Fajã João Dias, S. Jorge

Fajã João Dias, S. Jorge

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Em Parte Certa

“Há agora um caminho para a Fajã JoãoDias mas nunca lá fui”, escreveu-me o Onésimo [Teotónio Almeida].
O João de Melo, em “Açores, O Segredo das Ilhas”, apenas a enumera.
Não precisei de uma terceira razão para a visitar.
A saber:
(1) Acesso novo por estrada, inaugurado em Agosto de 2021. Convém conhecer o estado da estrada no dia da visita (ver pormenores mais à frente)
(2) Localizada na vertente Nordeste da Ilha, pelo que se recomenda ir de manhã (para as fotos, claro)
Numa bela manhã de Setembro tive o meu ponto alto de bom-senso: deixei o sucatinha* no miradouro da Fajã João Dias, do qual partia uma estrada de terra batida, com um sinal de declive 10%.
No mínimo, acho que era um declive optimista.
E assim o confirmou um jorgense - o Hugo - que por coincidência apareceu naquele preciso e precioso momento (i.e., antes de eu perder o bom-senso), num jeep, para levar umas pessoas à Fajã: “Desde que abriram a estrada já de lá tirei 3 ou 4”**.
O Hugo não hesitou em oferecer boleia (regressaria ao miradouro para me vir buscar, que o jeep já ia apinhado), e eu não hesitei em aceitar - e não me arrependi.
Esta gente é louca, apenas com um trilho já tinham construído (e reconstruído) várias casinhas lá em baixo.
Sem dúvida, enganaram-me quando me ensinaram que os romanos são loucos; Os jorgenses superam-os, não só em loucura como em valentia, já para não falar da sua inesgotável generosidade.
Lá apareceu novamente o Hugo, que me levou à Fajã e ma mostrou de uma ponta à outra, antes de me levar de volta ao sucatinha.
Fê-lo com um carinho sem medida, divagando sobre a sua História, as gentes, as habitações e o seu futuro, que também ele alimenta, reconstruindo várias antigas casas.
E poderia parecer uma coisa simples, este desce-sobe, mas apreciei cada curva, contra-curva, as hábeis manobras.
E as habitações, minúsculas, ajudavam àquela vertigem invertida, olhando lá de baixo para o alto da falésia.
No final desta aventura, o Hugo recusou aceitar qualquer tipo de gratificação, pedindo apenas algumas fotos da “sua Fajã bonita”, para que as possa mostrar a futuros visitantes.
Assim, às 11 horas dei o meu dia por feliz, embora não me tenha ficado por aí (mas isso é já outro episódio, o dos espinafres da Poça Simão Dias).

P.S. - Provavelmente irão encontrar por lá, entre 6ªf à tarde e Domingo à noite, o Hugo Arduim, mecânico dos Serviços florestais, que nesse período de folga trabalha na reconstrução da Fajã e no transporte de pessoas sortudas como eu. Pediu-me para divulgar os seus contactos, para quem quiser planear uma descida (que pode incluir estada na Fajã): garagemarduim@hotmail.com; telf: 912 521 582.

* Sucatinha: nome carinhoso que dei ao Toyota que aluguei (mui agradecida fiquei a quem gentilmente o permitiu, pois não estava nada fácil): 19 anos, pouco mais de 100 mil kms, mas com muita porrada em cima.
** As valas de escorrência das águas da chuva, transversais à estrada, já sofreram alguma erosão, principalmente nas cotas mais baixas, e tornam-se difíceis de transpor. Excepção para os 4x4 - conduzidos habilmente, claro.

 

 

 

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