Diário dos Açores

Mulheres históricas na área da deficiência

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16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência Contra as Mulheres

Maria Montessori (1870 -1952), foi logo o nome em que pensei, quando comecei a desenhar este artigo. Montessori foi a primeira médica da Itália, e através do seu contato com crianças e em particular com as ditas crianças “especiais”, desenvolveu diversas técnicas para a educação infantil. Teve influência de grandes autores teóricos como: Pestalozzi, Froebel e Rossoeau, que como ela acreditavam que a criança aprendia por meio do amor do educador e não através do medo do mesmo. A ideia fundamental em que se baseia a obra pedagógica de Montessori é, a necessidade de um local (ambiente) adequado para que as crianças desfrutem e que de facto, possam viver e aprender, consoante este espaço de oportunidade.
Montessori foi inovadora e progressista coma sua pedagogia, dentro do movimento designado de Escola Nova, ao criticar os métodos adotados na sua época, considerados tradicionalistas, devido ao desrespeito para com as crianças, pois não atendiam às suas necessidades nem aos processos que estas passam no decorrer do seu desenvolvimento. Na visão desta educadora a educação que era dada na sua época, não era adequada ás crianças, ou seja, o modelo de educação adotado como tradicionalista estava “entranhado” de autoritarismo, no qual as crianças não eram direcionadas no processo de aprendizagem. Montessori rapidamente percebeu que era necessária uma nova educação construtiva no espaço escolar, tendo sido pioneira nesse sentido. Desde as adaptações que fez nos móveis das escolas italianas, onde serrou os pés das mesas e cadeiras, para ficarem adequadas à altura das crianças mais pequenas, até à organização das suas propostas pedagógicas. Montessori fez despertar a criança para o seu verdadeiro potencial tendo em conta a etapa do desenvolvimento em que se encontrava, e que tinha como ponto focal e objetivo, tornar a criança independente e feliz.
Anne Sullivan e Hellen Keller foram outras duas mulheres cujos nomes afloraram quase que de imediato na minha memória, não só pela importância dos seus trabalhos,, mas também porque são figuras de referencia e incontornáveis na área da deficiência e do ensino especial.
Helen Adams Keller nasceu a 27 de junho de 1880, no Alabama, Estados Unidos. Proveniente de uma família com uma boa condição financeira. Em 1882, Helen Keller contraiu uma doença designada por “febre cerebral”, que a deixou sem visão e sem audição. A sua dificuldade em comunicar fez com que ela fosse considerada uma criança mal-educada e rebelde. Com 7 anos de idade, Helen Keller já tinha desenvolvido uma língua própria, com mais de 60 sinais.
No Instituto Perkins para Cegos, em Boston, Hellen Keller foi aluna de Anne Sullivan onde manteve a relação professora/aluna durante 49 anos, possibilitando a que Helen Keller conseguisse expressar-se, interagir e dar um enorme contributo na edificação de uma nova realidade no ensino especial. Contudo o começo desta longa relação entre a professora e a aluna, não foi fácil. Anne Sullivan tentou ensinar ortografia, mas a pequena Helen Keller não compreendia o sentido daqueles sinais que lhe eram transmitidos. A família Keller acompanhou sempre de perto este processo educativo, mas por sentirem dificuldade em interagir com a filha, acabavam sempre por não persistir, desistindo dessa comunicação. Anne Sullivan percebeu que esse facto não estava a facilitar o seu trabalho, exigiu então que as duas fossem isoladas de todos durante algum tempo para que conseguissem chegar a um melhor resultado. 
Professora e aluna, mergulhadas num mundo onde a comunicação era realizada apenas por gestos, Helen Keller e Anne Sullivan começaram então a entender-se. A professora passou dias tentando que Helen fizesse a ligação entre objetos e as letras e, depois de inumeráveis tentativas, Sullivan colocou uma mão da criança na água fria, enquanto na outra, soletrava a palavra “água”. Através deste método finalmente, a aluna entendeu e repetiu a sequência das letras na mão da sua professora. Não ficando satisfeita e com a avidez de conhecimento, Helen Keller começou a tocar em todos objetos pedindo para que a professora lhe ensinasse o nome de todos eles. 
Helen Keller foi nomeada para Nobel da Paz em 1953, quinze anos após a sua nomeação, faleceu. Deixou um legado de 87 anos de trabalho, persistência e muita esperança, sentimentos esses que devem ser preservados por todas as pessoas com deficiência no mundo e que se encontram salvaguardados, hoje em dia, em documentos basilares como a Convenção sobre os direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada em Assembleia Geral das Nações Unidas a 13 de dezembro de 2006 e ratificada por Portugal em 2009. Mais recentemente documentos como A Estratégia sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência - 2021-2030, da Comissão Europeia, e a nível regional a Estratégia Regional para a Inclusão das Pessoas com Deficiência nos Açores - 2023-2030, são o garante e o reconhecimento da necessidade de reforçar, capacitar e inovar um conjunto de políticas públicas para a inclusão das pessoas com deficiência, apresentando-se como instrumentos de inteligência coletiva social na redução e eliminação de desvantagens e limitações na concretização dos direitos e do exercício de cidadania das Pessoas com Deficiência.

Rui Filipe Cabral*

*Licenciatura em Educação Especial e Reabilitação

Campanha 16 Dias pelo Fim da Violência contra as Mulheres 2023

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