres, a prestar cuidados à família ou a desempenhar outras tarefas domésticas, conclui-se que estas exercem, por mês, mais de dois dias de trabalho não remunerado do que os homens.
Esta sobrecarga sobre a mulher começa pela ideia enraizada de que as tarefas da casa e o cuidado dos filhos estão para a mulher e de que a participação do homem nas mesmas é “uma ajuda”.
É aqui que a mudança tem de começar! Tudo começa com uma mudança neste chip cultural, incutido ao longo de muitos anos, e na educação dos mais novos, motivando-os a participar na construção desta igualdade, observando e absorvendo modelos exemplares.
Mas há questões que ainda nos colocam muito aquém dos homens, no que diz respeito ao trabalho.
Os dados do último relatório único do Observatório do Emprego revelam as desigualdades salariais entre mulheres e homens nos Açores, com as mulheres a auferirem uma remuneração média inferior à dos homens que varia entre 92,43€ e 706,60€, no caso dos quadros superiores.
Ou seja, ser mulher é estar sempre em desvantagem quer no trabalho remunerado, quer quando chega a casa e tem à sua espera mais horas de trabalho não remunerado, apenas porque tem sido sempre assim…
Isto para não falar da quantidade de mulheres que têm de abdicar da sua carreira para exercer o papel de cuidadora. Em Portugal, segundo dados da Pordata, 1 em cada 3 mulheres que estão fora do mercado de trabalho, não trabalham para cuidar da família. 
Como se isto não bastasse, no ano passado, em Portugal, 1400 mulheres grávidas ou a amamentar ficaram sem contrato por falta de renovação, foram dispensadas em média 3 trabalhadoras por dia nestas condições. 
São estes números que mostram claramente que são as mulheres as mais penalizadas no mercado de trabalho e que têm de decidir entre o seu sustento ou adiar sucessivamente a maternidade. 
Todos estes factos são assustadores porque vemos como se traduzem em casos reais. É preciso alterar mentalidades e criar as condições para reduzir esta desigualdade, que permanece ainda nos dias de hoje. 
Cabe-nos a todos e todas fazer este caminho! 

Jessica Pacheco *
*Enfermeira

Campanha 16 Dias pelo Fim da Violência contra as Mulheres 2023

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