Diário dos Açores

Esperanças

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Opinião

Há duas formas de esperar: esperar sentado ou esperar caminhando.
Esperar sentado significa aguardarmos passiva e comodamente que a sorte e o acaso levem outros (mais capazes do que nós?) a alcançar os mesmos objetivos dos nossos anseios, isto é, não confiamos em nós próprios e nas nossas possibilidades de contribuir para chegar onde desejaríamos chegar.
Esperar caminhando significa o nosso reconhecimento de que para chegar onde desejaríamos chegar, torna-se necessário pôr pés ao caminho e cumprir a nossa parte, mesmo que no final de contas não consigamos atingir total ou parcialmente os objetivos em que depositamos as nossas esperanças.
Nos Açores, como no país e no mundo, estamos sendo cada vez mais induzidos a esperar sentados, e cada vez somos mais pressionados aberta ou subliminarmente para entregar os nossos anseios, o objeto das nossas esperanças, aceitando até mesmo a sua eventual reconfiguração, às capacidades exclusivas de uns poucos indivíduos, cada vez mais poderosos e menos escrupulosos.
E atentem a onde isso nos tem vindo a conduzir: 
A escalada da fome, da pobreza e do tráfico humano; o recrudescimento da violência, da indústria do armamento, da(s) guerra(s), da sua absoluta crueldade e desumanização (como espelha da pior forma a aterrorizadora invasão bélica da Palestina); o surto mundial de migrações descontroladas em busca do direito à vida, com centenas de vítimas diárias e fronteiras vedadas à sua entrada; a restauração da guerra fria e o choque mundial de interesses e conflitos de toda a natureza entre países, povos, culturas, religiões e etnias; a degeneração acelerada da civilização judaico-cristã, renegando valores, incluindo os da própria democracia,  tolerando e reabrindo portas múltiplas à extrema-direita, e abrindo feridas cada vez mais profundas nos direitos individuais e coletivos, especialmente de quem trabalha ou já trabalhou, ou, por via das privatizações e do culto do liberalismo económico, na prestação apropriada dos serviços públicos e no respeito pelos direitos dos cidadãos, como são exemplos instantes o da habitação ou o da saúde.
Confiantes que estão na falta de resposta ou na distração acomodada daqueles que esperam sentados, os autoassumidos guardiões do templo da liberdade e dos direitos humanos não esperam sentados para os irem paulatinamente violentando ou a poucando, em nome de interesses bem diversos.
2024 vem aí. Em Portugal, com o novo ano, virão três atos eleitorais e os 50 anos da Revolução Portuguesa de Abril de 1974. Todos estes eventos, não sendo únicas, constituem boas oportunidades para exprimirmos de forma ativa a nossa esperança na recuperação de valores e no alcance dos objetivos porque genuinamente ansiamos, onde se incluem os valores da liberdade e os direitos sociais, retirando, dessa forma, o ouro às mãos do bandido que deles, ilegitimamente e graças à nossa passividade, se têm vindo a apropriar. 
Com esperança ativa, inspirados pela passagem dos 50 anos da revolução, pugnemos por um novo ano com menos guerra e sofrimento dos inocentes, menos nublado e menos injusto para os que precisam e merecem a paz, a justiça social e uma vida melhor, mais digna e com melhores rendimentos.

Mário Abrantes 
 

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