Diário dos Açores

Eleições Antecipadas

Previous Article Governo dos Açores entregou equipamentos de manutenção e limpeza de espaços públicos no âmbito do programa “Eco-Freguesia”
Next Article Leonor Januário e Rui Cansado recebem galardão da Federação de Ginástica de Portugal Leonor Januário e Rui Cansado recebem galardão da Federação de Ginástica de Portugal

Enquanto um governo dos Açores em gestão, por conta de eleições antecipadas no início de fevereiro próximo, entrou em despudorada campanha eleitoral, aproveitando-se abusivamente da sua condição de governo, os principais agentes económicos de pressão sobre o poder político entraram simultaneamente em ação, aproveitando-se abusivamente neste caso desse poder económico para se tentarem sobrepor ao sistema político democrático.
Assim, aí tivemos esta semana o presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada, circunstancialmente coadjuvado pelo presidente da Associação Agrícola de S. Miguel, a recomendar aos eleitores uma “maioria estável” e um “bom governo” como resultado do escrutínio de fevereiro.
Um “bom governo” que concretamente decretasse ainda mais benefícios fiscais em sede de IRC e que se recusasse a decretar mais qualquer acréscimo regional ao salário mínimo nacional…
Para quem ostraciza o “ir e vir dos políticos” e chama aos partidos: “grupos de interesse, que põem em risco as atividades económicas e os serviços públicos”, eu diria que estaríamos então, paradoxalmente, na presença de mais um grupo de interesses, travestido de partido político a preconizar como única e legítima, embora pouco democrática, maioria política estável: aquela que é favorável ao grande patronato, contra a melhoria dos rendimentos dos trabalhadores e contra a distribuição mais justa da riqueza na sociedade. É caso para dizer que destas maiorias estamos todos nós cansados, pois sejam em tons laranja ou rosa, ou agora, mais atrevidos e recauchutados, em tons de azul e amarelo, é esta política no essencial que aos açorianos tem sido servida nas últimas décadas…
Para o escrutínio de março, aí está, carimbado de esquerdista (até de comunista em certos casos) um novo líder do PS, o homem que já fechou acordos com a ala mais direitista do seu partido (Francisco Assis) e a quem os respetivos conselheiros já determinaram uma aproximação aos valores do centrão. Caso o PS vencesse em março com uma nova maioria absoluta de deputados, este pendor político certamente se afirmaria na senda da última maioria de António Costa e do seu último orçamento de estado, cuja aprovação foi preparada e consentida pelo Presidente da República e pelas direitas. Para que o novo líder dos socialistas se comporte em coerência com o perfil de esquerda que lhe é atribuído e para que a democracia portuguesa se consolide, será necessário acima de tudo que ganhem força no escrutínio de março as forças à esquerda do PS, nomeadamente o PCP (atualmente 6 deputados) e o BE (atualmente 5 deputados). É uma afirmação que pode não ser imediatamente compreendida, mas que penso constituir a única forma de, no futuro imediato, inverter políticas no país, voltando a aproximá-las da via socialmente justa preconizada pela Constituição da República Portuguesa e pela Revolução cujo cinquentenário se irá comemorar pouco tempo depois de 10 de março.
Quanto às direitas, a bola por enquanto está nos jogos de treino entre equipes da casa, para ver quem passa a integrar a equipa A. Por mais que mudem o discurso de acordo com as conveniências eleitorais, as maiorias que conquistem serão sempre da mesma qualidade das preconizadas pelos grupos de interesse a que pertence o atual responsável da Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada.

Mário Abrantes

Share

Print

Theme picker